JOANNE

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Uma enfermeira disse-me por alto seu nome; Steve Rogers. Das vezes em que pude testemunhar uma de suas visitas, de rabo de olho notei seus cabelos dourados remexendo-se conforme ele caminhava no cômodo de um lado para o outro. No dia seguinte, um pouco menos tonto pelas drogas do hospital, veio-me à visão um lindo vaso de flores ao lado da minha cama.

No dia seguinte, havia outro.

E depois desse dia, mais um.

Até que os vasos de flores foram diminuindo, uma vez que obviamente o quarto do hospital não poderia suportar a quantidade absurda de margaridas e rosas espalhadas estrategicamente por todos os cantos. Seus cabelos dourados agora estavam menores, em um corte muito semelhante ao de um soldado. Pude perceber um uniforme também, mas nem um pouco parecido com o do exército. Era azul, realçando seus olhos possivelmente cor-de-mar.

"Há 40% de chances", ouço uma enfermeira murmurar. E Steve, tão dócil e gentil Steve, acena com a cabeça e me olha triste.

Percebi, então, o mais estranho de toda a situação; nunca, em toda minha vida, eu conheci alguém chamado Steve — pelo menos não a ponto de lançar-me um olhar tão miserável, como se legitimamente se importasse comigo. Nem a minha ex-esposa havia ido me visitar no hospital, afinal, então fazia sentido algum que um completo estranho ficasse tão triste por minha iminente morte.

"Você é meu filho?", perguntei-lhe certa vez, em um ímpeto qualquer. Pensei que, talvez, ele fosse um erro da minha juventude voraz e cheia de hormônios. Steve não parecia tão velho, não passava dos trinta e cinco. Faria sentido se ele fosse o fruto de uma gravidez que alguma das minhas ex "namoradas" escondeu-me por toda a vida e achou que a melhor hora de deixar-me à par da minha paternidade acidental fosse à beira da minha morte — claro, sempre preferi as vingativas.

"Não", ele respondeu. E em sua voz havia diversão, mas um respingo quase imperceptível de agonia.

Aquilo não me perturbara, contudo. Logo mais, talvez ele pudesse esclarecer quem era, de fato, Steve Rogers. E não posso dizer que de todo me surpreendi com seu silêncio dali em diante, na verdade. Já não era um sentimento estranho a decepção — ou a queda que por vezes sofri para encarar a realidade.

Talvez Steve fosse um amigo dos meus pais. Talvez ele estivesse ali pra me fazer sentir, uma última vez, querido; amado. Os últimos anos da minha vida foram dentro de um laboratório, afinal, tentando achar a cura para minha doença. Então talvez ele estivesse ali para me lembrar das vezes em que recusei a ajuda dos meus pais ou o ombro de um amigo para chorar. Talvez eu devesse me sentir arrependido, triste, um burro.

E talvez eu seja tudo isso, realmente. Mas a questão é que não me arrependo de ter tentado, nem mesmo quando desperdicei o tempo que ainda tinha com meus pais. E é verdade, talvez eu quisesse mais tempo.

Eu queria ter mais tempo. Mais tempo...

Mas tempo pra quê?

Talvez se eu tivesse mais tempo... Talvez, talvez... Talvez eu pudesse continuar a servir ao mundo.

Mas como?

Flashes da minha vida passam por minha memória, apenas. Uns casos na adolescência aqui e ali, meu casamento que fracassou nos primeiros dois anos, um filho que descobrira há menos de um ano e que certamente me odiava por motivos muito plausíveis... Lembro-me de meus pais indo me visitar assim que me divorciei, então me vejo em um laboratório pesquisando e pesquisando e pesquisando sem fim. Lembro-me de Bruce aconselhando-me a tomar uma xícara de café e principalmente de suas últimas palavras antes de contar-me que estava indo embora. Ele precisava começar uma nova vida depois dos incidentes.

𝙨𝙩𝙤𝙣𝙮 𝙤𝙣𝙚𝙨𝙝𝙤𝙩𝙨Onde histórias criam vida. Descubra agora