Mais um pouco à frente chegamos em uma clareira, onde vivia uma pequena tribo. Estava certo de que poderíamos ficar lá por uma noite. Há uns anos eu tinha salvado o filho do pajé, quando foi atacado por um lobo. E sabia o quanto era grato por esse ato.
Quando os nativos me viram se alegraram. As crianças vieram e me abraçaram, os guerreiros me cumprimentaram e as mulheres da tribo começaram a me pintar, me colocar colares. Maíra estava com o semblante confuso e curioso.
Ao nos aproximarmos da oca, onde se encontrava o líder, desceu do cavalo.
- Liam, por que eles estão tão felizes com a sua presença? - perguntou ela.
Mas antes que eu a respondesse, Aiwá, o pajé, nos chamou para dentro de sua casa. Ele veio me cumprimentar sorridente e quando a viu, deu um passo para trás.
- Por que ela está aqui? - perguntou ele.
Eu não tinha entendido sua reação. Maíra, assustada, logo me deu a mão.
- É seu? - continuou apavorado.
- Do que está falando? - indaguei intrigado, pois não conseguia ler sua mente. Estava bloqueada por magia.
- Ela gera o mal - Apontava para sua barriga. Maíra e eu nos olhamos. E logo me voltei novamente para o Aiwá.
- Não é meu - respondi, preocupado. - Eu posso falar o que me contou? - dirigi a ela.
Maíra confirmou com a cabeça, aflita. Seus pensamentos eram diversos.
- O noivo a forçou. O filho é dele.
Sua mão suava, me apertando cada vez mais. Ela foi se aproximando até encostar seu braço no meu. Pude perceber sua respiração rápida. Sentia o seu medo.
- Eles vão fazer alguma coisa comigo? - falou baixinho, como os olhos arregalados e marejados. - Você não vai deixar, não é?
Naquele momento seu rosto estava tão perto do meu. Eu senti a quentura do seu hálito e pensei no que poderia ter acontecido na floresta entre mim e ela, se eu não a tivesse rejeitado. Estava apaixonado. Não deixaria que a pegassem.
- Não vou deixar. Não se preocupe - sussurrei.
O líder da tribo interrompeu o nosso cochicho: - Vocês precisam se livrar disso. Vou preparar algumas ervas e matá-lo.
- O quê? É só uma criança! -Maíra se indignou. - Não posso deixar que faça isso. Ela não tem culpa de como foi gerada - implorou me olhando, esperando que eu interferisse na decisão do nativo.
Em seguida, pressionei sua mão e falei diretamente com o Aiwá: - Eu só te peço pra ficar essa noite. Depois daremos um jeito na criança.
- Não é uma criança. - O líder nativo parecia em transe. - Fiquem essa noite - disse, fazendo um gesto duvidoso aos seus guerreiros. Então saímos da oca.
- Não vamos ficar, não é? - perguntou, ainda segurando minha mão.
- Não. Só vou pegar o meu cavalo e logo fugiremos. Coloque o capuz de volta. Eles não vão te enxergar.
- O quê? Então... é só isso e eu fico invisível? - surpreendeu-se.
- Sim. Sempre que precisar cubra a cabeça. - expliquei, e a vi maravilhada.
- Mas e você?
- Espero não ter que lutar. - Observava o entorno. - Fique aqui. Irei pegar o cavalo.
O animal estava amarrado à árvore, próximo a oca do chefe da tribo, e presos na sela, o meu arco e minha aljava. Eu não podia passar pelo meio da aldeia sem ser notado. Fiquei analisando e esperando o momento ideal, até que uma menininha bateu em minha perna.
- Uma moça mandou te entregar - disse a pequena nativa. A menina me entregou a capa. Achei estranho e logo olhei pra trás, procurando por Maíra.
- Onde está ela? - indaguei ansioso. Vai se meter em encrenca, cogitava. Abaixei-me, ficando na altura da indiazinha.
- Eu não posso falar pra ninguém. A moça disse que vai até você quando chegar com o cavalo - respondeu.
- E realmente não irá contar, né? - instiguei a fim de analisar sua mente.
- Não, moço. Ela fez essa trança em mim e me deu esse laço em troca - falou, sorridente. Suas intenções eram boas.
Vesti a capa e retirei o cavalo da árvore. Contornei a aldeia, para que não fosse facilmente notado. Afinal, aquela tribo já me conhecia e sabia das minhas artimanhas.
Logo quando cheguei ao lugar combinado, senti algo caindo em mim. Eram algumas pedrinhas vindas de cima da árvore. Maíra não me via, por isso a maioria delas caiu no animal. Ela se encontrava apenas com as famosas roupas de baixo no alto de uma árvore. Tirei o capuz e sorri para ela.
- Ué? E o vestido? - perguntei em um tom de deboche.
- Estava difícil subir - respondeu ao descer. - Por que esse sorrisinho? Era ele ou nossas vidas. - justificou-se. - Deixei ele aqui perto. Vamos, antes que nos encontrem! - Saiu andando como se há pouco tempo, usar somente as poucas roupas, não fosse um problema.
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DEUSES DA FLORESTA 1 | O Renascimento da feiticeira
RomanceO que você faria se descobrisse que todas as lendas de Deuses e monstros são reais? Maíra foi morar em uma terra recém-descoberta cheia de nativos, com crenças em deuses, seres e monstros desconhecidos ao seu povo, pois seu pai, o Conde de Neiv...