do nada me deu vontade de escrever stony com o plot de de repente trinta e saiu 8 mil palavras
boa leitura! ❤️
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Acordei com um barulho esquisito vindo lá de fora, parecia um pássaro ou mesmo uma cigarra. Bocejei e abri os olhos, franzindo o cenho ao sentir algo os tapando. Estranho, eu não dormia com nada no meu rosto... Tateei debaixo do travesseiro em busca do meu celular e chequei as horas: dez e meia. Ia desbloquear o visor quando percebi que a data estava modificada.
Hum... não me lembrava de ter tirado a bateria para que a data se modificasse sozinha. E justo no meu aniversário, que havia sido ontem até onde não me falhava a memória, e estávamos há dois meses em 2021. Pisquei algumas vezes tomando um pouco mais de consciência e arregalei os olhos ao notar que não estava segurando meu celular nas mãos — mas outro modelo muito, muito mais caro e chique.
Derrubei-o em cima do colchão por conta do susto e só então me dei conta dos meus arredores com mais clareza. Não reconhecia um canto sequer do recinto em que estava; era um quarto enorme com paredes e janelas de vidro altas. Estava deitado em uma cama de casal igualmente gigante e uma TV de pelo menos sessenta polegadas pendurada na parede à minha frente. Onde diabos eu havia me metido? Sequer me lembro de ter saído ontem à noite depois da minha “festa de aniversário”. E eu definitivamente não tinha bebido, pois meus pais estavam presentes o tempo todo.
Quando ia me levantar ouvi a porta sendo aberta e instintivamente me enfiei debaixo das cobertas grossas dos pés à cabeça, sentindo meu coração quase sair pela boca. Passos descalços se aproximaram e algo tocou meu estômago por cima do edredom, deduzi que fosse uma mão. O colchão afundou ao meu lado e mordi os lábios para prender um grito de pânico, então a coberta foi lentamente retirada de cima do meu rosto e naquele momento minha única reação foi fechar os olhos fingindo que estava dormindo.
Uma onda de desespero perpassou minha espinha durante um silêncio ensurdecedor. Ouvi o fantasma de uma risada e tive vontade de franzir o cenho, mas me recompus de pronto para não arruinar minha encenação. Senti algo tocando minha bochecha que logo interpretei como dedos, longos e frescos, me fazendo arrepiar com o contato. Estava quase abrindo os olhos quando uma voz grossa e rouca disse, num sussurro:
— Como eu amo você, gracinha. — e um beijo foi depositado em minha testa, demorado e cheio de delicadeza.
Vi-me inebriado por aquela carícia que eu desconhecia — afinal, até onde lembrava, eu continuava virgem em todas as áreas afetuosas da minha vida. Aquele contato era novo. Era bom; mas eu sequer sabia de quem se tratava aquela pessoa que havia acabado de me declarar seu amor. Abri os olhos quando o moço já tinha saído e suspirei pesado, tentando entender o que diabos estava acontecendo ali. Talvez eu houvesse me drogado e aquele era um sonho tão lúcido que parecia real?
Tateei o colchão novamente em busca do celular chique e caro e encarei a tela, tentando decifrar a senha. Se era meu aparelho, então a senha seria algo que eu saberia. Talvez uma data? Mas esse sonho não me recordava nada da minha vida, a não ser o papel de parede da tela de bloqueio que era uma daquelas fotos conceituais do Tumblr. Puxei na memória e resolvi tentar o PIN de segurança, desistindo de descobrir o padrão. Minha cabeça era uma negação no quesito lembranças e não era uma alucinação provavelmente psicotrópica que mudaria isso.
Digitei o aniversário de um ídolo meu na pré-adolescência, meu PIN de segurança desde que me entendia por gente. O celular desbloqueou e antes que pudesse comemorar a conquista, minhas sobrancelhas se juntaram numa expressão de confusão. O papel de parede da tela de início era uma foto minha — bom, pelo menos ele parecia muito comigo — em uma praia. Eu usava um chapéu de palha e meus cabelos estavam curtos, mas maiores do que me lembrava. Do meu lado, e isso era o mais curioso, um homem alto me abraçando. Ele tinha um sorriso largo no rosto e olhos cobertos por óculos-escuros, não me permitindo ver detalhes de suas feições. Eu usava um shorts cor de rosa e o moço possuía uma bermuda de pano azul, ambos estávamos descalços na areia. O mar atrás de nós parecia agitado na fotografia e o sol no pico, como se fosse uma manhã de verão bem ensolarada. Parece que meus sonhos lúcidos eram tão lúdicos quanto os do meu sono.