Memórias póstumas de Anahí.
Oh, sentia-me morta, perdida na profunda escuridão, sozinha em um pleno deserto, e quando o senti, senti-o dentro de meu corpo, sendo parte de mim, desde daquele momento me dei conta que éramos uma única vida, estava compartilhando de minha vitalidade para um ser tão precioso que estava à vir ao mundo, à esse mundo tão cinza e cruel; entretanto, meu filho seria a luz que iluminaria meu escuro caminho. Estava certa, meu querido Manuel Puente mudou a maneira de como passei enxergar minha existência, trazendo esperança para meus dias pacatos como esposa de um político corrupto. Oh céus, o que fiz com a minha vida? Foram tantas as vezes que fiz a mesma pergunta para meu consciente em desvaneio, como matei a Anahí viva? Como morri aos poucos? Entreguei a minha liberdade nas mãos de um homem de má fé, de um escrúpulo que se esconde nas aparências de um cristão piedoso, um grande pai de família e filantrópico político com a população indígena do México; entretanto, sua crua verdade é horrenda. Meus dias são amargas ao seu lado e as virtudes da minha vida passada me tomba em uma completa nostalgia. Não recordo de como é dar um sorriso com felicidade ou de como é ter um orgasmo de verdade, oh sim, recordo-me bem de como é ter um máximo real e sinto falta de ser uma mulher de verdade. Sinto falta de ser uma artista, de cantar, de dançar, de ser livre e apaixonada pela vida, sentir nas veias a química eletrizante de estar nos palcos junto de minha gente, de meus queridos colaboradores para Anahí artista ser Anahí artista, estar com eles e ser uma mulher feliz não faz mais parte dos planos arquitetados pela elite política mexicana, Manuel Velasco -o senhor meu marido- necessita zelar por sua importantíssima imagem pública e alcançar à presidência do México; para se tornar presidente da república é fator importante ser um homem com uma família estabilizada e com boas aparências na mídia. O maldito PRI, e com o PRI temos a história de Enrique Peña Nieto e Angélica, que ao senhor Nieto deixar a presidência, Angélica se viu livre de seu pesadelo vivendo como esposa fantasma do presidente do México. Quando reflito sobre minha vida, penso se um dia chegarei à realidade de Angélica, ser uma mulher livre; talvez ocorrerá quando Velasco se aposentar como político? Todavia, quanto tempo poderá demorar? Quando for uma velha ou ter morrido fisicamente de tanta infelicidade?
Cidade do México, México.
-Oh, minha senhora, se me escuta, diga-me que logo esta tempestade extensa passará...
Com um tom baixo suplicou a mulher de madeixas claras longas, ajoelhada à frente da estátua de Virgem de Guadalupe, na Basílica de Guadalupe, na Cidade do México.
-Sei que nos últimos tempos não a visitei, mas sempre estou conversando contigo seja de aonde seja que esteja, seja nos meus mais profundos momentos de dor e martírio, suplico-a por dias melhores, minha querida protetora, suplico-a por minha liberdade.
-Vamos, minha filha, os seguranças estão vindo!
Soou a voz tremula ao seu lado, quando a fitou, seus olhos azuis estavam marejados, era sua mãe que com as mãos em seus ombros oferecia apoio para levantar-se.
Marichelo acompanhou a filha ao veículo preto que as esperavam, escoltadas por seguranças de Manuel Velasco. Da maneira apresentada, era como Anahí Portilla se encontrava, presa nas garras de seu marido, o qual acompanhava seus principais passos.
Às vezes penso em como poderia acabar com minha vida da maneira mais banal possível, no entanto, no meio de tanta maldade há uma criança límpida que necessita de meus cuidados e amor, rogo para que Manuel Velasco viva de maneira mais distante de meu filho para que o mesmo não seja infectado com as manipulações psicológicas daquele monstruoso ser. Oh céus, parece-me que meu pesadelo só está pela metade, ao chegar da basílica com minha mãe, pude escutar uma parte da conversa de Manuel com o presidente de seu partido, na próxima eleição o senhor meu marido será candidato à presidência e será pautado por um magnata mexicano que possui os melhores recursos tecnológicos da América Latina para burlar as urnas; de todo modo, logo passarei pelos ensaios de ser a primeira-dama do México, deste modo, minha história se cruzará com a história de Angélica Riviera.
Em agosto de dois mil e dez os planos da grande emissora nacional em suma com o PRI -Partido Revolucionário Institucional, que governou o México por décadas- eram postos em ação, iniciavam um projeto para arquitetar uma vida exemplar para o jovem político Manuel Velasco Coello alcançar à presidência do país nas futuras eleições; várias atrizes da Televisa foram escaladas para tal projeto, mas a ponta da caneta caiu sobre meu nome, e sim, já havia passado meus piores momentos naquela emissora que tanto explora seus funcionários; naquela época, estava feliz com um homem incrível que tanto me trazia felicidade, entretanto, a mesma emissora que nos levaram aos ápices, nos tiraram os chãos. Anahí Portilla seria a cogitada para ser esposa do futuro presidente do país, e em conjunto com a notícia, minha vida iniciava a ser dilacerada. Todavia, com todas as restrições do contrato imposto, deram-me a oportunidade de romper com Alfonso pessoalmente, e naquele dia, minha vida foi levada quando ele virou as costas para mim, levando os piores pensamentos sobre minha pessoa. Em dois mil e dez, já havíamos iniciados vidas fora da banda e decidimos que começaríamos juntos neste novo campo de trabalho; nossos planos duraram poucos meses, quando a notícia me fez tomar duras decisões; coloquei um fim sobre a minha história de amor com o grande homem de minha vida e embarquei em uma vida de mentiras e aparições, em um cárcere privado -é o que dizem os tabloides, que vivo um cárcere - e eles estão certos, as teorias mais malucas e exageradas de nossos colaboradores estão corretas, vivo um casamento de fachada sim! Alfonso Herrera é o homem de quem sou profundamente apaixonada sim!
-Boa noite, querida, temos um jantar com Gutierrez e sua esposa!
Diz Manuel, deixando um beijo na bochecha direita de sua esposa.
-Acabei de chegar, estou cansada, Manuel!
O homem presunçosamente sorriu, levantando-se da cadeira de seu escritório.
-Eu não lhe pergunto, eu lhe afirmo, arruma-se, não deixarei meu secretário de Estado esperando.
E lá estava eu, em frente ao espelho, olhando o meu reflexo, o reflexo de uma mulher morta, sem vida, sem sonhos, sem sentimentos bons no peito. Deus deve estar cansado de escutar minhas lamentações, mas é só minhas lamentações que tenho no momento e infelicidade. O que seria se meus planos continuassem em minhas mãos, talvez hoje estaria casada com o meu grande amor? Com nossos filhos? Vivendo um sonho colorido? Oh, meu príncipe azul, sinto sua falta por todos estes anos longe de você!
A exuberante mansão em arquitetura clássica no bairro Coyoacán, na capital mexicana, estava iluminada por todos os cantos. Hernando Gutierrez esperava ao lado de sua esposa o político e futuro presidente do país, Manuel Velasco.
-Sejam bem-vindos senhor Velasco e senhora Velasco.
Saudou o homem de cabelos grisalhos em terno de corte italiano.
-Espero que desfrutemos de um bom jantar e arquitetemos os melhores planos para o futuro chefe de Estado deste país.
Como era os jantares de negócios? Não tenho muito de dizer deles, pois ao lado de Velasco sou um repleto robô que possui mecanismos para concordar dos exitosos discursos políticos que ressalta. O meio político é cheio de sujeiras e podridões, e eu só quero estar fora deste campo de corruptos.
Nos dias pacatos na residência em que divide com seu marido, a triste mulher perambula pela imensidão dos cômodos -todos mobiliados com os mais belos móveis - no entanto, a depressão que rondava Anahí lhe fazia sentir a pessoa mais infeliz do mundo, seus dias eram todos iguais, exceto quando tinha algum compromisso político para acompanhar seu marido. De uma das artistas mais consagradas do pop latino para uma mãe de família, uma dona de casa que não possui liberdade de seus atos, vivendo a mais pura prisão dentro de um casamento de contrato, mas claro, tudo pela candidatura do senhor Velasco. Sobre Anahí Portilla, a grande Televisa fatura milhões em dólares estadunidense todos os meses, a famosa emissora vendeu Anahí para o partido político mais influente no país, para ser a boneca de um político que necessitava esconder suas facetas homossexuais ou a meta de ser presidente do México seria descartada previamente. A carreira de Anahí havia sido colocada em hiato eterno para a carreira política de Manuel alavancar-se.
"Eleições de 2018, Manuel Velasco, segundo as pesquisas mais recentes, é o candidato com mais chances de alcançar à presidência do México."
Leu Anahí nos jornais da manhã do país, enquanto compartilhava de seu café com o marido.
-Ótimas notícias, minha primeira-dama.
Manuel deixou um beijo em sua cabeça, deixando-a só à mesa.
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A primeira-dama
FanficA vida é um mar instável, uma ressaca de janeiro, para Anahí, a vida se transformou em um campo de grãos queimados, devorados pelas chamas do mais ardido fogo; há dez anos atrás, foi corrompida de seus sonhos, de sua carreira e de seu grande amor, p...