Funeral

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As mãos de Koenma ainda estavam sujas de sangue. Com tanta coisa acontecendo, ele não tinha tido tempo de lavá-las. Suas roupas estavam na mesma situação, com diversas manchas vermelhas espalhadas pelo tecido bege que vestia. Qualquer um que olhasse para ele naquele estado, pensaria que ele tinha cometido um homicídio. Sua expressão aterrorizada e perturbada poderia corroborar com isso. O assassino, porém, não era Koenma, mas sim Ootake.

Pelo menos, era assim que Koenma estava se referindo ao líder do esquadrão espiritual, pois, por mais que Ootake tivesse tentado justificar as suas ações, na opinião de Koenma, matar alguém que não estava oferecendo perigo algum não poderia jamais isentar o criminoso da culpa. Mesmo que o criminoso fosse movido por um motivo muito forte. Um motivo que estivesse além da compreensão de todos.

Sentado em uma cadeira em frente a recepção do que seria o necrotério do hospital designado ao Mundo Espiritual, seus olhos marejaram e ele sentiu um profundo vazio no peito. De longe, ouviu os passos apressados que convergiam em sua direção ecoando pelo corredor vazio, mas ele não levantou os olhos para encarar Botan, nem mesmo quando ela o chamou.

— Senhor Koenma! — sua voz soou cansada e ofegante, já que ela vinha correndo o mais rápido que podia.

Ele continuou olhando para o chão e não percebeu que ela também chorava. A notícia tinha se espalhado rapidamente por todo o Reikai e, ao chegar na guia espiritual, ela não pensou duas vezes em correr ao encontro de Koenma para que ele próprio confirmasse o que tinha acontecido.

— Senhor Koenma...— ela o chamou novamente, abaixando o tom de voz — Olhe pra mim.

Ele atendeu o pedido e limpou o canto dos olhos antes de encará-la.

— Obrigado por vir, Botan — ele disse por fim.

— Como o senhor está?! Por acaso se machucou? As suas mãos...

— Não — ele a interrompeu rapidamente — Esse sangue não é meu. É de Kiara.

— Como isso tudo foi acontecer? Por quê?! — a voz de Botan tremeu e uma lágrima tímida escorreu pelo seu rosto pálido — Eu sinto muito! Você não merecia passar por nada disso. Não é justo!

— Não, não é.

— Eu ainda não consigo entender. Por que Ootake atirou em Kiara? Por que fez isso com ela e também com...com você?

Koenma deu um riso sarcástico e efêmero.

— Ele demonstrou que é capaz de tudo para provar o que quer. Não importa a quem precise machucar. Canalha imbecil.

— Ootake já está reerguendo a barreira entre os dois mundos e Yusuke e os outros ainda estão no Makai. Há guardas por todas as partes. Eles estão expulsando os youkais daqui e vigiando as passagens principais. Eu queria avisar Yusuke sobre o que aconteceu, mas como vou fazer isso sem que me notem?

— Não sei, Botan. Estou tão perdido quanto você. Perdi o acesso ao Reikai e estou de mãos atadas. Não consegui nem impedir todo esse desastre.

— Mas isso não é sua culpa! Nada disso é! Você não tinha como saber que iam...

— Está enganada! É culpa minha sim. Essa morte eu vou carregar pra sempre, Botan. Fui eu que despertei a curiosidade de Ootake. Fui eu que o coloquei em alerta e fui eu que inconscientemente causei tudo isso.

Botan não respondeu. Atrás dela, a porta da sala de autópsia se abriu e a médica responsável chamou pelo ex-líder espiritual.

— Senhor Koenma? — o olhar dele caiu sobre ela — Já pode entrar para fazer o reconhecimento visual e prosseguirmos com os trâmites.

Yu Yu Hakusho - A Saga dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora