Capítulo XI

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Abro os olhos e me deparo com um policial me encarando do lado de fora da cela. Os botões de prata do uniforme brilham sob a luz fraca.

— Você tem que dizer à minha família onde estou — desabafo enquanto sento. Pelo menos eu disse que os amava, lembro, revivendo nossos últimos momentos.

— Não tenho que fazer nada a não ser levar você até lá em cima — responde ele, mas sem ser grosso. O policial é um poço de tranquilidade. — Troque de roupa.

De repente, noto que o uniforme meio queimado ainda pende do meu corpo. O policial aponta para uma pilha de roupas limpas próxima a grade. Ele vira de costas, permitindo-me ao menos uma vaga privacidade.

As roupas são simples, porém finas e mais macias do que qualquer outra coisa que eu tenha vestido. Camisa branca e calça preta, ambas decoradas com uma solitária faixa prateada de cada lado. Há sapatos também: um par de botas engraçadas que vão até o joelho. Para minha surpresa, não há sequer uma linha vermelha mas roupas. Por quê? Não sei.

— Tudo certo — resmungo, calçando a segunda bota.

Assim que fecho, o policial se vira. Não ouço o titular das chaves, mas também não vejo a trança nas grades. Não sei muito bem como ele pretende me tirar desta cela sem porta.
Contudo, em vez de abrir algum portão escondido, ele acena com a mão e as barras de metal se abrem. Claro. O carcereiro é...

— Magnetron — diz ele mexendo os dedos. — E, caso esteja se perguntando, a moça que você quase fritou é minha prima.

Quase engasgo com o ar nos pulmões, sem saber o que responder.

— Desculpe — a palavra soa quase como uma pergunta.

— Peça desculpas por ter errado a mira — ele responde sem qualquer tom de ironia. — Ryujin é uma vaca.

— É de família?

Minha boca é mais rápida que meu cérebro e engulo em seco quando me dou conta do que disse. Só que, em vez de me bater por falar fora de hora, o rosto do polícial se contorce num esboço de sorriso.

— Acho que você vai descobrir — ele diz, com seus olhos pretos e suaves. — Meu nome é Lucas Samos. Siga-me.

Não preciso perguntar para saber que não tenho escolha. Ele me conduz para fora da cela e subimos uma escada em espiral até nada menos que doze agentes de segurança. Sem uma palavra, eles me cercam numa formação bem ensaiada e me obrigam a ir com eles. Lucas permanece ao meu lado, marchando em sincronia com os outros. Todos mantém as armas em punho, como se estivessem prontos para a batalha. Alguma coisa me diz que esses homens não estão aqui para me defender, mas para proteger os outros.

Quando chegamos aos belos andares de cima, as paredes começam a escurecer estranhamente. Tingem-se, digo a mim mesma, lembro do que escutei sobre o palacete do sol. Os cristais de diamante podem ser escurecidos para esconder o que não deve ser visto. Obviamente, devo estar nessa categoria.

Assusto quando percebo que as janelas mudam de cor não graças a algum mecanismo, mas por causa de uma agente ruiva. Ela faz um gesto com a mão diante de cada parede por que passamos, e alguma força que sai dela sombreia os vidros.

— Ela é uma Sombria, manipuladora de luz — cochicha Lucas ao notar minha admiração.

As câmeras também estão aqui. Minha pele arrepia ao perceber seu olhar elétrico escaneado meus ossos. Normalmente, minha cabeça doeria sob o peso de tanta eletricidade, mas a dor não veio. Algo no escudo me transformou. Ou talvez tenha liberado alguma coisa, revelando uma parte de mim que por muito tempo mantive sepultada. O que sou? De novo a pergunta ecoa na minha cabeça, mais ameaçadora que antes.

A sensação de eletricidade passa apenas quando cruzamos portas monstruosas. Os olhos não podem me ver aqui. O cômodo além das portas tem dez vezes o tamanho da minha casa com palafitas e tudo. E, diante de mim, com os seus olhos flamejantes queimando os meus, está o rei, sentado num trono de cristais de diamante esculpidos num inferno de chamas. Atrás dele, uma janela cheia de luz do dia rapidamente escurece. Pode ser a última vez que vejo o sol.
Lucas e os outros guardas me fazem avançar, mas não ficam muito. Com apenas um olhar, o magnetron conduz os outros para fora.

O rei está sentado, com a rainha a esquerda e os filhos a direita. Recuso-me a encarar (S/N), mas sei que deve estar me observando, pasma. Mantendo o olhar sobre minhas botas novas, focando para não ceder ao medo de meu corpo virar chumbo.

— De joelhos — a rainha murmura com a voz suave como veludo.

Eu deveria me ajoelhar, mas meu orgulho não deixa. Mesmo aqui, mesmo na frente dos prateados, na frente do rei, meus joelhos não se dobram.

— Não — contesto, reunindo forças para levantar a cabeça.

— Gosta da sua cela, menina? — Drake pergunta. Sua voz preenche o salão, e o tom de ameaça das palavras é claro como o dia.

Ainda assim, fico de pé. Ele inclina a cabeça e me olha como se eu fosse um experimento intrigante.

— O que querem comigo? — reúno forças para perguntar.

A rainha aproxima o rosto de Drake.

— Já disse, ela é vermelha dos pés a cabeça...

O rei, porém, faz ela se calar com apenas um gesto, como se espantasse uma mosca. Ela morde o lábio e recua apertando as mãos. Bem feito.

— O que quero de você é impossível — dispara Drake. Um ardor tênue em seu olhar revela o desejo de me incinerar. Lembro das palavras da rainha.

— Bom, não fico triste por você não poder me matar.

O rei ri.

— Não disseram que você era esperta.

Sou inundada de alívio. A morte não está à minha espera aqui. Ainda não.

RED QUEEN - Imagine Mina (TWICE)Onde histórias criam vida. Descubra agora