Capítulo 7 - Dias contados (parte 1)

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Assim que o carro atravessou o cruzamento da rua em direção a uma avenida nem tão movimentada, Naruto começou a chorar. Sentiu o rosto ferver e os pulmões falharem com os soluços. Lágrimas salgadas, quentes, cachoeiravam por sobre suas bochechas. Através do retrovisor, Itachi pôde ver o quanto aquelas safiras de azul intenso dele fosforeavam tristeza na penumbra daquele veículo.

— Pare de chorar — ordenou Itachi. Naruto tentou. Esfregou os pulsos nos cílios pesados, desviou o olhar para além do vidro, querendo se distrair com qualquer outra coisa, querendo não parecer fraco, uma presa. Mas, só de pensar nisso, se sentia exatamente desse jeito, e voltava a chorar. — Já mandei parar.

Vinha à sua mente, a todo momento, como o pai dele o havia tratado perante Itachi: preferindo simpatizar com um estranho que com o próprio filho. Até a mãe, de forma mais dissimulada, fez o mesmo. Recordou-se das suas tentativas fracassadas de evitar o conflito, de tudo que tentara até aqui: fazer Sasuke desgostar dele, conversar com Itachi, mentir sozinho, mentir com Gaara, para Gaara, com Sasuke, para Sasuke… mentir para Itachi — seu maior erro.

— Isso mesmo — comentou Itachi quando as lágrimas de Naruto secaram. — Porque você fica horrível chorando.

Ele girou o volante para a esquerda, diminuindo a velocidade. Seguiu em frente.

— Agora — principiou Itachi —, não vai me agradecer pela carona de ontem? Por te trazer até em casa? — disse, com um mero sorriso no rosto. Naruto em silêncio. Itachi ordenou: — Agradeça.

— O-Obrigado.

— E por falar com os seus pais para deixarem você vir?

— O-Obrigado.

— Bom garoto.

Seguiram pela rua até um viaduto, e logo sumiram nele. Ressurgiram a 60km por hora, 3 minutos depois, do outro lado com um outro assunto, e um Itachi perversamente divertido.

— Seus pais até que são legais — comentou ele. — Você tem sorte. Deveria tratá-los melhor.

Naruto em silêncio. Como se já não bastasse, agora levava esporro de Itachi sobre seu comportamento, como um avô intrometido. Naruto desviou o olhar outra vez para a janela, suspirando. Talvez com receio de que aquele assunto com seus pais fosse uma ameaça, um aviso, quem sabe.

De repente, algo na fisionomia de Naruto, algo naquele cenário interior do carro, algo que faltava ali incomodou a Itachi.

— Cadê? — questionou ele.

Sob pupilas encharcadas, Naruto o olhou com desentendimento.

— O presente do Sasuke. Você esqueceu?

Naruto o fitou petrificado. Aliviou o semblante, querendo chorar de novo. Tanto ele quanto Itachi já sabiam a resposta para aquela pergunta.

— Você não comprou nada?

Respire fundo. Isso, pode apertar a barra da camisa, se for ajudar. Respire, desse jeito, assim. Calma, não chore. Não chore mais, isso. Sem choro. Se chorar, ele te bate.

Naruto, letargicamente, negou com a cabeça, voltando o olhar para além do vidro; os postes, as faixas de pedestre, as casas ficando para trás à sua visão. Ficando para trás.

Itachi, bufando pesado, incrédulo, de repente girou o volante, surpreendendo Naruto numa virada abrupta. Nem parecia aquele tão sereno motorista que Naruto achava conhecer.

Naruto não soube aonde Itachi estava o levando até estarem a duas ruas de chegada. Itachi o levara ao shopping, coisa que preocupou Naruto — Itachi não parecia tê-lo arrastado até ali por saber que ele adorava Big Mac's.

Chocolate Amargo   (sasunaru narusasu itasasu itanaru itaara gaanaru)Onde histórias criam vida. Descubra agora