Rotina Saudável

6 2 0
                                    

O DIA COMEÇOU, e o troll acordou com o pé errado.
       Malborus ajeitou a posição torta. Vestiu sua regata branca, e sua calça moletom preta. Levantou-se do colchão fino, colidindo os chifres de cordeiro no teto. Ao sair, lembrou de abaixar a cabeça ao passar pela porta. Atravessou a minúscula cozinha. Pegou entre um cabide preso à maçaneta do banheiro, um colar com dentes de vários tamanhos. O pôs no grosso pescoço.
       Abriu as cortinas vermelhas, e o feixe de luz solar clareou sua pele morena. Sentiu a melanina agir, conforme o xamã de rua disse. Havia ido semana passada, quando queixou de ardência na pele. O xamã lhe recomendou um banho de sol, toda vez que amanhece. Mas tem que ser ao nascer do sol, senão perderá os raios mais nutritivos da estrela.
       Nisso, passou a acordar às cinco da manhã, e aproveitava para assistir as pessoas do bairro indo ao trabalho. Bebia um café morno, toda vez que sobrava algum. Se deliciou com o vento gelado — um massagista natural, como seu pai dizia —, que sempre fizera cócegas em seus ombros rígidos.
       E havia um cachorro que o visitara toda manhã. Quando verificava pela janela o movimento, via o animal-caramelo deitado, abanando o rabo contra as patas. O acolheu em sua casa, já que no petshop que trabalha, sempre sobrava ração no estoque. Mas o cão sempre partira quando anoitecia.
       Agora, o cachorro não apareceu. Até o momento, não havia movimento; só as buzinas dos carros e os pombos voando sutilmente de poste em poste.
       Algo deixou Malborus inquieto.
       O despertador tocou uma perturbante música contínua no quarto. Afastou da janela, e bocejou, seguindo ao quarto para desligá-lo. Foi quando o minúsculo monitor o revelou que eram duas da tarde.

Fim.

Contos Diversos Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora