Sinal

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Koenma estava nervoso, tremendo como há tempos não tremia. Ainda que fosse o comandante do Mundo Espiritual, nem mesmo ele tinha permissão para entrar naquele setor sem escolta ou vigia.

Seu estômago parecia estar se contorcendo dentro de seu próprio corpo. Se tivesse se alimentado, com certeza estaria prestes a vomitar. Tentando não transparecer o seu estado caótico, ele aceitou que os funcionários carcerários do Reikai o revistassem minuciosamente. Até porque, ele não tinha outra escolha a não ser colaborar com o procedimento.

As normas da prisão eram rigorosas, ainda mais tratando-se de visitas familiares. O sistema precisava garantir que nenhum prisioneiro seria capaz de fugir com a ajuda de um parente próximo e desesperado o suficiente para arriscar a própria vida em troca da liberdade do criminoso.

Esse, no entanto, não era o caso de Koenma.

Ajudar o seu pai a escapar da cadeia não era o seu objetivo, principalmente considerando o fato de que ele próprio tinha sido responsável pela sua prisão. O intuito da visita era outro. Uma atitude tomada pela ansiedade que a cada dia o dominava. A sua situação no Mundo Espiritual era crítica. Talvez, Koenma estivesse até mesmo com os dias contados. Se alguém podia ajudá-lo, esse alguém era o antigo líder do Reikai.

Mas se Enma Dai-Oh o ajudaria de bom grado, essa já era uma outra questão.

Após passar pela revista, Koenma obteve permissão para entrar na sala onde Enma era mantido como prisioneiro. Sua mão suava quando ele girou a maçaneta escorregadia da porta que o separava de seu pai.

Como antigo rei daquele Mundo, Enma Dai-Oh ainda usufruía de privilégios. O local em que fora confinado estava longe de ser uma cela de prisão convencional. Na realidade, era como se ele agora estivesse vivendo numa enorme e luxuosa suíte. Num quarto amplo o suficiente para deixá-lo bem acomodado, incluindo todas as mobílias e aparelhos necessários para que pudesse ter a falsa ilusão de viver uma vida normal. Koenma se sentiu culpado ao pensar que talvez aquele fosse um final muito benevolente para alguém que havia cometido tantos crimes. Não seria mais justo ele ter sido submetido às mesmas torturas que um dia aplicou a diversos youkais no passado?

Koenma dissipou aquele pensamento, principalmente porque sabia que, no fundo, não era isso que ele realmente desejava. E novamente a sua consciência pesou, dessa vez por sentir compaixão por alguém que não a merecia.

Enma Dai-Oh estava sentado em uma poltrona quando Koenma fechou a porta atrás de si, concentrado na leitura do jornal que segurava bem próximo aos seus olhos. Pelo lado de fora, as trancas da prisão foram acionadas e, de costas para o filho, Enma nem sequer precisou se virar para saber quem havia entrado em sua morada. Quando Koenma apareceu em seu campo de visão, sua expressão não se alterou. Inflexível, ele apenas estudou o atual líder do Mundo Espiritual, avaliando-o de cima a baixo.

Koenma engoliu em seco, petrificado diante daquele olhar analítico. O antigo rei estava em ótimo estado. Não tinha mudado absolutamente nada desde a última vez que o viu.

— Finalmente se lembrou de que tem um pai — Enma não fez cerimônias ao provocá-lo, jogando na mesa de centro o jornal que lia.

— Como você está? — Koenma respondeu, ignorando a alfinetada recebida. Ele não tinha intenção alguma de provocar uma discussão naquele momento, embora soubesse que apenas adiava o inevitável.

— Preso, desde que o meu próprio filho se encarregou de me trancafiar nesse lugar. Durante todo esse tempo você não teve sequer a decência de vir me visitar. O que veio fazer aqui hoje?

Yu Yu Hakusho - A Saga dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora