11- ESTE É O SANGUE QUE EU TENHO (LIAM)

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Andando para a saída da Floresta Secreta, eu reparava no rosto de Maíra. Parecia reflexiva, estava calada. Era compreensível, fomos bombardeados de assuntos familiares mal resolvidos. Mas logo se voltou para mim e perguntou: - Se você é um Deus, deve ter mais poderes do que imagina.


- Não sei, acho que não. Apenas sou forte - respondi.

- E lê os pensamentos... - completou. - Deve fazer mais coisas. Só não treinou suas habilidades... Liam, o poder começa na nossa mente quando achamos que conseguimos fazer algo. É assim com tudo - Maíra se expressava de forma segura. Chegou a colocar a ponta do dedo em minha testa, dando três batidinhas.

- Não me diga... - achei graça de sua atitude. - Isso serve para você - disse referente a nova descoberta. Ela desviou o olhar.

Depois disso, quando passamos pela rocha que escondia a floresta, voltou a ficar silenciosa. Talvez o meu comentário a fez lembrar que o motivo dela ser uma feiticeira, não era bom. Então, mais a frente ela parou e ficou me encarando. Antes que falasse algo, a questionei: - Por que você fugiu de mim?

- Você estava agindo estranho -respondeu.

Esperei por seus pensamentos. Queria saber se havia algo a mais.

- E por que você não matou Arlo? - Cruzou os braços, furiosa.

- Ele me disse que não tinha te machucado. Eu vi, não era mentira - disse e notei sua indignação. - Me desculpa! - acrescentei imediatamente.

- Eu estava certa sobre você. Estava diferente desde que encontrou ele. - Seus olhos marejavam. - Por que está aqui comigo? Está se colocando em risco por alguém que nem acredita? - disse, decepcionada.

Não consegui responder suas perguntas, o que a deixou ainda mais chateada. Maíra resolveu sair andando na frente, mas acabou voltando para concluir o diálogo.

- Eu já sei... já entendi. Você precisará fazer algo quando chegar a hora. O que será? Matar o que eu estou gerando? Me matar? - ironizou aos berros.

- Não te mataria. - Tentei me aproximar.

- Liam, você não precisa me proteger. Afinal, não sou uma bruxa? - chorava. - Vou voltar para casa. - Enxugava os olhos, trêmula.

- Não, é perigoso. - A puxei pelo braço. - E você é uma feiticeira, não bruxa.

- Não toca em mim! - gritou, me empurrou e não conseguiu me mover. Maíra me olhou com raiva. - Vou estar segura com o exército do meu pai - disse para me provocar.

- O pai que matou sua irmã? - pressionei. Ao ouvir o meu cinismo, não se conteve e me deu um tapa no rosto. Pude sentir meus olhos se acendendo instantaneamente. Ela começou a andar para trás, se afastando de mim, mas não por medo.

- Eu vou embora. Não me siga... - soluçava. - Eu vou cuidar de mim mesma - acrescentou, cabisbaixa.

- Você ainda não sabe usar suas magias - alertei e fui ignorado.

Então a vi sumindo por entre as árvores, entretanto, conseguia ouvir sua mente, ainda podia segui-la.

Estava escurecendo e de repente me senti perdido. Uma sensação de tontura me preenchia. Minha visão embaçava, precisei me apoiar nas árvores para permanecer de pé. Os meus sentidos estavam agindo contra mim. Ouvia barulhos de todos os tipos ao mesmo tempo. Depois de alguns minutos desorientado, o silêncio surgiu e em sequência, uma voz bizarra a me chamar.

- Liam! Liam... Esse foi o nome que a feiticeira te deu?

Olhei a minha volta e não enxerguei ninguém. Não sabia de quem se tratava. A intuição não era boa, me vi encurralado. A circunstância me fez lembrar do que foi me dito quando recebi o cajado de meu pai, "era fundamental que eu me entregasse e o deixasse me guiar". Então o retirei das costas. Contudo não tinha ideia do que deveria fazer, mas como já estava sem forças e quase caindo, para me sustentar o apoiei no chão, me levando a sentir um tremor instantâneo. O cajado se iluminou por completo. Parecia estar em brasas. Fiquei assustado, porém revigorado. Então ao levantar meu rosto, enxerguei duas pessoas me observando. Sabia que não eram comuns e, apesar de não os conhecer, suas energias eram ruins.

- Quem são vocês? - perguntei, apavorado. Tinha certeza que meu mal estar vinha da aparição deles.

- Meu neto, vejo que está com o cajado de seu pai - falou o homem com um sorriso estranho no rosto. Ele, apesar de dizer ser meu avô, não possuía um aspecto de idoso.

- Neto? E você? - indaguei à mulher ao seu lado, morena de cabelos escuros como laca, aparentemente mais jovem que ele.

- Sou apenas uma amiga. Vejo que está descobrindo seu passado e suas habilidades - disse Jurará, com ar de deboche.

- O que vocês querem? - desconfiava de que não era bom aquele encontro. Tentei ler suas mentes, mas os dois, sendo deuses, as bloqueavam.

- Quero o meu filho - respondeu Tau, meu avô.

- Do que você está falando? Minha tia disse que meu pai morreu.

- Não estou falando de seu pai, nem dos outros seis. Estou falando do caçula que ainda está na barriga - sorria, olhando para a deusa.

Então entendi o que acontecia. Conhecia sua história, mesmo não sabendo que pertencia a sua linhagem. Ele era famoso por sua maldade e a maldição que carregava consigo. Havia tido 7 filhos com Kerana, minha avó. Somente um não era um monstro, meu pai. Tau era um metamorfo. Foi dessa forma que enganou minha avó e agora Maíra, se passando por Arlo.

Fiquei em choque, meu coração começou a acelerar enquanto eu raciocinava. Minha respiração estava atrapalhada, perdia o controle da tal. Sentia-me sufocar pela revelação. Ele havia tirado sua inocência. Eu ainda não tinha ideia do motivo, porém tudo fazia sentido. O porquê de ninguém tê-la protegido, era certo de que tinha cúmplices. Meus olhos estavam cheios de ódio e de lágrimas, as quais não contive e ao permitir que caíssem, percebi o sorriso medonho no rosto do espírito do mal. Queria matá-lo, mas não conseguiria. Creio que essa era a razão dele ter a deusa como companhia.

- Por quê? Ela era virgem - disse com a voz embargada.

- Foi necessário dessa forma. Eu tinha um acordo. - respondeu e de novo olhou Jurará.

- Um acordo? Com quem? - questionei, indignado com o alto preço que ofertaram.

- Não vou dizer, sou ético - debochou ele.

- Ela é uma feiticeira. Você sabia? Não é tão inocente quanto você pensa - falou a divindade ao seu lado. - Liam, haverá uma guerra e você precisa estar conosco. Os humanos irão destruir tudo se não fizermos nada - explicava como se fosse possível eu concordar, em algum momento, com o que fizeram.

- Ela vai morrer, não vai? - Já sabia a resposta.

- Três vezes será apunhalada. É o destino. Todos temos um - Tau zombou.

Depois de ouvi-los falando sobre a morte de Maíra como algo banal, senti uma grande ira e gritei: - Não vou deixar! - Minha voz soou diferente. E por instinto, levantei o cajado e o bati contra o chão. No mesmo instante o solo começou a ser rasgado por várias rochas que iam se erguendo e nos separando, formou uma enorme barreira. Em seguida, desapareceram.

Eu tremia, meus nervos estavam à flor da pele. Sentia-me enojado por ter seu sangue. Queria acreditar que existia a possibilidade da criança nascer com a mesma sorte de meu pai, mas pela forma e o tempo que crescia, sua gravidez não parecia de um bebê normal. Que alívio não ter matado Arlo, pensava. Precisava contar a Maíra, contudo, necessitava encontrá-la antes de todos que a procuravam.

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Obrigada pela leitura ❤️

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DEUSES DA FLORESTA 1 | O Renascimento da feiticeira Onde histórias criam vida. Descubra agora