1-PRIMEIRO ENCONTRO (ELA)

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Meu nome é Maíra Neiva. Eu vim do condado que deu origem ao meu sobrenome. Na verdade, minha família é de lá, eu mesma nunca fui ao tal local mencionado, pois nasci na Nau Portonha a caminho da terra nova. Neiva significa branca e suave. Esse significado não está diretamente ligado a mim, apesar da minha pele clara.

Meus pais e eu chegamos aqui com a promessa de que teríamos uma vida diferente e melhor. Não que eles não tivessem algo agradável onde moravam, porque somos de descendência nobre, mas ajudaríamos a construir uma geração forte que serviria a Coroa em um novo território.

Como eu disse, minha mãe estava grávida de mim, entretanto eu não era a única. Éramos gêmeas. Durante a viagem, uma tempestade se propagou e no balançar das ondas, minha irmã caiu do berço improvisado. Os lenços que o forravam, para o conforto dela, foram os que a sufocaram, e a tormenta e gritaria dos tripulantes camuflaram o que estava acontecendo.

Ainda embarcados, faltando muitos dias para a nossa chegada, optaram por fazer uma cerimônia ao mar. A colocaram em uma pequena caixa de madeira, acenderam velas e deixaram que as águas a levassem, iluminando aquele imenso azul no final de tarde.

O luto não permitiu que meus pais me dessem um nome naquele momento. A única coisa que eu tinha garantido era o sobrenome Neiva. Todo esse episódio fiquei sabendo anos mais tarde, em meio a uma discussão entre minha mãe e eu, mas conto toda essa história para explicar a redundância que me identifica.

Chegando em terra firme, muitos nativos, que viviam em paz com o meu povo, vieram e nos receberam com alegria. Minha mãe forçava um sorriso, pois a conduta de boas maneiras que havia aprendido era mais forte do que os sentimentos que cresciam e apertavam sua garganta. Eles quiseram me ver, porque mesmo muito de nós já habitando em meio a esse povo diferente e corado, ainda não tinham conhecido uma criança. Minha mãe disse que eles me chamavam de Maíra. Ela se agradou com a sonoridade da palavra que gritavam e pela circunstância vivenciada dias atrás, a qual roubava sua criatividade em me nomear, chamou-me de Maíra Neiva. "Maíra" quer dizer na língua deles branca estrangeira. Então meu nome nada mais é do que branca estrangeira, branca suave. Talvez tenha sido por causa da pele de uma recém-nascida sem ainda ter tido contato com o sol ou pelos poucos fios de cabelos, um loiro tão claro, que beirava essa brancura toda de meu nome.

Depois de uns anos, ainda pequena, nos mudamos para um casarão branco com um enorme jardim, rodeado por árvores de diversos tamanhos e canteiros tomados por flores. Gostava muito de correr. Ainda gosto, mas essas roupas de adulta não favorecem muito uma corrida prazerosa, com bastante aventuras. Lembro-me de quando eu brincava com uma bola feita de sobra de tecidos dos vestidos que as criadas faziam para minha mãe. Ela era toda colorida, mas toda ressecada, vivia cheia de lama. Eu não tinha o costume de limpar. Então eu a envolvia com mais um retalho e já bastava para considerá-la nova.

Um dia me deparei com um homem na entrada da floresta. Estava agachado, sentado apoiado em seus calcanhares.

- É sua? - perguntou o homem misterioso.

Minha bola estava em suas mãos estendidas, parecia querer que eu a pegasse de volta.

-Sim - respondi um pouco encucada por achá-lo diferente dos homens, amigos de meu pai. Ele tinha o cabelo grande ruivo e usava nas orelhas brincos de pena. Suas roupas eram estranhas, pareciam de couro e possuía arco e flechas presos nas costas. - Quem é você? E por que está aqui?

Apesar de estar com 8 anos na época, eu sabia me comunicar muito bem. Na cidade não tinham crianças, eu só conversava com adultos.

- Me disseram que você corria perigo, por isso eu vim aqui - explicou.

- Perigo? - desdenhei porque achava que conhecia tudo por ali. Não havia um animal sequer que eu não desse conta. E nem árvore que eu já não soubesse escalar. Não ia tão alto, mas subia o suficiente para fugir de alguns predadores.

- Você iria atrás dessa bola e escorregaria na pedra por causa do lodo. Depois iria rolar até lá embaixo e quebraria o pescoço - contou ele.

- Nossa! Não se fala assim com uma criança - surpreendi-me com a frieza do tal moço.

- Me desculpa. Como deveria falar? Não tem muitas crianças do seu tipo por aqui. Na verdade, não conheço nenhuma. As que eu conheço não se importam com a forma que eu falo.

- Você deveria ser gentil. Poderia falar tudo com mais carinho. É óbvio que precisaria passar uma seriedade, mas sem informar essa parte tão trágica - disse a ele.

O homem dos cabelos vermelhos ficou calado me olhando, tinha um aspecto de assustado. Talvez pela forma que eu falei e me portei. Eu me sentia uma menina bastante esperta. Então continuei a me pronunciar.

- Assim, por exemplo: "Menina, não vai por ali. Tome cuidado! Você pode se machucar".

Então ele sorriu levemente. Transmitiu-me confiança. Depois colocou a bola no chão, se levantou e foi recuando e olhando ao mesmo tempo por trás de mim. Vinha vindo minha mãe, que me chamou para almoçar. Ela não o reparou. E eu não sei se ele correu ou algo do tipo, porque me dispersei ao olhá-la.

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DEUSES DA FLORESTA 1 | O Renascimento da feiticeira Onde histórias criam vida. Descubra agora