Capítulo 13 - Itachi Uchiha cumpre uma promessa

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Os dias passaram, mas não a tristeza de Sasuke. A fase dos feitos grandiosos havia passado também, fazendo-o se contentar com as olhadelas fortuitas e desautorizadas que eram humildemente oferecidas a Naruto pelos corredores; com os “oi, Naru!” e os “hum, ei!” proferidos bem baixinho, de canto de boca mesmo, sempre que Sasuke tinha oportunidade, fosse na fila do refeitório ou coisa do tipo; ou então através dos bilhetes deixados pelo buraquinho do armário do Naruto — todos sendo rasgados, amassados ou queimados antes serem lidos. Além disso, Naruto prosseguia com o mesmo desprezo e ignorância às mensagens de Sasuke; aos pedidos de amizade e às solicitações de envio de imagem ou áudio nas redes sociais.

Por fim, Naruto conseguiu o que por muito tempo quis: que Sasuke passasse a ter raiva dele. Isso, além de um milagre, era tipo um sinal. E apesar de nem Naruto nem Sasuke perceberem isso, Itachi o fez. 

A partir desse momento, acabaram as investidas: os bilhetes, as olhadelas, os “ei, Naru, oi” e tudo mais. Sasuke aceitou finalmente que Naruto o estava ignorando, afinal. Decidiu ignorá-lo também, e não porque queria se vingar dele ou porque queria que Naruto sentisse sua falta — ao menos não no começo —; mas porque finalmente estava dando o tempo que achou que Naruto precisava.

Itachi observava isso tudo sem mais alardes, quase que com um certo comodismo, uma anestesia, talvez; ao passo que, em Sasuke, aquela cirurgia o dilacerava, como que sentindo cada poro da sua pele sendo esfolado, um a um até a sua alma. Itachi entendia que aquela era uma operação de risco, tipo a remoção de um tumor maligno que, talvez, o deixasse bem fodido depois… Mas que era necessária. 

Era terça-feira de manhã, agora — uma semana depois do primeiro dia de aula pós-festa-Uchiha; uma semana depois dos micos mais traumatizantes de Sasuke; depois de Itachi afirmar a Gaara que eles não tinha nada; depois de Gaara ter confrontado seu papel em sua amizade e depois de Naruto tê-lo inviabilizado em quase todos os argumentos, fazendo Gaara se sentir um idiota, um mimizentozinho. Era terça-feira, enfim; mais um ensaio no clube de teatro.

Desde a briga dos dois, Gaara e Naruto começaram a interpretar melhor. Vai ver fosse porque não passavam o ensaio todo distraindo um ao outro com brincadeiras. Mas isso ainda doía em Gaara, que não fazia questão de disfarçar tão bem quanto Naruto — esse sim usando aquela mágoa entre eles como combustível.

E Itachi estava particularmente inspirado naquele dia, após fortuitamente espiar o ensaio de hoje pela fresta da porta do auditório, para garantir que ainda teria tempo...

Depois das aulas de teatro das terças, vinham as de educação física — a pedra de Sísifo na terra para Naruto, que era sensível em quase todos os sentidos possíveis. Ele não gostava muito de usar perfume (só hidratantes), porque aquele cheiro forte de álcool irritava o seu nariz e o fazia espirrar como se estivesse tendo uma crise alérgica — talvez fosse mesmo. Naruto também não ouvia nenhuma música ou vídeo com o volume mais alto do que um sussurro, e evitava fones ao máximo.

Então, não foi difícil para o seu olfato resmungar do corredor mesmo.

Ele entrou no vestiário com desgosto. Detestava educação física. Enquanto ali, Naruto quis ignorar aquele cheiro estranho, porque, afinal, só tinha 5 minutos antes de levar outra ocorrência por fugir das aulas. De repente, quando girou a chave do seu armário na tranca, o cheiro ficou infinitamente mais forte. Sufocante. Naruto abriu aquela portinha e olhou. E saiu de perto para não vomitar.

Não conseguiu diferenciar seu uniforme de educação física da papa de tecido que aquilo virou; um amontoado de panos de chão que o tio da limpeza deveria ter posto ali por engano — panos tóxicos, certamente. Seus calçados, na parte baixa do armário, estavam afogados, inacreditavelmente afogados em mijo, que agora cachoeirava pelo armário debaixo. Até mesmo a camisa sem manga e a bermuda confortável às coxas de Naruto foram danificadas; a poça as consumia gradativa e terrivelmente, como uma tempestade que se forma num céu límpido; como uma gangrena no corpo.

Chocolate Amargo   (sasunaru narusasu itasasu itanaru itaara gaanaru)Onde histórias criam vida. Descubra agora