— Você está com fome? — ouvi a voz sonolenta de Tony ao meu lado e sorri bobo com a minha cara enfiada no travesseiro.
Ainda era muito difícil acreditar naquilo. Eu, aquele cara tímido, calado, o patinho feio de todos os lugares que ia, de repente estava com aquele homem maravilhoso na cama, depois de uma satisfatória noite de amor.
Aconteceu tudo do nada. Eu estava no meu curso, com um monte de apostilas nas mãos, procurando um conteúdo que eu tinha certeza que havia anotado — que na verdade, não anotei. Então, eis que alguém me chama pra fazer um lanche junto a uma galera da minha turma, e eu aceito. No caminho para a tal lanchonete, eu ainda estava segurando o emaranhado de apostilas nas mãos e senti um corpo colidir contra o meu. Naturalmente, fiquei bastante nervoso e envergonhado por causa do contato físico com um estranho — um estranho bonito, o que só piorava a situação. E qual não fora minha surpresa ao receber um sorriso amigável, simpático, quase que amável em resposta à minha timidez?— Desculpa — ele disse, ainda sorrindo. O sotaque dele era um amor e eu fiquei provavelmente hipnotizado pela sua doçura e beleza com apenas uma fala. Não sei se ele notou, mas eu estava o olhando feito uma retardado sem cérebro. Então, ainda com um sorriso divino no rosto, ele puxou conversa comigo (outra coisa que também me deixou bastante nervoso, porque ninguém nunca puxava conversa comigo): — Eu sou Tony. Já vi você no curso.
Eu sorri, provavelmente feito o Coringa, e fiquei vermelho — muito vermelho, vocês não têm noção. Esse era o resultado de dezesseis anos trancado no quarto, lendo livros e ouvindo músicas sem nenhum contato com outros humanos.
— Eu sou Steve. E eu nunca vi você no curso.
— Deve ser porque está sempre com apostilas tapando sua visão — ele brincou, e não foi engraçado, porque denunciava que ele também, por algum motivo, estava nervoso. Mas eu ri como se fosse a melhor piada do universo. E assistindo à minha pequena e um pouco psicodélica crise de riso, ele sorriu também. — Quer tomar um suco comigo?
Olhei discretamente para a mesa em que meus colegas estavam reunidos, conversando uns com os outros. Eles não pareciam sentir minha falta, então, com um aceno de cabeça, eu segui com Tony até uma mesa vazia. Devemos acrescentar que ele puxou a cadeira pra mim, o que me fez ficar de pernas bambas. Ele era um amor! E naquele momento, eu só conseguia pensar no porquê de ele estar agindo como se estivesse me paquerando. Eu, até então, só havia visto aquilo em filmes e em livros, nunca pessoalmente — e ainda mais acontecendo comigo.
— Você está em que semestre do seu curso? — Tony perguntou enquanto batucava os dedos sobre a mesa. Ele parecia realmente nervoso, apesar de sorrir cordialmente. Talvez fosse natural ser educado.
Com um sorriso sem graça, eu respondi um pouco baixo, mas para que ele ouvisse:
— No segundo. E você? — arrisquei encará-lo. Tony olhava o cardápio na parede enquanto respondia.
— Eu também. Acho que não temos nenhuma aula juntos, senão eu haveria reparado em você — ele me lançou mais um daqueles sorrisos lindos. Eu, obviamente, senti minhas bochechas pinicarem.
— Acho que não — não sei por que, mas fui sincero.
Sim, eu banquei o menino tímido antissocial que todos ignoram na primeira vez que estava flertando com alguém. Até achei que havia perdido minha futura ilusão amorosa com meu drama, mas Tony não pareceu se incomodar ou mesmo reparar. Ele só focou na minha sinceridade, e acho que fora isso que fizera com que nossa conexão se fortalecesse.