Pendências e Compromissos

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YUSUKE POV

Keiko e eu acordamos cedo, ansiosos para irmos direto ao templo da falecida Genkai [1]. Eu estava completamente envolvido pela nostalgia, enquanto subia lentamente as escadas em direção à entrada do local. A velha deixou suas terras para todos nós de herança e agora seus herdeiros se reuniriam justamente aqui. Um misto de emoções se apossava de mim.

Ficava triste por lembrar que Genkai já não estava mais presente em nossas reuniões, afinal seus treinos e conselhos me faziam muita falta. Mas também ficava feliz por ter tido a chance de conhecê-la e de me tornar seu discípulo. Não tenho palavras para agradecer por tudo que me fez.

Entramos no templo, nos deparando apenas com a figura carrancuda de Hiei. Estava sentado no sofá de braços cruzados e olhos fechados numa expressão severa. Parecia impaciente, o quê, vindo dele, não era uma novidade.

— Olha só...quem é vivo sempre aparece! – Gritei em euforia, recebendo uma expressão de reprovação em resposta – Achei que nunca mais ia te ver, Hiei. Como é que vão as coisas?

— Não precisa ser escandaloso, Yusuke. Estou bem.

— Pelo visto você não mudou nada, continua o mesmo mal educado de sempre. Deveria perguntar como estou de volta, sabia?

— Eu não faço perguntas cuja resposta não me interessa.

— Vixe...que mau humor, hein? Acho que o serviço de patrulheiro não tem te feito nada bem. – Provoquei ao sentar do seu lado. Sabia que ele odiava o trabalho a que foi imposto.

Keiko o cumprimentou com um simples aceno da cabeça, até porque ela ainda tinha receio dele desde o dia em que ele a sequestrou, embora eu já o tivesse perdoado por isso. Ele desviou o olhar em menosprezo. De qualquer forma, eu sabia que no fundo Hiei gostava de nós, por mais que tentasse demonstrar o contrário por meio de comportamentos pateticamente frígidos.

Keiko decidiu ir ajudar Yukina, enquanto eu fiquei à espera dos outros, apenas arrancando algumas palavras monossilábicas de Hiei ao perguntar sobre o governo de Enki no Makai. Não demorou muito até que todos chegassem, um por um em sequência. Kuwabara surgiu ofegante na porta do templo, cansado pela enorme escadaria que havia acabado de enfrentar. Kurama veio em seguida e por fim, Koenma e Botan chegaram juntos completando o time. Logo a sala acabou imersa num zumbido frenético causado pela mistura de vozes se cumprimentando.

Kazuma estava com uma cara de bobo apaixonado enquanto conversava com Yukina na tentativa de ser prestativo em alguma tarefa no templo. Ela recusava seus serviços sem graça, dizendo que já não havia mais nada pra fazer e mesmo assim o cara continuava tentando mostrar sua utilidade. Como ele conseguia ser tão lerdo? Se dependesse de uma declaração de amor pra viver, ele já teria sido cremado há anos.

— Nossa, fazia tempo que não nos encontrávamos aqui, não é? – Kuwabara exclamou sentando ao meu lado, percorrendo cada centímetro da sala com o olhar sentimental. – Uma pena a Genkai não estar mais com a gente.

A lembrança fez com que a agitação de todos fosse diminuindo até cessar por completo, de forma que ficamos em silêncio por um momento. Esse era um assunto que vivíamos evitando proferir em voz alta, mas aqui nesse lugar era impossível. De relance, achei ter visto Botan tentando esconder o rosto ao lagrimar.

— Genkai aceitou muito bem sua morte, pessoal. Não precisam ficar assim toda vez que vierem pra cá. Todos os seres vivos morrem, alguns mais rápido que outros. A hora dela havia chegado, ela entendeu e aceitou de bom grado. Sua alma foi recompensada e descansa em paz.

As palavras reconfortantes de Koenma fizeram com que erguessemos a cabeça, sabendo que ele estava certo. Genkai não iria querer nos ver desse jeito, aliás, aquela velha louca ficaria irritadíssima se entrasse pela porta e nos encontrasse nesse estado. Tive que reprimi um sorriso ao imaginar a cena.

Yu Yu Hakusho - A Saga dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora