Nota da autora: esse capítulo se passa em 2020 em um universo em que não há pandemia e a Ferrari não faria meu pai ficar triste/com raiva.
Eu estou melhor do que eu nunca estive.
Santo Deus! Faz muito tempo que não escrevo nesse diário!
Alguns podem dizer "o tempo voa quando a gente se diverte", mas, eu sou realista: eu estava ocupada fazendo coisas de adulto.
Pois é? Maluco, não?
Na última vez que eu escrevi, eu estava bem pra baixo e fazendo jus ao meu nome (Maria Madalena sabe? Bíblia? Jesus? Espero que tenha dado para entender) e me culpando por toda a desgraça do mundo sem reconhecer o meu verdadeiro potencial.
E eu tenho o meu verdadeiro potencial, obrigada por perguntar.
Uns dois dias depois, tive uma epifania e decidi: vou ficar na Inglaterra.
(Cara, ainda bem que eu estou conseguindo porque, se isso aqui fosse dito para alguma plateia, consigo imaginar as perguntas e eu ainda nem disse o mais chocante: cortei meu cabelo!).
Eu não peguei nada em Mônaco e não tinha nada além de itens básicos de sobrevivência, que eram o eu mais precisava por um tempo e, também, felizmente, aquele que levo para todos os cantos possíveis: o meu portfólio.
Beijos ao meu pai, que dizia que era inútil trazer ele para a casa da minha mãe, rá! Se não tivesse trago, não seria agora uma aluna de moda na Universidade de Hertfordshire.
Primeiro, eu sei que tem a London College of Fashion, mas, estudar em Londres é terrivelmente dependioso, por isso, decidi repentinamente sobre o curso. A história da arte é de, alguma forma, ligada à moda e as duas coisas são as minhas paixões.
As cores e as roupas que Raffaello usava para caracterizar personagens em seus afrescos demonstram para além do gosto pessoal dele, demonstram o que as pessoas apreciavam consumir (não por um acaso ele era conhecido como o Príncipe das Artes), seu talento para entender aquilo e a interpretação delas, pelo menos acerca do que ele representava nos trabalhos, diz muito sobre a moral pessoal de cada um, a moral que hoje lemos como uma mentalidade coletiva da época. Já parou para pensar que o espartilho foi tratado pela história como vestimenta opressora pelos homens que nunca tiveram que usá-lo? Tudo porquê mulheres pobres ganhavam lucro pela comercialização ou mesmo o usavam como EPI ao exercer trabalhos pesados.
Enfim, divagações de lado, eu também sempre gostei de desenhar e gostava ainda mais de desenhar croquis imaginando que minhas bonecas um dia os vestiram, só que dona Katherine Mackenzie, aka, minha mãe, sempre achou idiota e um desperdício de talento.
Para minha surpresa, na primeira quinzena de janeiro quando contei a ela sobre meus planos, e, pedi para morar aqui, ela autorizou totalmente e completou dizendo que "se isso te faz feliz, eu fico feliz Madeline. Não haja como se essa não fosse a sua casa, isso fere meus sentimentos".
Talvez Laura fosse alguma santa e não eu que tenho o nome de uma. Ou talvez, talvez eu tivesse paranoica com demonstração de afeto e suporte feitas pela minha mãe, as duas hipóteses são plausíveis. Quer dizer, já experimentou as comidas veganas da minha madrasta? Eu não como carne há meses e nem sinto falta.
Sim, há meses.
Estamos em julho de 2020 e eu não piso em minha casa em Mônaco desde dezembro. Mudei meu número de telefone depois que meu celular caiu na lama (viver em Hertfordshire tinha dessas) após o Natal. Esqueci as senhas de todas as redes sociais e nem me importei em criar novas, pois, estava ocupada entre documentos, pinturas, ouvindo os álbuns do Zayn para recuperar o tempo perdido e servindo de apoio moral para Elizabeth, que largou a faculdade depois da pausa de inverno.
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The 1 | Charles Leclerc
FanficMadeline Mackenzie era boa demais para viver um romance clichê e ao oferecer nada em sua defesa além de escritos em seu diário, ela tenta demonstrar o motivo.