Acredite

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          Uma noite, um adolescente viveu o término de um namoro por mensagens. A garota lhe deixou por causa de complicações da relação: imaturidade, babaquice...
          Mas, por que disse isso? Bem, irei explicar...

          Naquela noite, após ler as mensagens embriagadas de dor, o rapaz seguiu ao banheiro coberto por lágrimas. Ao entrar, os dedos do pé interagiram com o piso de azulejos cor-bege, e a superfície gelada machucou-os. Desvestiu, e lançou com desleixo as roupas em cima da tampa da privada. Girou a torneira, e a água quente despencou nos ombros tortos. As lágrimas tornaram-se híbridas.
          Era como uma chuva constrangida, capaz de limpar total impureza-externa.
          O adolescente encolheu-se, ficando em posição fetal. Encontrava-se habituado com a temperatura do banho. Mas a porta permaneceu fechada, e o minúsculo cômodo transformou-se numa sauna.
          O rapaz rebobinava todos os momentos felizes que teve com a garota. Quando achou que as lágrimas evaporaram, os viúvos delas vazaram dos olhos contendo grande calor.
          Dentro da sua mente, em meio ao filme noir que projetava nela, sussurrou um pedido de ajuda para alguma Existência cósmica, capaz de tirá-lo dali. Um simples arrepio deixou-o confiante: a pele dominada por colinas-microscópicas, tornou-se um meio de comunicação dessa Existência.
          Depois de mais alguns pensamentos, o rapaz não se deu conta do sol instalado no banheiro, através da janelinha quadrada próxima ao chuveiro. Encarou as próprias mãos, testando a lucidez: localizavam amassadas como as de uma idosa. As veias elevadas eram tão transparentes na pele, que permitiam observar o sangue.
          Ele era uma montanha de pele-morta. “Quê bosta” falou, analisando o corpo no reflexo, criado no mármore da privada.

          Talvez você me conteste, mas, todos nós quando acreditamos em algo, vivemos melhor — mesmo nos piores dias

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          Talvez você me conteste, mas, todos nós quando acreditamos em algo, vivemos melhor — mesmo nos piores dias.
          Digo, acreditar em algo sempre foi o que motivou o Homo-sapiens-sapiens seguir adiante — não importando o que. Deus, Karma, ser positivo, ou até crer que os teus entes queridos falecidos estejam lhe protegendo; tudo isso é o que afastará você dos tempos ruins.
          Tente. Tente que nem este jovem. Acredite — mas, fora do banho-quente, senão ficará enrugado igual a ele.

Fim.

Contos Diversos Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora