2- SEGUNDO ENCONTRO (ELE)

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Em uma noite, eu vi uma bela jovem sentada embaixo de uma Jacarandá chorando de soluçar. Embora eu tivesse um instinto de proteção, não poderia me aproximar sem um motivo maior. Então observei os seus gestos, a forma como limpava as lágrimas que não paravam de jorrar. Uma de suas mãos acariciava o seu próprio rosto. Eu pude perceber uma marca vermelha estampada próxima a sua boca.

- Quem fez isso? - perguntei bem baixinho como se ela fosse me responder em seus pensamentos. Eu podia ouvi-los, mas não era nisso que refletia, e sim em conhecer Neiva. Não entendi quem era ou o que era. Escondia-me atrás de uma árvore e, para olhá-la melhor, me apoiei em um galho que logo se rompeu, fazendo com que me desequilibrasse e chamasse sua atenção em minha direção. Acabei sendo exposto à menina, que parou de chorar de forma instantânea.

- Você estava me espiando? - Limpava as lágrimas que sobraram em seu rosto. Não consegui respondê-la. Fiquei sem ação. - Foi ele quem te mandou? - insistiu em obter informações.

- Ele quem? Foi ele quem fez isso a você? - indaguei imediatamente. Esperava que a floresta me autorizasse a protegê-la.

- Você não é um deles. Quem é você? - continuou a me interrogar.

- Não posso dizer.

A menina se virou, suspirou e começou a pensar no homem que a havia machucado. Ela se perguntava porque Arlo tinha feito isso a ela.

Eu me aproximei e me sentei na pedra em sua frente.

- A direita tem um riacho. A água é bem gelada. Vai aliviar o inchaço. Vamos, eu pego para você, para que não se molhe.

Ela me olhou com os olhos molhados. Achei que não aceitaria por não me conhecer, mas afirmou que iria com um gesto feito com a cabeça.

Levantei e estendi minha mão a ela. Quando a segurou, um sentimento estranho tomou conta de mim. Senti como se tudo em diante dependesse dela e fosse para ela, talvez até o que passou.

- Por que está me olhando assim? - perguntou. Mas antes que eu falasse algo, continuou. - Seus olhos... eles são diferentes um do outro. É só você ou mais alguém da sua família é assim? Castanho e verde... interessante.

- Não tenho família! - respondi enquanto começava a caminhar em direção ao riacho. Nessa hora já soltava minha mão.

- Eu sinto muito pela sua família.

- Não sinta. Nem sei o que é isso - disse a ela.

- Como assim? Isso você também não vai me dizer, né? - falou com um leve sorriso.

Apesar de perceber um tom de cinismo, me senti bem mudando o rumo de seus pensamentos.

- Consegue ouvir o barulho das águas? Já estamos chegando - disse como se eu fosse um anfitrião.

- Eu sei. Já me banhei várias vezes nesse riacho. Dizem que existe uma sereia que gosta de enganar os homens e os leva para as profundezas. - A menina andava de costas em direção ao rio, sorrindo e empolgada com a história que contava. - Eu só devo agradecer a ela, porque é graças a isso que tenho alguns momentos de paz. Posso mergulhar à vontade sem nenhum homem por perto. Eles têm medo. Você deveria ter também - continuava sorrindo.

Não consegui dizer nada, tudo o que ela narrava era uma grande baboseira que inventaram. Contudo me divertia com a história de uma antiga amiga, Iara. Então devolvi um sorriso.

- O seu sorriso é bonito - elogiou-me, tranquila. - Pode deixar que eu pego a água sozinha.

Ela se debruçou às margens do rio. Juntava suas mãos para segurar o líquido, que fugia tão rápido e mal chegava em seu rosto. Então, me aproximei e ela fez um gesto para que eu parasse.

- Cuidado! Eu acho que tem mesmo uma sereia - disse, mais séria.

- Ela não é má. Não faria isso comigo. Só com quem é perverso - expliquei.

- Então faremos um teste. Saberei se você é um homem bom, assim poderá ser meu amigo. Venha, se aproxime da água. Você está com medo? - falou a menina, mais uma vez, com aquele sorriso que me fazia sentir algo inédito.

Foi quando TUDO começou. Abaixei-me e ao tocar na água enxerguei, através da sereia, o que estava por vir. Tudo aconteceu muito depressa. Depois Iara me repeliu. Fui arremessado para trás, como se tomasse um choque. A menina estarrecida, se levantou e se afastou ao máximo de mim. Pude notar o medo em seus olhos azuis.

- Maíra, né? - indaguei ainda no chão, tentando me levantar.

- Como sabe meu nome? Eu não te disse. Você é um homem... um homem mau, não é?

- Não...não! - Já estava de pé. - Se eu fosse, ela teria me arrastado - fiquei nervoso ao explicar.

- Como sabe meu nome? - estava agitada.

- Ela me disse. Mas não sei como contar o que me mostrou. Ainda devo ser gentil e carinhoso, mesmo você tendo crescido?

- Era você naquele dia... sabia que te conhecia de algum lugar - falou, parecendo com medo. - Me diga de qualquer jeito, não sou mais uma criança.

- Seu nome será dito 3 vezes. Esse também será o número de vezes que irão te apunhalar. O motivo será por amarem o que não deveriam amar. E por mexerem com forças maiores - repeti a ela a visão que tive.

-O que isso tudo significa? - Seus olhos estavam arregalados.

- Que eu vou ter que te levar.

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DEUSES DA FLORESTA 1 | O Renascimento da feiticeira Onde histórias criam vida. Descubra agora