Capítulo XXVII

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Théo não respondeu de pronto, seus olhos foram dos meus para os de Madeleine.

Contive a necessidade de olhar para o lago. Envolvi-me com meus próprios braços, meu interior parecia gelar-se.

A pulsação de Théo estava mais acelerada do que o normal. Em sua mão ainda carregava o equipamento de mergulho que Lucius desejava, o mesmo que ambos teriam ido buscar juntos. Parecia ilógico Lucius não ter voltado com eles.

— Onde está o Luc? — Madeleine quem questionou, se aproximando levemente dele — Por que ele não voltou contigo?

— Madie...

— Cadê meu irmão, Théo? — Minha voz teria saído cortante. Por mais que eu apreciasse o zelo de Théo conosco, precisava que ele fosse objetivo.

— Ele saiu. — Respondeu de pronto logo depois de suspirar pesadamente. — Com Catarine e Arthur.

Voltei-me para Madeleine rápido o suficiente para ver sua expressão escurecer-se.

— Não... Não faz sentido. — Eu deixei escapar.

— Eu tentei impedi-lo, Sier. Tentei questiona-lo, mas ele parecia inerte, pareceu até me ignorar. Não me deu ouvidos, simplesmente disse "eu já volto" enquanto caminhava até eles.

Fechei os olhos e chamei-o levemente por nossa ligação.

Não houve resposta, talvez ele ainda estivesse me ignorando. Esse não era um bom momento para pirraças, Lucius. Chamei-o por uma segunda vez.

Madeleine levou a mão ao peito.

— Por que não foi até ele? Por que o deixou sozinho? — Ela questionou. Seus olhos se voltaram para mim, levemente decepcionados. — Eu não o entendo.

— Eu tenho certeza de que existe uma justificativa, Madie. — Afirmei desejando que realmente houvesse. — Para onde ele foi?

— Só o vi atravessando a ponte.

— Vou procura-lo. — Acelerei meus passos, mas Théo se pôs no meio do caminho, com seus olhos questionadores. — Preciso entender o porquê ele está tratando Madie assim, ele a deseja e a rejeita? Lucius é um cão, mas não um canalha, ele não pode fazer isso.

Théo fez que sim com a cabeça em concordância. Selou seus lábios em minha testa, como costumeiramente fazia, antes de se afastar por um tanto.

— Sier... Só tente não brigar, está bem? — Ele pediu. — Você não quer piorar as coisas.

— Não precisa ir a lugar nenhum. — Madeleine disse apressadamente. — Ele está lá!

Segui a direção onde seu dedo apontava, me aproximando da beirada. Enruguei o rosto ao não ver nada além da densa floresta. Madeleine definitivamente não estava bem.

— Não vejo nada... — Sussurrou Théo.

Estava prestes a me afastar quando Madeleine prendeu meu pulso em sua mão e insistiu. "Lá.".

Fechei meus olhos por um segundo. Forcei-me a ir além daquilo que afastava meus sentidos. Ouvi calmamente a gota d'água respingada que atingiu minha bota, a lagarta que rastejava sob a terra e a borboleta que rompia o ar e atravessava os dois lados de Estanys de Julcar. Não demorou muito para que sobrepujando a paz da selva.

Luc demorou ainda mais para tornar sua silhueta distinguível.

— Como você sabia? — Théo perguntou.

E embora a resposta me deixasse tão curiosa quanto deixava a ele, minha atenção fincou-se por completo na visão de Lucius. Tinham surgido numa clareira mais a diante, Lucius tomava a frente tendo Catarine e Arthur em sua escolta.

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora