Capítulo IX - Deixe-a ir

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O enterro foi de madrugada. O tempo estava bom e as nuvens sobrevoavam suas cabeças, deixando apenas resquícios da lua. Eric olhava para o monte de terra desolado.

— Eu sinto muito que tenha ido dessa forma — Pôs a espada em cima do monte como uma espécie de homenagem. Mais um deles havia falecido, a guerra havia tirado mais uma vida.

Ele deixou algumas lágrimas caírem na terra. Era difícil ver mais dos seus partindo. Olhar se voltou para o castelo e lembrou-se da amiga, ele queria vê-la apenas mais uma vez. 

...

Inês chorava sem conseguir controlar-se, nunca imaginou esse final. 

— Você quer escuta-la? — Jaci lhe pergunta.

— Sim, por favor Jaci.

 Procure por mim amor. Você sabe que eu não posso ficar muito tempo, eu sentirei falta do sol morno em minhas costas, sentirei falta do inverno também, esse mundo caótico mas ao mesmo tempo belíssimo de frágeis coisas. Sentirei falta do peso da espada em minhas mãos e de minhas lutas, mas o principal: Sentirei falta de seu sorriso. Eu lhe perdoo depois de tudo querida. Caso eu me for, estarei te esperando perto de uma árvore branca e oca, ela fica entre um salgueiro e um ipê-roxo. Eu sei que consegue me ouvir, percebo isso em suas lágrimas. Adeus Inês...a escuridão está me chamando, ela me chama para que eu deixe essa vida e desapareça nela e sinto que talvez irei. Seja muito feliz e aproveite a vida, do modo que não pude pois foi tirada de mim. Tudo o que eu quero te dizer é que eu te amo e não estou com medo de ir. 

Por dentro Inês estava destruída. Nem toda sua humilhação havia adiantado? Ela teria que fazer o quê? Se ajoelhar? Implorar a deusa como uma cadela sem dignidade? 

— Não Jaci, não me diga que ela... — Inês olhou para o corpo e tentou ouvir resquícios de sua mente, mas estava silencioso.

Alguém está ai? Alguém? Por favor me diga que há alguém aí...

Inês chorava tanto que já estava começando a soluçar e sufocar com a saliva. Então a imperatriz rezou para que aquilo fosse algum tipo de pesadelo, que fosse apenas um sonho de sua cabeça a punindo por não ter ido atrás de sua amada, mas não era e a deusa continuava ali, a olha-la. 

— Não Jaci. Eu preciso, eu preciso dizer a ela como me sinto — O olhar destruído da imperatriz fazia a deusa a olhar com pena.

— Você deveria ter lido melhor os efeitos do feitiço — Abriu um breve sorriso e a imperatriz não compreendeu aquilo - Ainda não é o tempo dela — A Deusa se vai sumindo da vista de Inês.

A imperatriz suspeitou o que a deusa queria lhe dizer e correu para pegar o livro com um desespero evidente. 

"Efeitos colaterais: Falta de respiração e paralização da mente até a cura completa do corpo"

Maldita! Ela sabia disso! -
Amaldiçoou a deusa com um ódio no olhar. Jaci havia lhe pregado uma peça para que deixa-se seu orgulho de lado e percebesse o quanto ama a mulher deitada na cama.

Tem sorte de ser a deusa. 

Jaci se divertia na lua vendo a reação da imperatriz.

...

Finalmente Inês a ver abrir os olhos e ficou ansiosa para ter a confirmação que havia funcionado.

— Márcia — Alegria e alívio eram claros na voz. 

— Inês — Pronuncia com dificuldade e a bruxa lhe dá um beijo na testa sentindo-se aliviada - O que aconteceu?

— Você se feriu e eu lhe trouxe para o castelo — Fez carinho em seus cabelos.

— Você acordou! — Amanda entrou no quarto e andou rápido até a cama. Márcia soltou a mão de Inês que se afastou observando a cena. Amanda a abraçou — Me deu um grande susto. 

— Eu não poderia te deixar — O sentimento antes de alívio de Inês foi substituído por um sentimento de nojo com aquela cena. 

— Vou providenciar algo para beber e comer, vai precisar por conta da quantidade de perca de sangue — E assim Inês se foi deixando as duas mulheres sozinhas. 

...

Márcia ficou no quarto de chefe de guarda. A imperatriz quis que a guarda ficasse próxima a ela, mas a oferta foi recusada. Inês tentou perceber alguma demonstração de afeto de Márcia, mas a guarda só olhava Amanda e a cada olhar a alma da imperatriz se destruía, a cada carinho, a cada beijo, a cada demonstração de afeto o coração da imperatriz ia morrendo lentamente.

Seus olhares se cruzaram por um momento. Qualquer um que reparasse perceberia a dor que cada transmitia. 

A Imperatriz e a Princesa - Marinês (Cancelada)Onde histórias criam vida. Descubra agora