Capítulo II

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— Senhoras e senhores, prateados e vermelhos, bem-vindos à arena de batalha.

A voz do locutor ecoa pela arena, amplificada pelas muralhas. Soa entediada, como de costume, mas não o culpo por isso.
Antes as lutas estavam bem longe de serem disputas; eram simples execuções. Prisioneiros e inimigos do Estado eram transportados para cá, a capital, e mortos diante de uma platéia de prateados.

Acho que eles gostam disso, então começaram as lutas. Não para matar, mas para divertir. Foi então que se espalharam por outras cidades, para arenas e públicos diferentes. Com o passar do tempo, permitiu-se a entrada dos vermelhos, confinandos aos acentos mais baratos.

Não demorou para os prateados espalharem as arenas por toda parte, mesmo em vilarejos como este. A partipação dos vermelhos se tornou obrigatória. Dizem que cidades com arenas, os vermelhos cometem menos crimes e discordam menos do regime; até o número de atos rebeldes cai.

O primeiro a pisar na areia branca é apresentado como Wonho. O telão explode em cores para formar uma imagem nítida do guerreiro. Ninguém precisa dizer que é um forçardor. Os braços parecem com troncos de árvores.

Do meu lado, Nayeon está aos gritos, e outros aldeões rugem com ele. Um agente de segurança atira pães aos que gritam, para recompensa-los pelo esforço. Às minha esquerda, outro agente entrega um papelzinho amarelo brilhante para uma criança que se esgoela. É um lec, um vale de cota extra de eletricidade. Tudo isso para que torçamos e gritemos; tudo para nós forçar a ver, ainda que não queiramos.

— Isso mesmo, ele quer ouvir vocês! — o locutor quase boceja, forçando entusiasmo na voz. — E aqui temos seu oponente. Diretamente da capital, Samson Merandus.

Provavelmente um parente distante de alguém famoso tentando ganhar renome na arena. Parece um pedaço de madeira pálido ao lado do conjunto de músculos que era seu oponente. Mas sua armadura de aço temperado é boa e brilhante. Embora parecesse assustado, parece estranhamente calmo.

O sobrenome me parece familiar, oque não é difícil. Muitos prateados pertencem a famílias ilustres — chamadas Casas —, com dúzias de membros. A Casa que governa nossa região, é a Casa Welle, embora eu nunca tenha visto o governador Welle na vida. Ele nunca aparece mais de uma ou duas vezes por ano, e mesmo assim, ele nunca se rebaixaria a ponto de entrar em um vilarejo vermelho como o meu.

Vi uma vez seu barco cruzar o rio, uma máquina elegante com bandeiras auriverdes. Ele é um verde. Quando passou às margens do rio, as árvores floresceram e o chão se cobriu de flores. Achei bonito.

— O forcador leva, sem dúvida.
Nayeon observa o campeão mirrado.

— Como você sabe? Qual é o poder de Samson?

— Isso importa? Ele vai perder de qualquer jeito — zombo, preparando-me para assistir.

O gongo soa na arena. Muitos se levantam, ansiosos. Eu apenas permaneço sentada. Por mais calma que eu possa parecer, estou fervendo em raiva. Raiva e inveja. "Somos deuses" é a frase que ecoa na minha cabeça.

— Campeões, adentrem a arena.

Eles entram, pisando forte, um de cada lado. Armas de fogo não são permitidas, então Wonho puxa uma espada curta e larga. Dúvido que irá usá-la. Samson não puxa nenhuma arma, mal contrai os dedos.

Um zumbido elétrico baixo ecoa pela arena. Odeio essa parte! O som reverbera nós meus ossos e dentes, que latejam tanto que chego a pensar que vai quebrar. O ruído termina com uma campainha aguda. Começou.

Parece que irá ser um banho de sangue. Wonho avança como um touro, levantando areia atrás de si. Samson tenta desviar, usando o ombro para deslizar por trás do prateado, mas o forçardor foi mais rápido. Ele a agarra a perna do Samson e o joga pela arena, fazendo o guerreiro de armadura bater as costas contra a parede de cimento.

Os gritos da torcida encobrem o urro de dor que Samson solta ao bater na parede, mas o sofrimento está escrito na sua testa. Antes de se quer tentar levantar, Wonho já está em cima dele e o lança pelo ar. O campeão de armadura reluzente cai na areia parecendo um saco de ossos quebrados, mas se levanta, não sei como.

— Ele é um saco de pancada? — ri Nayeon. — Vai pra cima, Wonho!

Nayeon não liga para um pão ou para mais alguns minutos extras de eletricidade. Ela quer ver eles se matando. Ela quer ver sangue dos prateados, sangue prata manchar a arena. Não importa que o sangue seja tudo o que não somos, tudo o que não podemos ser, tudo o que queremos ser.

Não somos iguais e jamais seremos.

O líquido metálico escorre da boca até o pescoço de Samson. O sol do verão reflete-se nele como um espelho d'água, e pinta um rio correndo do seu pescoço até sua armadura

Está é a verdadeira distinção entre prateados e vermelhos: a cor do sangue. Está é unica diferença os tornam mais fortes, mais inteligentes e melhores que nós.
Samson cospe e mais sangue prata reluz na arena. Uns dez metros à frente, Wonho segura forte a espada, pronto para dar um fim à luta.

— Pobre coitado — murmuro.

Parece que Nayeon tinha razão: ele não passa de um saco de pancadas.

Wonho faz a arena tremer com seus passos. Espada na mão, olhos em chamas. Mas então ele para, com um pé suspenso, a armadura ressoa com a interrupção abrupta. No meio da arena, Samson aponta para o forçardor, o olhar do guerreiro parece capaz de partir ossos.

Samson move os dedos e Wonho caminha, perfeitame sincronizado com os gestos dele. A boca do forcador se abre como se ele não fosse bom da cabeça. Como se tivesse perdido o controle da mente.

Eu não acredito.

— Um murmurador

RED QUEEN - Imagine Mina (TWICE)Onde histórias criam vida. Descubra agora