Capítulo quatro - Tobias

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- Os Estados Unidos já foram a nação mais poderosa do mundo, Tobias. Agora, tudo o que temos é um governo que oprime as pessoas que eles mesmos 'danificaram' e que não cuida bem do resto da população.

Tenho aprendido muito com meu vizinho Thomas. Ele veio da Margem e é especialista em história. Ele sabe muito sobre muitas coisas. Principalmente sobre a nossa nação. Ele conhece muito bem a história dos Estados Unidos e sabe o que o nosso governo pensa e almeja. Quando eu o conheci ele disse que só veio para Chicago por que não aguentava mais a Margem. Segundo ele, o governo planeja alguma coisa contra Chicago. Não dei muita atenção ao assunto na época, tudo o que eu fazia era me lamentar pela morte de Tris. Eu era apenas um resto de ser humano mais atordoado do que sou hoje, mas agora comecei a me importar muito mais com a cidade, apesar do vazio dentro de mim. Hoje Thomas está falando novamente do assunto que deixamos para trás e agora ele me é de extrema importância.

- O que você acha que eles podem fazer contra nós? Estamos em perigo? - pergunto.

- Bem, Tobias, isso é muito complexo. É como eu te expliquei: nosso país já foi o mais rico e poderoso do mundo. O que, de fato, derrubou as estruturas da nossa sociedade foram os experimentos de engenharia genética. Eles começaram a colocar a culpa dos conflitos sobre os GD's e se iniciou uma guerra de preconceito contra as pessoas modificadas. Isso gerou os experimentos nas cidades, como o de Chicago, com o objetivo de recuperar a pureza genética de toda a população 'danificada'. Eles iniciaram a tentativa de consertar os genes em 2096 e continuam se frustrando com isso até hoje. O governo acredita arduamente que nós somos o maior problema da nação e, devido a isso, acredito que jamais nos deixariam em paz como estamos agora. O meu maior medo é de que a qualquer momento o exército chegue para dominar a cidade, apagar nossas memórias e iniciar outro experimento.

- Imagino que isso seria inevitavelmente fatal.

- Sim. O governo tem um exército muito grande e muito bem equipado. Nosso país sempre possuiu um potente arsenal bélico.

Sinto muito medo ao receber essas informações. Nunca havia pensado a respeito disso, mas agora acredito na possibilidade que Thomas tem especulado. Em consequência disso, percebo a necessidade de falar com Johanna, Evelyn e George. Eles precisam saber disso o quanto antes.

Encerro a conversa com Thomas e me dirijo à sede do governo de Chicago. São cinco horas da tarde. Hoje saí mais cedo, mas todos estarão lá até as seis.

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Ao chegar na antiga sede da Franqueza, sigo para o gabinete de Johanna. Ela está resolvendo alguma coisa do Departamento de Saúde, que é formado em sua maior parte por antigos membros da Erudição e da Amizade. Explico para ela a urgência da minha informação e ela dispensa a mulher com quem estava falando para que possamos conversar. Agora, restando apenas nós dois no gabinete, a explico tudo o que Thomas me falou enquanto ela escuta atenciosamente. Johanna é extremamente sábia e, inicialmente, levanta uma questão que parece destruir tudo o que acabei de falar:

- Mas já se passaram três anos e eles não fizeram nada, Tobias. Como posso acreditar que estamos em perigo agora, se durante todo esse tempo o Governo tem mantido seu acordo?

Apesar de concordar com o pensamento de Johanna, ainda sinto a preocupação se movendo dentro de mim.

- Não sei, mas talvez isso faça parte do plano deles. Eles devem estar nos observando e analisando o nível da nossa "deficiência". O governo nos trata como doentes! Eles sempre nos observaram para estudar nossas evoluções. Talvez estejamos dentro de um experimento, apenas com a impressão de que estamos livres.

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