Sentir isso novamente é estranho. Faz muito tempo, mas a verdade é que nós dois ainda sentimos algo, mesmo tentando esconder.
Seus lábios vão em contato com minha nuca, o que me faz arrepiar mais ainda, se é possível. Fecho os olhos sentindo a brisa do mar que deveria ser gélida, mas ele não permite isso. O calor de seu corpo passa para o meu, suas mãos em minha cintura me viram para ele. Posso sentir que estamos próximos, mas não tenho a mínima coragem de abrir os olhos.
-Para, Marshall... -sussurro.
-Por quê? -seu nariz toca o meu.
Não sei ao certo o que responder, na verdade, agora nada é certo. Nada quando se trata a respeito de nós é certo. Eu sei que nunca tivemos nada, aliás, nem sei o que temos, é um misto de amizade, carinho, amor e desejo.
-Ainda não estou te beijando pra você ficar calada -socorro.
Esse homem não é brinquedo não, quando quer ser terrível, consegue. Ele me dá um beijo na bochecha, tá bom, no canto da boca... e começa a rir ao passo que vai se afastando.
Abro os olhos já vendo o barco deixar o porto e deslizo uma das mãos por minha testa. Me viro para o convés logo o vendo com aquela típica carinha provocativa. Vou andando até o moço numa tentativa de sair desse sol, ainda que fraco.
-Você é insuportável! -paro de pé ao seu lado revirando os olhos.
Ele passa o braço por meus ombros, permito isso me aninhando no mesmo e ficamos a olhar as águas agitadas pelo motor do barco.
-Mas bem que você estava gostando -dou de ombros.
-Você não é mais um pirralho de onze anos, Marshall, não podemos brincar com isso -realmente me preocupo.
Ele sorri, não gosto quando faz isso, é sempre um sinal de que aprontou ou que vai aprontar mais ainda.
-Você também não é mais uma princesinha de onze anos -rebate.
É... nós dois crescemos. A verdade é que a idade nunca importou para nós, foi só amadurecermos um pouquinho para repararmos no que estávamos nos tornando e a convivência se tornar um pouco mais complicada, deixando a inocência de criança para o lado.
O mais estranho é que, apesar das provocações e momentos quentes, nós não conseguimos falar sobre isso em si. Sobre o que temos ou, um dia, tivemos. A vergonha ou remorso se faz presente na maioria das vezes e não falamos mais nada.
Odeio ficar em silêncio, ainda mais porque estamos indo pro trabalho e vou passar o dia todo olhando para a cara dele, esse rostinho lindo que... sossega Silvie!
Me lembro de ontem a noite no jantar. O Sr. S nos contou um pequeno detalhe que, confesso eu, já estava suspeitando. Fazer o que? Todo trabalho tem fofocas.
-Quem você acha que é o novo contratado? Estão dizendo que ele é um gato -comento.
-Não sei não, mas só espero que a concorrência não seja forte -dou um risinho.- O quê? -ele próprio ri.
-É difícil existir concorrência para você, Marshall -uma provocadinha.
Sua risada aumenta e suas mãos me apertam mais contra si.
Eu não estou falando? A gente não consegue sossegar, tem sempre que ter alguma provocadinha pra esquentar o dia.
Finalmente avistamos o porto da plataforma sobre águas. O prédio preto e cinza parece bem futurístico, embora a cidade tenha alguns assim, como sempre, o Sr. S não quer que tenhamos uma vida fácil e insiste nessa dificuldade de locomoção.
VOCÊ ESTÁ LENDO
(EM REVISÃO)New Deal.
ActionQuem nunca ansiou ter o emprego dos sonhos? Escolhido e pensado por você? Ah... e imaginem trabalhar com o amor da sua vida, lado a lado. Quem não gostaria? Pois bem, Silvie não é diferente de ninguém, está bem... talvez ela não quisesse a vida to...