Capítulo 32

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 O observo enquanto abre e fecha a boca diversas vezes sem saber o que dizer, parece tão confuso quanto eu. Olho para o loiro ao lado, mas ele apenas encara Dimitri, também sem conseguir comentar.

 O moreno balança a cabeça para os dois lados em negação e dá uma breve risada, não tendo qualquer interpretação possível para mim.

 Essa sempre é sua solução para tudo? Rir como um idiota?

 Dimitri não é uma pessoa de se prender a algo, não quero que fique comigo obrigado, não preciso atrapalhar a vida dele.

 O observo enquanto desliza as mãos pelos cabelos os bagunçando e dá mais uma risada me olhando inconformado.

 -Silvie, você era virgem, não teria como ser de outro - dá de ombros.

 Puta que pariu! Esse cara tem que reparar em tudo mesmo?!

 Baixo a cabeça com raiva enquanto penso em algo relevante o suficiente para que acredite. Porém, ele teve a prova naquela noite, ele viu, ele sabe e não tem dúvidas quanto a isso.

 Não vou suportar ficar mais do que alguns minutos nessa discussão. Quero sair, ir para bem longe, de volta para a city, para o meu quarto, com as minhas coisas e com minha vida de antes.

 Quero reclamar quando uma das minhas bolsas emperrar o zíper, brigar com o Marshall por ter revirado minhas roupas a procura de algum par de meias suas perdidas, assistir a maratonas de filmes todos os finais de semana, comer porcaria somente para garantir alguns instantes de felicidade excessiva, ouvir Anna reclamando sobre o quão o Sr. S é desorganizado e por isso não encontra nada... Quero isso de volta.

 Embora eu saiba que nada mais vai ser igual, posso tentar fazer ser ou, pelo menos, ser mais tolerante.

 Estou sufocada, parece que a ausência de ar aumenta a cada segundo. Eu preciso de uma salvação, de algo, alguma ideia, algum escape para isso, preciso pensar em algo e...

 -É meu.

 Viro-me na direção da voz do loiro, ele encara Dimitri intensamente, o obrigando a transferir o tal olhar para o moço.

 O que? - Questiono silenciosamente.

 Marshall não me responde, parece estar em uma guerra fria com o moreno em que eu não estou envolvida.

 Por que fez isso? Não é justo!

 Perco a fala totalmente. Não posso deixar que Marshall se sacrifique por mim, ele sempre foi o meu anjo bom, minha luz no meio dessa vida repleta de trevas densas. Sempre me ajudou, mesmo eu não sabendo, esteve do meu lado nos piores e melhores momentos. É o protagonista da minha história junto a mim. Não consigo me imaginar sem ele.

 Ele é tão jovem e tem tanto pela frente, pode construir uma vida, ter os seus próprios filhos, não tem que assumir o filho de outro homem.

 Tem vezes que penso que sou culpada pelas coisas ruins que aconteceram na vida dele. Quer dizer, a mãe dele morreu para me salvar; eu fiz de seu coração prisioneiro, fui egoísta querendo tê-lo somente para mim, por isso não arrumou ninguém. Fiz de mim uma gaiola onde ele é o pássaro, sem escolhas e qualquer esperança de ser solto. Que canta, mas ainda sim, uma triste melodia, com notas furadas e tortas, sendo praticamente empurradas para fora.

 O moreno ri novamente, o que sempre me irrita em situações sérias, mas, ao reparar nossa falta de humor, esse sorriso some.

 Encaro Marshall com certo pesar, o pedindo em silêncio para não continuar com isso e, embora eu queira desmenti-lo, não consigo emitir um som sequer.

(EM REVISÃO)New Deal.Onde histórias criam vida. Descubra agora