Capítulo trinta e seis - Tris

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4 MESES DEPOIS

"A Divergência é algo extremamente perigoso. Você entendeu bem?"

Hoje de manhã, essas palavras vieram à minha cabeça na forma de uma lembrança agressiva. Lembro de quando Tori falou isso para mim, após meu teste de aptidão. Ela estava realmente preocupada comigo, preocupada com a minha divergência. Sempre que me lembro de Tori, acabo sentindo um grande aperto no coração ao lembrar que ela poderia ter encontrado George em poucas horas se não tivesse morrido. Isso é tão triste. A vida é assim, cheia de ironias e desastres.

Essa lembrança também me fez pensar nas mudanças que ocorreram em nossa sociedade e na minha própria vida. A divergência era considerada uma ameaça gritante à paz da sociedade, mas todos ficaram sabendo que o surgimento de divergentes era o grande propósito do experimento depois que o vídeo de Edith Prior foi revelado. Hoje não vivemos mais isolados e enganados pelo muro. É até difícil de acreditar que eu vivi tanta coisa em tão pouco tempo. Se eu morresse hoje, já teria tido experiências que pessoas muito mais velhas nunca tiveram.
Estou em um quarto do Hospital Regional de Chicago que foi fundado a três meses por Joel e Johanna. Finalmente chegou um dos dias mais esperados da minha vida, vou ser mãe.

- Você está pronta? - pergunta Tobias segurando a barra da cama onde estou deitada.

Eu não estou nervosa ou com medo, mas ele está nitidamente preocupado. Eu esboço um sorriso.

- VOCÊ está pronto? - pergunto.

Ele suspira e tenta sorrir, mas não consegue.

- Não tenha medo, Tobias. Caleb disse que é uma cirurgia muito simples.

- Não estou com medo. - diz ele. - Só estou ansioso para ver essa criança.

- Eu também estou. - coloco meus dedos sobre sua mão. - É uma boa sensação.

Christina entra no quarto.

- O doutor já está vindo para levar você para a sala de cirurgia. - diz ela com um sorriso.

- Onde está o Caleb? - eu pergunto.

- Caleb disse que não tem coragem de entrar na sala, mas eu e Tobias estaremos lá. - ela responde.

Tobias sorri e fala:

- Uma vez marica, sempre marica.

O doutor entra na sala e me faz algumas perguntas. Ele está acompanhado de algumas enfermeiras. Após preencher um papel de contrato da cirurgia, as enfermeiras começam a empurrar a cama com rodas onde estou deitada em direção à sala de cirurgia. Tobias e Christina nos seguem. Durante o caminho até a sala de cirurgia eu me perco em pensamentos. Qual será a sensação que minha mãe sentiu quando ela passou por essa experiência? Não estou sentindo muita dor, mas estou sensível hoje. Será que ela também estava sensível no dia em que eu nasci? Sinto tanta falta dela nesse momento que daria tudo para voltar no tempo, para quando eu tinha apenas doze anos e passava a tarde toda com ela, aprendendo a ser altruísta.

- Vocês podem ficar ao lado dela, mas não podem interferir na cirurgia, tudo bem? - o doutor pergunta para Tobias e Christina que concordam balançando a cabeça.

Chegamos na sala de cirurgia e meu coração dispara. Finalmente vou ver meu filho ou minha filha. Tanto Christina quanto Tobias estão com uma expressão alegre, preocupada e ansiosa ao mesmo tempo. O médico aplica a anestesia que vai fazer com que eu não sinta dor nenhuma quando ele me abrir para tirar o bebê. Tobias coloca sua mão sobre meu ombro e acaricia. Vou estar acordada durante todo o tempo, mas a anestesia causa uma sensação diferente sobre mim, como um sono.
Não sei quanto tempo demora, mas ouço o choro de um bebê, um lindo choro de bebê. O médico corta o cordão umbilical e traz a criança em minha direção.

- É um menino. - diz ele.

O bebê está totalmente sujo, mas meu instinto natural é estender os braços e agarrá-lo junto ao meu corpo. Tobias está com brilho nos olhos e Christina parece estar chorando. Eu estou perplexa com a grandiosidade desse momento. Passo alguns segundos apenas sorrindo com a boca aberta e quando quebro o silêncio essa é a única coisa que eu consigo falar:

- Andrew! Seu nome é Andrew Prior. O nome do meu pai.

AscendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora