— Não deveríamos ter vindo. — Respondi a Lucius, chutando a grama sob meus pés.
— Claro que deveríamos. — Ele refutou. — Você fez uma promessa.
— Eu fiz muitas promessas.
Os ombros dele subiram e desceram, eu deveria entender sua consternação, ele estava fazendo isso por mim acima de tudo.
— Nesse caso, pode ser um bom momento para começar a cumpri-las.
— Ainda assim é perigoso. — Falei por fim, não querendo dar-me por vencida.
Novamente, ele deu de ombros.
— Essa é nossa realidade, não é? Acostume-se.
— Mas Marcus...
— É por isso que trouxemos ele, Fine. Você é cautelosa demais para um demônio.
Lucius apontou para o homem que sacudia o braço discretamente balbuciando que "a área estava limpa". Edgar Allan não era tão ruim, afinal.
Já se faziam duas semanas desde que havíamos deixado Andorra e tudo o que isso significava. E o mesmo tempo desde que Edgar tinha nos asilado. Por isso, talvez, parecesse uma ideia estúpida a de voltarmos até aqui.
Mas ainda assim, era onde estávamos. Sentados em cadeiras metálicas, no pátio a frente ao Colégio de Santa Coloma de Andorra, com uma vista um tanto privilegiada do palanque que ocupava a entrada e que ostentava uma fileira de freiras.
Apertei levemente a mão de Luc quando percebi que nossos olhos haviam encontrado o mesmo objeto.
O quadro que estampava o rosto de Madeleine não fazia jus a beleza que tinha se transformado em pó.
— Aquela era... — Questionou Edgar. Respondemos um sim uníssono. — E aquele é o...
— Sim. — Lucius respondeu sozinho desta vez.
O mero vislumbre daquela silhueta já havia me desnorteado. Minha boca havia ficado seca e minha bile subiu alto o suficiente para imaginá-la saltando para fora de mim. Finquei minha vista ao chão e me limitei a ouvir a reação de Edgar a aquilo que acontecia.
Nome por nome começou a ser chamado ao palanque. Tantos familiares. Jessica, que saltitava risonha, Arthur que ainda carregava um olho roxo e Lucius gabou-se por isso (e me convenceu a usar um tanto de magia, somente para rirmos discretamente dele no chão), Catarine que parecia confortavelmente feliz, o de Madeleine – ressaltado in memoriam que nos fez tremer novamente, e o dele.
A voz de Lucius me retirou de meus devaneios.
— Tem certeza que não quer vê-lo?
— Tenho. — Afirmei com força.
— Nem uma espiadinha?
— Não me tente, Lucius.
Eu sentia uma pitada de sua frustração se disseminando no ar. Eu ainda podia vê-lo, mesmo que a distância, isso era mais do que ele poderia dizer.
— Como ele está?
— Bem, ele está sorrindo... Então acho que ele está feliz.
A tristeza veio rápida e rasteira. Prendeu-me em seus braços fortes e me consumiu como tinha se tornado costumeira de fazer.
Ele estava feliz. Mesmo sem nós.
— Não existe mais nós. Não existe.
Eu sussurrei para mim mesma. Vinha repetindo a mesma frase desde que tudo tinha ocorrido. Mas a ferida parecia não chegar nem perto de cicatrizar.
![](https://img.wattpad.com/cover/176864494-288-k254885.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)
Paranormal🐍 Até onde você iria por uma segunda chance? Serafine já foi um anjo, da mais alta hierarquia, mas tudo mudou quando ela quis interferir na liberdade de escolha dos homens. Condenada a uma eternidade num corpo inerte, em Perdição, Serafine s...