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    Nem em todos os meus anos na River Valley eu havia lido tanto como naquelas últimas horas. Soltei a pasta que segurava e cocei os olhos, a fim de despertar. Minha cabeça parecia implorar por descanso, mas ao mesmo tempo sucumbia ao recordar do principal motivo de estarmos todos ali juntos. Durante incansáveis horas, lendo, anotando, discutindo. Tudo pra chegar num bom plano, juntando cada mísero detalhe pra ser usado em um novo julgamento. Precisávamos de todo o esforço possível.

Havia contado para Anna sobre o prefeito, e depois de muita descrença de sua parte a garota pareceu aceitar que o homem era o Diabo encarnado. Relembrou, também, que sempre o achara meio assustador e que o sotaque era parecido com o de Andrew, até porque sua estadia em Croyham fora menor que Carter, que se mudara mais novo. Andrew ainda tinha um resquício de sotaque, o que o deixava mais charmoso.

― Eu preciso de algo extremamente gordurosa e de origem duvidosa agora. ― Keiran se levantou do sofá, onde estava praticamente deitado ao lado de Anna desde que chegamos. Se dirigiu a cozinha, mas parou no meio do caminho ao ouvir Andy comentar:

― Nem gaste seu tempo. Eu já tentei, não tem nada além de latas de molho de tomate, uma caixa de pizza vazia e água com gás.

Keiran esmoreceu, caindo no sofá novamente.

― Carter poderia ter deixado mais coisa. ― resmungou.

Levantei os olhos até ele, erguendo as sobrancelhas.

― Além da própria casa?

O garoto loiro abriu a boca e logo em seguida a fechou, franzindo os lábios. ― Foi mal. O cansaço tá falando por mim.

― Toma ― Andrew tirou algumas notas do bolso traseiro da calça escura e o entregou. ― Vai ao mercado. Preciso de cerveja.

Anna tirou a atenção, até então voltada ao jornal que seguravam, e exclamou ― Eu quero comida japonesa!

― Tá, calma aí, gente! Eu não sou rico não!

Todos olhamos pra ele.

― Meu pai é rico, eu não. Quantas vezes eu tenho que repetir que fui praticamente deserdado? As pessoas naquela casa mal olham na minha cara, e eu...

Andrew levantou da poltrona e deu alguns tapinhas nas costas do amigo. ― Keiran, já entendemos. Ouvimos seu drama todo santo dia. Todo mundo aqui tem traumas familiares também. Agora vai buscar a comida!

Keiran abriu a boca e falou de forma afetada

― Vocês são um bando de insensíveis. Isso sim.

Pegou o casaco e saiu pela porta com um bico infantil na boca.

Soltei uma risada fraca pelo nariz e reli o mesmo parágrafo da notícia sobre o incêndio onde a mãe de Carter e os meus pais, supostamente, morreram. Ainda parecia surreal. No fundo eu tinha esperanças de encontrar meus pais um dia. Depois que soube da adoção, apesar do misto confuso e doloroso de sentimentos, eu sentia essa vontade. Achava que os encontrando eu encontraria uma parte minha, que estava perdida. Mas nunca tive essa chance e nunca terei. Eles foram tirados de mim antes mesmo de eu saber sobre sua existência.

Stay Safe│Duologia Stay #2 [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora