Amarras do Passado

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Para Hiei não havia nada pior do que depender de alguém. Ele preferia agir sozinho, sem ninguém para palpitar nas suas decisões ou ditar o que ele devia ou não fazer. A sua liberdade era uma das poucas coisas que ele ainda prezava em sua própria vida. No entanto, naquele momento, ele teria que admitir que Kurama estava certo. Dentro do labirinto de túneis subterrâneos, Yukina, Kiara e Kuwabara eram indetectáveis. Sozinho, não havia nada que ele pudesse fazer ali para encontrá-los. Nem sequer sabia qual caminho tomar.

Por isso, não teve outra alternativa a não ser aceitar a companhia de Yusuke e Seizan, um dos youkais do reino de Raizen que se voluntariou para guiá-los naquele lugar.

Foi no meio do caminho, porém, que eles foram obrigados a parar. Chizu, acompanhante de Kuwabara, Kiara e Yukina, estava sentado diante de uma gangue de youkais serpentes, cujos membros agora estavam mortos; as suas armas afiadas e robustas estavam espalhadas pelo chão, sem mais nenhuma serventia. Em frente a eles, Chizu ofegava com força, sustentando a mão no quadril, onde havia uma laceração profunda que o tornava simplesmente incapaz de se mover. A hemorragia era severa.

Seizan foi o primeiro a socorrê-lo. Rápido, checou os seus sinais vitais. Chizu ainda estava consciente, mas não permaneceria daquele jeito por muito tempo. Seu estado exigia pressa em receber cuidados. Seu companheiro o levantou, carregando-o para que pudessem prosseguir. Com dificuldade, Chizu os explicou sobre como foram atacados e como conseguiu manter os inimigos longe dos Kuwabara, Kiara e Yukina, deixando que eles escapassem pelo caminho por ele indicado, onde seriam escoltados em segurança até Gandara.

Eles se apressaram, no entanto, ao chegarem na bifurcação final que os levaria para a saída próxima de Gandara, forçaram uma nova pausa. Dessa vez, por iniciativa de Hiei. Atrás dele, Yusuke e Seizan o imitaram, tentando compreender a parada brusca e repentina.

— Qual é o problema? — Yusuke se aproximou — Não temos mais tempo a perder.

Hiei não respondeu. Sabia que naquela escuridão nem mesmo os youkais mais fortes eram capazes de captar todos os detalhes do terreno. Se o demônio não possuísse uma visão altamente desenvolvida, muitas coisas passariam despercebidas num lugar como aquele. Esse era o caso de Yusuke e o subordinado de Raizen, totalmente dependentes de iluminação para enxergar com clareza. Com a força que possuíam, podiam pressentir a energia maligna de outros youkais, enxergando-os ou não, mas, às vezes, dependendo da situação, tanto poder não servia para nada.

Por isso, Hiei se dirigiu à entrada esquerda da bifurcação. Tal como Yusuke, ele não havia nascido com a capacidade de enxergar no escuro, mas o implante do Jagan mudava tudo. Ali, jogada no solo, havia uma faixa. Ele a recuperou do chão e a examinou com cuidado o sangue contido nela. Estava úmida e encharcada.

— Sabe se algum dos três estava ferido? — perguntou então para Chizu, que ainda lutava para não perder a própria consciência..

— Um deles estava mancando, mas não perguntei o que aconteceu.

— Por que a pergunta, Hiei? — Yusuke questionou — O que você achou aí?

— É uma faixa usada pra aliviar a dor de um ferimento profundo. Bem parecia com as que o Shigure usa, isso se não for exatamente igual.

— Tá coberta de sangue — Yusuke a tomou da mão de Hiei, preocupado — Acha que é de um deles?

— Só pode ser. Não tem outra explicação. O sangue é fresco demais pra ter sido deixada aqui há mais tempo. Devem ter ido por esse caminho.

— Impossível. O caminho para Gandara é o outro. Por que eles iriam pelo lugar errado? — Seizan questionou — Eu até entendo que um deles possa ter se confundido, mas os três? Não é meio improvável?

Yu Yu Hakusho - A Saga dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora