In my defense I have none.

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É uma verdade universalmente conhecida que eu, Madeline Mackenzie, não nasci para viver um clichê.

Nada contra os clichês. Eu mesma sou uma consumidora ávida de filmes adolescentes, mas, é que por isso sei o suficiente para saber que aquilo não era a minha vida.

...

Talvez o leitor ache estranho eu começar a narrar a epopeia de minha vida dessa forma, quer dizer, geralmente quando se narra em primeira pessoa, você diz o seu nome e o seu problema porque isso cria empatia com o público alvo, mas, como eu não tenho um, presumo que ninguém se importará muito com o modo como eu me apresente, certo?

Primeiro de tudo, eu sou parcial e tendenciosa. É o meu diário, eu não quero ter empatia com quem ache indevida. Eu não quero fingir que certas coisas não me afetaram, quando afetaram e o mais importante, apesar de tudo, eu sou uma narradora confiável.

Além disso, olha pra mim sabe?

Quer dizer, não literalmente, não tem como olhar pra mim. Mas, se tivesse como, aí você veria que eu sou uma mulher alta de bunda enorme mesmo que não enorme quanto uma Kardarshian e pensando bem talvez minha bunda não seja tão grande assim e, ai meu Deus, eu estou realmente fazendo um monólogo sobre o quão grande é a minha bunda?

Não desista de mim, pelo menos não ainda, leitor. Eu tenho problemas maiores do que o tamanho da minha bunda, embora isso me incomode às vezes (qual é você se incomodaria se morasse em Mônaco há quase dez anos e seu padrão de beleza fossem as mulheres que anunciam a moda praia dos iates em Monte Carlo). E o meu problema tem nome, sobrenome (que no caso dele, são vários) e um par de olhos verdes incríveis (eu não sou escritora. Muito menos Scott Fitzgerald, essa é melhor adjetivação que você terá de mim). Talvez, seja o interesse romântico de nove entre 10 mulheres da minha idade pela atual fama só que eu só o conseguia ver como o garoto prestativo, com o inglês meio travado e com sérias tendências à auto depreciação que eu conheci há alguns anos.

Acho que atingi um bom gancho para falar sobre mim, legal. Sim, eu sei que é isso que se pressupõe de um diário só que agora serei mais específica.

Meus pais são divorciados. Meu pai é um advogado monegasco e minha mãe uma artista inglesa, ela escreve e ilustra seus livros enquanto vive de ser uma figura materna pouco convencional. Eu a amo, não me entendam mal, mas, geralmente, mães não contam exatamente de onde os bebês vêm para uma criança de sete anos.

Sobre meu pai, nós somos bem diferentes. Ele é aficionado por esportes, fórmula 1 em especial, sempre tentando fazer com que eu me interessasse pelas corridas e pelo professor Prost (eu passei mais tempo do que me orgulho achando que Prost realmente tinha sido um professor dele, Lizzie disse que eu tinha o intelecto de um avestruz por não perceber que era de Alan Prost quem ele falava) ou o quanto o GP de Silverstone era algo super legal de se fazer em família, mas, pra mim, eram só carros dando voltas e fazendo barulho. Mesmo que fosse o mesmo lugar que aqueles carros se reuniam para fazer barulho há mais de 50 anos ainda sim, assistimos ao vivo umas duas vezes em lugares horríveis e eu ainda sei imitar os barulhos dos carros.

Os programas em família não duraram muito. Sempre percebi um amor unilateral pela vida domestica quando observava meus pais, enquanto ele era o que me contava sobre o Grand Pix de Mônaco e de tentar assistir escondido dos meus avós na juventude, minha mãe vivia para os seus quadros estranhos e para o seu grupo de amigos intelectuais. Provavelmente, isso a levou ceder a minha guarda ao meu pai sem qualquer objeção minha. Poderia ter guardado rancor? Sim, mas já tinha 13 anos, o que era o suficiente para saber que talvez ela fosse querer mais do que me aguentar na adolescência na pacata Hertfordshire.

Só foi triste deixar a minha melhor e única amiga, a megera de Heath Mouth School, Elizabeth Holmes.

Já volto para ela. Eu sei que você se interessou, pois Lizzie sim é a pessoa que nasceu para viver clichês mesmo que aparentemente seja muito ranzinza para isso.

The 1 | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora