Capítulo XVII

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Ela lança um olhar para o salão em festa, como se quisesse pescar alguma coisa. Me pergunto que rosto estaria procurando.

— Ele está aqui? — cochicho, tentando parecer contrita. — O garoto que voce escolheu?

Ela hesita para depois negar com a cabeça.

— Não, eu não tinha ninguém em mente. Mas seria legal poder escolher, sabe?

Não, não sei. Não tenho o luxo de escolher. Não tenho agora e nunca tive.

— Não é como o meu irmão. Ele cresceu sabendo que não teria voz no próprio futuro.

— Você e seu irmão tem tudo, princesa (S/N) — meus susurros saem fervorosos que poderiam ser uma oração. — Você mora num palácio, tem força, tem poder. Não saberia o que é dificuldade nem se ela te desse um chute na cara. E acredite: ela faz isso direto. Então, perdoe-me se não sinto muito por nenhum de vocês.

Lá vou eu, deixando a boca passar na frente do cérebro. Aos poucos, recupero o controle, bebendo mais água na tentativa de esfriar meus ânimos. (S/N), por sua vez, apenas me encara com olhos frios. Logo todo esse gelo começa a derreter à medida que o olhar da princesa se torna mais terno.

— Tem razão, Mina. Ninguém deveria sentir muito por mim.

Dá para ouvir a amargura na sua voz. Estremeço ao vê-la lançar um olhar sobre Baekhyun. Seu irmão mais novo está radiante como o sol, rindo junto ao pai. Quando (S/N) se volta novamente para mim, força outro sorriso, mas há uma surpreendente tristeza nos seus olhos.


~~×~~


A corte brinda no fim do banquete erguendo as taças na direção da mesa real. Aqui estão eles: grandes senhores e senhoras tentando arrancar algum favor do rei. Logo terei de saber identificar cada um deles, associar cada cor a uma Casa e cada Casa a seus membros.

(S/N) me sopra seus nomes, embora eu não vá me lembrar de nada amanhã. É chato no começo, mas logo me pego curiosa para ouvir.

Lord Samos é o último a levantar. Quando o faz, o silêncio toma conta do ambiente. Esse homem é respeitado mesmo entre os titans. Apesar do seu traje preto ser simples, costurado em seda comum, e de carregar grandes insígnias ou jóias, ele exala um inegável ar de poder. Não preciso que (S/N) me conte nada para saber que Lord Samos chefia a mais elevada de todas as Casas.

— Tristan Samos — sussura (S/N). — Chefe da Casa Samos. Possui e administra minas de ferro. Cada uma das armas usadas na guerra sai de suas terras.


Então ele não é apenas nobre. Sua importância vai além do título.


O brinde de Tristan é curto e direto.

— À minha filha — troveja em voz forte, grave e firme. — À futura rainha.

— A Ryujin! — Grita Christopher, erguendo-se de um salto para ficar ao lado do pai.

Seus olhos varrem o salão desafiando alguém a ir contra ele. Alguns parecem se incomodar, irritados até, mas erguem a taça como os demais para saudar a nova princesa.
As taças refletem a luz como pequenas estrelas nas mãos de deuses.

Quando terminam, a rainha Isabel e o rei Drake levantam, ambos sorrindo para os convidados. Baekhyun também fica de pé, seguido por Ryujin, (S/N) e, após um segundo de distração, me junto a eles. As muitas Casas fazem o mesmo em suas mesas. E o arrastar de cadeiras sobre o mármore soa como alguém cravando pregos numa pedra. Graças aos céus, o rei e a rainha simplesmente fazem uma reverência e descem os poucos degraus rumo à saída da mesa principal. Acabou. Sobrevivi à primeira noite.

Baekhyun toma Ryujin pela mão e ambos seguem atrás do casal real. (S/N) e eu vamos na retaguarda.
Os prateados nos cercam. Um silêncio carregado domina o ambiente. Rostos curiosos, ardilosos e cruéis nos observam — e por tras de cada sorriso educado, um lembrete: estamos de olho. Cada par de olhos me estuda dos pés à cabeça em busca de falhas, defeitos. Vacilo, mas não posso cair.

Não posso dar um escorregão sequer. Nem agora nem nunca. Sou especial. Sou um acidente. Uma mentira. E minha vida depende simplesmente de sustentar a ilusão.

— Está quase acabando — (S/N) chochicha à medida que nos aproximamos do fim do corredor. — Quase lá.

O sufoco passa quando deixamos o banquete para trás, mas as câmeras ainda nos seguem com seus olhos pesados e elétricos. Quanto mais penso nelas, mais forte fica seu olhar, ao ponto de conseguir saber onde estão antes de vê-las.


~~×~~


Sua agenda é a seguinte:
7h30— Café da manhã
8h— Protocolo
11h30— Almoço
13h— Aulas
18h— Jantar

Lucas vai acompanhá-la em todos os momentos. A agenda não é negociável.
Sua majestade,
Rainha Isabela da Casa Merandus


O bilhete é curto e direto, para não dizer grosso. Minha mente viaja só de pensar nas cinco horas de aulas me lembrando de como eu era ruim na escola. Gemendo, jogo o papel de volta no criado-mudo. Ele cai bem embaixo de um raio dourado do sol, só para me provocar.

Como ontem, as criadas entram no quarto silenciosamente. Passados quinze minutos de sofrimento com calças de couro justíssimas, um vestido drapeado e outras roupas estranhas e impossíveis de usar, decidimos pela coisa mais simples que consigo encontrar no armário das maravilhas. Uma calça firme e justa, um casaco roxo com botões prateados e botas cinza-claro. Apesar do cabelo brilhante e da maquiagem pesada, quase pareço eu mesma.

Lucas aguarda em frente à porta, batendo o pé no piso de mármore.

— Um minuto atrasada — diz assim que piso no corredor.

— Você vai ser minha babá todos os dias ou só até eu aprender o caminho?

Ele começa a caminhar ao meu lado e me guia com simpatia.

— O que acha?

— Acho que é o começo de uma longa e divertida amizade, oficial Samos.

— Penso o mesmo, Lady Titanos.

— Não me chame assim.

— Como quiser, Lady Titanos.

Perto do banquete da noite anterior, o café da manhã parece sem graça. A sala de jantar "menor" ainda é enorme, com seu pé direito alto e sua vista para o rio. A mesa, porém, está posta apenas para três. Para minha tristeza, as outras duas pessoas são Isabel e Ryujin. Já estão na metade da salada de frutas quando chego. Isabel mal me nota, mas o olhar penetrante de Ryujin basta. Os raios de sol refletidos em sua roupa metálica a fazem parecer uma estrela cintilante.

— Coma rápido — diz a rainha sem levantar a cabeça. — Lady Blonos não tolera atrasos.

De frente para mim, Ryujin esconde a risada com a mão.

— Você ainda tem aula de protocolo?

— Então você não tem? — Meu coração salta de alegria diante da perspectiva de não ter que aturar a presença dela na classe. — Excelente.







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