Prólogo

16.9K 413 59
                                    

TOBIAS

Não haverá conserto.
O coração dilacerado não tornará
a sentir a vida como antes.
A esperança é insuficiente quando a razão e a lógica pesam sobre ela como uma pedra pesada
sobre uma flor.

Quando as cinzas de Beatrice Prior perderam-se ao vento sobre a Avenida Michigan, partículas de minha alma as acompanharam. Essa é a melhor maneira de descrever a minha situação após sua morte. Incompleto, destruído, desolado. Espalhado pelo infinito; como pétalas de uma flor que fora violentamente sacudida por uma ventania. Tantas pétalas que jamais seria possível recuperar cada uma delas. Uma, ou outra, o tempo certamente traria de volta; mas nunca todas elas. Nem o mais astuto ser humano seria capaz de resgatar as pétalas dessa flor. Assim como eu jamais terei de volta as partículas que me foram levadas.

O ser humano não foi feito para superar mortes. Quando se passaram dois anos e meio da morte de Tris, eu estava me acostumando com a ideia de que a vida nos conserta e nós consertamos uns aos outros. Não que esse pensamento seja totalmente errado; mas, em parte, ele não é um absoluto irrevogável. Agora, três anos e dois meses depois daquele dia intenso e frio, eu sei que o tempo apenas nos engana e a ferida nunca se cura. Todos os dias você é torturado com as lembranças de quem se foi.

As vezes me pego fechando os olhos e ainda posso vê-la subindo a escada da roda gigante, olhando para mim com o seu sorriso vívido. Porém, outras vezes eu me perco nas imagens de seu corpo pálido e sem vida sobre aquela mesa. Ninguém supera uma morte. Se há alguém com essa habilidade, ela automaticamente o desqualifica como pessoa.

Qual seria a minha reação ao vê-la novamente? Com certeza não seria de espanto ou surpresa. Quando a pessoa que você mais ama se vai, você jamais perde a esperança de vê-la de novo. Essa expectativa passa a ser parte do seu dia a dia; pois, por mais que você tente, não consegue acreditar na ideia de nunca mais a ver. A explicação para isso? O ser humano não foi feito para superar mortes. Portanto, apesar da nossa clara capacidade lógica de discernir entre o que é possível e o que não é, não temos escolha quanto a ter expectativa de reencontrar nossos queridos mortos. É com base nisso que encontro a resposta da pergunta.

Se eu a visse novamente, a minha reação seria de expectativas alcançadas.

AscendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora