Capítulo XXII

88 20 107
                                    

Antes que eu pudesse perceber, Théo e Lucius tinham se aproximado, rápidos como um par de linces.

- O que aconteceu? - Perguntou Lucius de pronto, mas ele não me olhava, encarava a porta e de certo, farejava Artur.

Dei de ombros, tentando fazer pouco caso.

- Pode parecer confuso, mas nem eu mesmo saberia dizer. - Confessei. - Fui à biblioteca. Encontrei-o no meio do caminho, enquanto voltava e ele começou a se insinuar para mim. - Tentei me explicar. Meu olhar foi automaticamente para Théo. - Ele tentava me convencer sobre como ele era uma... Melhor opção. - Meu rosto tinha iniciado seu processo de rubor. - Quando disse que não me importava, ele fez essa cena.

Meu olhar voltou-se para trás automaticamente. Talvez a ameaça de Artur tivesse me afetado afinal. Engoli em seco e continuei.

- Disse-me que faria entender isso. Ele ser "uma melhor opção". Mesmo que eu não quisesse.

- O que? - Falaram os dois uníssonos num quase grito.

Para minha surpresa, fora Théo quem primeiro tomara minhas dores.

- Ele simplesmente não pode fazer isso! - Falou ele num tom grave. Os seus punhos estavam cerrados, mesmo que todas as vezes que nossas vistas se encontravam, fosse preocupação o que ele transparecia. - Eu não deixarei que ele simplesmente venha aqui e...

- Théo! - O interrompi.

Eu não duvidava da força que Théo podia ter. Acredito que se ele quisesse bater em alguém, o faria. Mas isso não significava que o outro não revidasse. Mas sinceramente, se alguém deveria bater em Artur, esse alguém não seria Théo ou Lucius, seria eu.

- Já passou. - Afirmei, tentando transparecer em minha voz que aquilo não tinha sido nem um pouco relevante. - Além disso, as pessoas estão olhando e já basta ser a novata. - Brinquei. Embora houvesse verdade nos olhares de julgamento. - Não vamos fazer disso algo maior do que é. Essa deve ter sido a primeira vez em que ele recebeu um não. Ainda deve estar aprendendo a reagir.

- E o seu pé? - Perguntou Lucius que só agora parecia ter passado a nos ouvir. - Diga-me, foi ele que machucou?

A voz dele estava tão áspera quanto à língua de um gato. Suas pupilas quase reduzidas a nada significavam que aquele não era mais Lucius, mas sim o Cerberus em sua mais cruel forma.

- Foi um acidente Luc! - Argumentei com o que diria doçura na voz. Podia sentir a ira dele por nossa ligação. E isso poderia causar estrago, muito estrago. - Eu estava com muitos livros e tropecei e acabei machucando o pé. - Me voltei para Théo que tinha olhos mais preocupados que antes. - Foi só uma entorse. Está tudo bem.

Lucius tomou os livros de minha mão.

- Pode ajuda-la? - Perguntou ele a Théo. - Preciso colocar o osso no lugar.

Théo nem pensou duas vezes. Puxou meu braço direito sobre seus ombros e o segurou com a mão correspondente à medida que eu podia me sustentar com apenas uma de minhas pernas e as suas duas, podendo apenas suspender o pé machucado.

- Isso é um exagero! - Afirmei. Embora não estivesse nem um pouco disposta a afasta-lo. - Eu posso muito bem andar sozinha!

- Ah é? - Questionou ele.

Com a mão que prendia minha cintura, Théo atreveu-se a me fazer cócegas.

- Pare já com isso! - Ordenei entre risadas.

- Agradeça por eu não leva-la no colo!

Uma parte de mim estava extremamente receosa de demonstrações de afeto público, mas ele por sua vez, pouco se importava. E embora eu não tivesse considerado ameaçador o tom que ele usara ao afirmar que me faria cocegas, quando suas mãos causaram os espasmos em mim, percebi que Théo causava em mim um divertimento diferente de tudo o que eu tinha experimentado. Era natural e espontâneo.

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora