Capítulo V

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O clamor da multidão atingia proporções ensurdecedoras, e a longa avenida que conduzia da catedral ao palácio era um mar de rostos sorridentes e bandeirolas ao vento.

- Não acredito que sejam tantas pessoas- murmurou Louis enquanto se sentava na carruagem dourada. A aliança na mão esquerda parecia pesada, e ele a fitou com desconfiança.- E também não acredito que estejamos casados.

Girando de modo nervoso o enorme anel de brilhantes que recebera de presente, pensou que estava ali, vivendo uma vida de conto de fadas, entretanto, tudo que desejava era ouvir algumas palavras bondosas do homem sentado ao seu lado.

Passara a tarde anterior com um famosíssimo estilista, que parecia ter acomodado sua agenda de compromissos profissionais para atender ao pedido do príncipe e vestir seu noivo. Em seguida, Louis fora de helicóptero da aviação real até o principado de Eroda, ao mesmo tempo em que o sol se punha no horizonte.

- Adorei o Chalé da Herdeira- disse para entabular conversa.

- Foi construído para minha tetravó, a fim de que ela pudesse fugir de vez em quando do rigor da vida palaciana. Alegro-me que tenha ficado confortável- respondeu Harry.

Fisicamente sim, refletiu Louis, mas em espírito...

Espero ter feito a coisa certa.

Exausto de tanto pensar, acabara adormecendo apenas para ser acordado, em seguida, por um exército de costureiras, cabeleireiros e maquiadores prontos para transformá-lo de um garçom deselegante em um magnifico noivo de um príncipe. Depois, fora levado em meio à multidão entusiasmada para a catedral, na praça principal da cidade de Eroda.

Lembrava de pouca coisa, a não ser de Harry ao seu lado no altar, muito confiante e poderoso, com quem trocara os votos do matrimônio. Naquele momento, sentira que fizera a coisa certa.

Estava dando um pai a seu filho, uma estabilidade que nunca tivera. Raízes e família.

Como isso podia ser errado?

Enquanto a carruagem avançava pela avenida arborizada, Louis lançou um olhar de esguelha para o príncipe, e viu que ele o observava.

Muito bonito em seu uniforme militar, Harry levou a mão de Louis aos lábios em um gesto gentil, que provocou mais gritos entusiasmados da multidão.

- Esse terno vitoriano com véu e cauda foi um grande avanço em relação ao jeans rasgado -murmurou ele.

Louis afagou com respeito a seda bordada.

- É impressionante o que um estilista experiente e famoso pode fazer, embora tenha ficado com medo de tropeçar nos degraus da catedral - retrucou Louis fitando a multidão e mudando de assunto.- Realmente o povo adora seu príncipe.

- Estão aqui para vê-lo, não a mim- replicou ele com frieza.

Porém, Louis se lembrava muito bem do que lera na Internet; sobre a devoção do príncipe ao seu país e a gratidão de seu povo.

Embora não tivesse esperado comandar Eroda, o príncipe assumira essa tarefa, sufocando o sofrimento pessoal a fim de trazer estabilidade a um reino em turbulência.

E o povo o amava por isso.

- Alguma vez desejou não ser um príncipe?

A perguntou escapou antes que Louis tivesse tempo de pensar.

- Você tem o dom de expressar verbalmente coisas que os outros mantêm em segredo - murmurou Harry, relaxando no assento da carruagem.- E a resposta é não. Amo meu país.

A Primeira Noite || l.s mpregOnde histórias criam vida. Descubra agora