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// AVISO: o capítulo possui descrições de cenas fortes, como violência física e abuso psicológico. Coloco no decorrer do capítulo o início de parágrafos, símbolos e pontuações em negrito como uma forma de aviso sobre quando essas cenas ocorrerão. Caso sintam-se desconfortáveis e não consigam lê-las, podem pular. //

Becca

A visão embaçada e a falta de luz me impediam de ver com clareza o que estava acontecendo. Eu sentia o meu coração pulsar incontrolavelmente enquanto os meus pulmões puxava com força o ar, me fazendo ofegar entre os soluços. Tudo aconteceu tão rápido que eu não conseguia ter certeza se fora tudo real e eu apenas estava delirando.

O som do motor de uma moto sobressaltou sobre o meu choro incessante, e logo ouvi passos apressados pela rua deserta. 

"Becky?" a voz de Harry transmitiu uma onda de calmaria pelo meu peito, mas ao mesmo tempo elevou o meu estado de pânico.

O que ele pensaria quando me visse assim? 

Eu não tive coragem de olhá-lo, apenas me forcei a diminuir o volume de lágrimas e soluços que se tornavam o som ambiente da rua e tentei respirar fundo.

"Becky... O que... O que houve?" ele perguntou, caminhando até mim.

Os passos se apressaram e então pude vê-lo agachado diante de mim, os olhos arregalados em preocupação e os lábios rosados entreabertos, como se buscasse alguma coisa para dizer. Harry ergueu as mãos na minha direção, com a intenção de me puxar para um abraço, mas o meu reflexo foi me afastar. O meu subconsciente berrava para que eu o abraçasse e rezasse para que tudo não passasse de um pesadelo, onde eu acordaria assustada e suada; mas a minha cabeça respondia que eu precisava ter cuidado.

"Becky" Harry se afastou, com uma tristeza na voz. "Becky, fala comigo" ele pediu, com a voz baixa.

Flashes passavam pela minha mente, tentando arrumar a ordem de como tudo aconteceu. Eu não sei se teria coragem de dizer tudo.

Eu observava os olhos de Harry caminharem pelo meu corpo, notando o estado em que eu estava, aumentando ainda mais o seu estado de preocupação. Eu tenho que dizer. Eu preciso.

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O jantar na casa da minha mãe estava ainda perfeitamente bem, por incrível que parecesse. Havia alguns convidados na sala de visitas tomando vinho e beliscando algumas coisas que os novos empregados serviam em uma bandeja de prata. Do outro lado do cômodo, pude ver minha mãe sorridente, conversando com os últimos convidados que estavam chegando. Ela ajeitava o cabelo e brincava com o homem que aos poucos surgia no meu campo de visão, com um enorme sorriso no rosto, ao lado de uma mulher muito bem vestida, que logo reconheci ser sua mãe. Pisquei algumas vezes para ter certeza de que eu não estava delirando, e quando ele percebeu que eu estava ali, alargou um sorriso e acenou, chamando a atenção da minha mãe.

"Só pode estar brincando" murmurei, me virando para o outro lado, à procura do meu pai.

Conferi o relógio segundos antes de um dos empregados, que ainda não havia aprendido o nome, avisar que o jantar seria servido. Eu não podia e nem queria me atrasar para o show. Queria ver as novidades que Harry disse que eles estavam planejando e as novas músicas que ele não me deixou escutar durante os ensaios.

"O que ele está fazendo aqui, mãe?" perguntei, quando a mesma tocou no meu braço, me levando com os outros até a sala de jantar.

"Rebecca se comporte. Eles são meus convidados" ela abriu o sorriso novamente.

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Quando o flash terminou, me vi novamente ali, diante de Harry, aos prantos, enquanto ele parecia assustado o bastante por não poder me ajudar.

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