38

53 4 3
                                    

  Tive que me adaptar aos costumes dos brasileiros. Apesar de falarmos a mesma língua, eles têm sotaque diferente.

  Não só isso, também gostei da culinária, da música, em fim de muitas coisas.

  Os dois filhos dos patrões se deram muito bem comigo. Eles têm dez e sete anos de idade e me perguntam várias coisas sobre mim.

  Tive que ganhar a confiança de dona Eliza e só consegui depois de vários dias de convívio com ela.

  Eu estava no quintal quando dona Eliza veio falar comigo.

  - Afonso?

  Virei-me para trás e disse:

  - Sim, senhora Eliza?

  - Preciso que vá ao mercado e compre estas coisas. - Me deu a lista em mãos.

  - Oh, sim! Estou indo agora mesmo.

  - Está bem.

  Fui ao mercado e comprei tudo o que estava escrito. Paguei no caixa e vinha a pé com as duas sacolas nas mãos, pois o mercado era perto da casa onde estou trabalhando.

  Descia a ladeira quando vi dois homens mais abaixo. Parei pois reconhecí que eram os que escravizam as pessoas fazendo-os cortar madeira na mata onde eu escapei.

  Me escondí atrás de uma árvore e esperei eles irem embora. Olhei para ver se já tinham ido embora e vi que não estavam mais ali.

  Respirei de alívio por isso e segui meu caminho até a casa mas sempre olhando para os lados para ver se não estava sendo seguido.

  Chegando lá, entreguei as sacolas à dona Eliza.

  - Aqui estão as compras. - Falei pondo tudo em cima do balcão da cozinha.

  - Muito obrigada! - Agradeceu.

  Eu estava preocupado com o que tinha acontecido.

  - Aconteceu alguma coisa?  - Ela me perguntou ao perceber meu estado de choque.

  - Ah! Na verdade... Sim. - Respondi sério.

  - Por que?

  - É que... - Olhei para os lados - Enquanto eu vinha de volta, vi dois homens que estavam atrás de mim.

  Ela fez uma cara assustada.

  - Te viram?!

  - Por sorte não. Mas me dei de conta que preciso denunciar todos eles que mantém pessoas escravas na floresta.

  - Pois então faça isso!

  - Se me permite, posso ir na delegacia agora mesmo.

  - Quer que eu vá com você?

  Achei isso até estranho já que no começo ela não havia gostado que eu trabalhasse em sua casa.

  - E seu marido?

  - Não se preocupe, ele irá entender.

  - Então tudo bem.

  Fomos até a delegacia. Ela me levou de carro. Entramos e eu fiz a denúncia de maneira anônima.

  Depois voltamos para casa. No caminho do trajeto, conversamos sobre o assunto.

  - Você tem muita coragem em denunciar essas pessoas. - Eliza me disse.

  - Não podia ficar em silêncio enquanto pessoas estão sendo escravizadas. - Respondí. - Eles perderam seus direitos de liberdade sendo obrigados a trabalhar dia e noite, e sem se alimentarem direito. Isso é algo desumano!

À procura do destino [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora