Capítulo 11 - Coisas doces, coisas cruéis e as que precisam ser perdoadas

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No início, Sasuke e sua paixão eram invisíveis; se não isso, eram quase invisíveis: nada além de olhadelas dia ou outro nos corredores, conversinhas aqui, ali… coisas que Naruto sequer se indispunha a prestar atenção — coisas que Sasuke mal sabia que sorte tinha por isso. E que deveria ter ficado satisfeito.

Se antes Naruto só havia caçoado dele pelos corredores por conta da sua paixão impossível — rindo com quem mais estivesse na roda da fofoca, para ridicularizá-lo —, e se só se desfez de uma caixa de bombons, agora ele estava mais atrevido, empenhado na sua autoimposta função de carcereiro, de algoz — e que Sasuke não cruzasse mais o seu caminho, se não quisesse descobrir o que era bom pra tosse… Ai dele.

Porque dessa vez Naruto tinha uma puta carta na manga. Uma carta de qualidade 480p e com 5 segundos inteiros filmados na penumbra da madrugada. Uma carta que acabava com a estratégia de jogo de Itachi. Uma carta com o pênis de Sasuke projetado no que poderia vir a ser uma futura exposição pública.

As mensagens que Sasuke mandou a ele naquele fim de semana sequer foram visualizadas. Assim que eram notificadas, Naruto limpava a barra de notificações com um revirar de olhos. E quando percebia que era áudio, ele fazia questão de ir à memória do celular e apagá-los todos, um a um, como se estivesse encravando unha por unha de Sasuke com um alicate. Certa hora, no domingo, já não aguentando mais aquela agonia da incerteza, Sasuke ligou para ele. Não uma, nem duas, e antes fossem cinco, mas já somavam sete vezes, a princípio. Na décima oitava, com a boca salivando de raiva, Naruto atendeu. Mas nem deixou Sasuke falar muito antes de:

— Você por acaso é retardado? Para de me ligar! Para de me mandar mensagem!

— Naruto, calma! espera! eu só queria…

— Eu não LIGO, velho! Vai se foder! Saco! — E desligou abruptamente. Inspirando e expirando com mais leveza agora, começou a rir. Riu porque havia dito, ainda que brevemente, e nem sequer uma parcela de tudo que tinha guardado, poucas e boas a Sasuke. Riu porque, de alguma forma que estranhou, gostou daquela sensação.

Sasuke, porém, não havia desistido ali. Era óbvio. Entretanto, àquela altura, Naruto já não estava mais com tanta vontade de xingá-lo, então fez o que já deveria ter feito há muito tempo; e quando a nona ligação de Sasuke tocou, e o bloqueou do seu WhatsApp.

Porém ainda havia o Facebook, Instagram, Twitter… até no Grindr Sasuke conseguiu importuná-lo. Naruto continuou o bloqueando logo após as primeiras mensagens recebidas de cada app.

“Naru, escuta, eu só queria saber por que você está…”

“Deseja bloquear este usuário?” Haha, pode apostar.

“Por favor, Naru… Amor, só me…”

Block, block, block, hahaha.

“Eu tô… isso tá me deixando muito triste, Naru… eu… a gente tava bem ontem! Só me diz o que…”

Blo-que-a-do.

E assim seguiu aquele resto de fim de semana — Naruto rindo satisfeito, com leveza, quase que num choro de alegria ao poder respirar agora sem algo, alguém como que o enforcando com a sola do sapato; enquanto Sasuke passava o dia em melancolia pura, intercalando entre stalkear as fotos de Naruto e chorar; e Itachi, de perto, vivenciando tão sofregamente quanto o irmão a esses momentos.

Mas a segunda-feira, como sempre, surgiu, e Naruto sabia que não poderia simplesmente “bloqueá-lo” pessoalmente — uma dorzinha de cabeça irritante, mas bem melhor do que antes, com certeza. Sasuke, por sua vez, estava ansioso pela volta à escola: era a chance de conversar direito, de verdade, com Naruto, porque, vai ver, ele só estivesse com raiva ontem, e com Sasuke em cima dele não lhe deu o tempo que precisava para digerir o que quer que fosse o motivo daquela bronca toda. É, deve ter sido isso mesmo; viu só, Sasuke, vacilou! Era só ter dado um tempo a ele, burro, burro. Mas, tudo bem! agora era segunda-feira, ele já deveria estar com a cabeça no lugar. É, devia ser isso mesmo… É isso, Sasuke, agora sim. 

Chocolate Amargo   (sasunaru narusasu itasasu itanaru itaara gaanaru)Onde histórias criam vida. Descubra agora