Fora da Curva

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KIARA POV

Izumi me entregou o arco, as flechas e os pergaminhos. Não parecia ter muita confiança em mim, coisa que não fazia questão de esconder. Do contrário, a sua expressão de desgosto era transparente até demais.

— Tem certeza de que sabe usar essa arma? — ela perguntou, verbalizando a dúvida.

Analisei o equipamento. O arco era um pouco maior e mais pesado do que aqueles que usávamos no mundo dos humanos, mas o mecanismo em si era o mesmo. Provavelmente não teria problemas com ele.

— Já disse que sim. Mas você só tem essas flechas?

— Nossos recursos são escassos, não podemos gastar tantos amuletos e flechas de uma vez só. Nossa produção é limitada, já que não podemos sair da montanha pra conseguir mais. Cinco tiros não bastam?

Espero que bastem.

— Bastam, é claro.

Mesmo sabendo que o youkai dimensional caçava apenas demônios do gelo, eu fiquei apreensiva ao sair do bunker. Tinha a sensação de estar sendo vigiada, mas obviamente isso não passava de uma impressão idiota. Pelo menos, nada de ruim aconteceu.

Tentei me manter aquecida, levando comigo um grosso manto que tinham me emprestado, mas aquilo foi inútil. A nevasca estava ainda mais forte do que antes. Eu tinha que ser rápida, se não quisesse congelar ali mesmo. Me afastei então da entrada do esconderijo para me posicionar a uma certa distância, escondida por trás de alguns morros de neve, mas com uma visão privilegiada do local onde havíamos combinado de fazer aquele demônio dimensional aparecer.

Na ponta de cada uma das flechas, amarrei os pergaminhos capazes de destruir o núcleo daquele youkai. De acordo com Izumi, uma arma comum jamais poderia ferir um demônio dimensional, mas os amuletos eram próprios para isso, então, ao atingirem o núcleo, o mais provável é que o destruíssem na mesma hora.

Ajoelhei onde estava e, me colocando em posição de ataque, puxei a corda do arco, impulsionando a primeira flecha. Em seguida, aguardei.

A neve caía sobre mim sem piedade, molhando o meu rosto e mãos. Segurei o equipamento com firmeza, temendo que os meus dedos escorregassem sobre a madeira a qualquer momento. Um erro mínimo seria fatal para Izumi. Mesmo que a contragosto, ela confiou em mim e, se estava tão desesperada a ponto de deixar a própria vida nas mãos de uma desconhecida, falhar estava fora de questão.

Inspirei fundo, tentando me concentrar no que fazia.

No entanto, fosse pelo frio ou pelo peso da responsabilidade, eu tremia como nunca tremi antes. Odiava admitir, mas já não tinha a mesma confiança de antigamente. Estava enferrujada. Há muito tempo não treinava ataques à distância e, embora a minha mira costumasse ser muito precisa, a falta de prática poderia ser um problema.

Tensa, contraí o corpo quando vi Izumi sair do esconderijo, dando início ao nosso plano.

Ela foi paciente ao esperar que o youkai aparecesse e, se estava sentindo medo, nem sequer demonstrou. Sua expressão era tão fria quanto o clima naquela montanha. Talvez, até mais. Acho que já estava acostumada com a adrenalina de viver como uma caça em constante perigo.

Mais do que preparada para servir de distração, Izumi rapidamente desviou do primeiro ataque do demônio faminto. De longe, acompanhei apreensiva os tentáculos negros emergirem do solo com violência. Ela era rápida e usava o gelo a seu favor, deslizando no solo para aumentar sua velocidade. E, dessa vez, ela não era a única isca.

Yu Yu Hakusho - A Saga dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora