𝐎𝐧𝐞.

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"Provavelmente não vale a pena..." aquela moça que se imaginou como uma heroina murmurou

" aquela moça que se imaginou como uma heroina murmurou❞

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𓋲

A chuva acaricia amigavelmente a parte externa da janela.

Talvez aquele quarto estivesse mais molhado que a grama verdinha afora da casa.

A garota secou o rosto choroso com as costas da mão, levando seu olhar a porta, onde pôde ver a figura masculina encostada no batente.

- Professor, já acordou? - O mais velho adentrou o quarto, ainda com os braços cruzados, sentando-se sobre a cama bagunçada.

- Já, mas parece que você nem dormiu. - O sorriso feminino aqueceu o coração do mais velho.

- Eu estou bem. - E voltou sua atenção a janela novamente.

Era um silêncio confortável. A chuva serviu como uma caixa de som natural, agraciando os ouvidos de todos os seres acordados cedo da manhã naquele dia.

- Gostou da minha nova invenção? - Natori perguntou para a garota.

- É interessante. Quero dizer, eu não preciso de uma tesoura que faz barulho quando corta, mas pode haver alguém que precise.

- Algumas pessoas dizem que o som é satisfatório e... Uh? O que é isso? - Apontou para o joelho machucado da garota. - Tsc! Você é tão desastrada. - O cientista se levantou, caminhando quarto a fora e deixando a garota sozinha, novamente.

Machucados lhe traziam boas lembranças.

Talvez seja por esse motivo que ela nunca abandonou sua mania de cair propositalmente para criar pequenos arranhões.

Acariciou o sangue seco do joelho, suspirando pesado e segurando aquelas lágrimas teimosas.

Era difícil distinguir se era dia ou noite. Pelo horário que o relógio marcava, o sol já deveria estar irradiando luz e calor, mas ainda estava escuro lá fora.

A menina apertou o fino pano da saia escolar quando sentiu a brisa congelante passando por seu corpo.

- Aqui! - O mais velho se aproximou, pondo-se de joelhos a frente da garota. - Caso você acabe caindo novamente, eu trouxe um sobrando, deixe-o guardado no bolso da sua saia.

Mesmo que a sensação dos dedos de Natori não trouxessem familiaridade, ela gostava do modo a qual o mais velho se preocupava com ela.

- Vem! Vamos caminhar juntos para a escola. - A menina se levantou, deslizando lentamente seus dígitos pela saia xadrez. - Sei que não gosta de andar, mas o beetle está no conserto e só posso buscá-lo depois do almoço.

- Tudo bem! O clima está agradável para uma caminhada.

- Termine de se arrumar, vou preparar os guarda-chuvas. - E com um sorriso amigável, o cientista saiu do quarto.

Talvez não dormir tenha sido uma decisão ruim, sentiu uma terrível fisgada nos ombros quando tentou erguer a mochila.

"Quem eu estou enganando? Eu não estou bem." Pensou.

Mesmo assim, jogou aquele peso desagradável sobre os ombros e passeou seu olhar pelo quarto, até pousarem sobre sua mesa de estudos, que sustentava uma quantidade ampla de pesquisas.

Mesmo após a morte de seus pais, ela seguia com a missão que construíram juntos.

Achar a cura para todas as doenças do mundo.

- Hey! Ainda vai demorar? - A voz do mais velho se fez presente.

- Estou indo! - Se apressou a fechar a porta e descer rapidamente as escadas. Agarrou o guarda-chuva azulado, sorrindo para o mais velho e passando pela porta primeiro. Enfiou a canhota livre no bolso da jaqueta avermelhada, observando o cientista tentando trancar a porta com uma mão.

Ao passar pelo portão, Natori respirou fundo o ar úmido a qual estava vago a todos.

- Bom dia, Suna! - O professor cumprimentou o vizinho, que apenas passou reto, com a mesma expressão e postura de sempre.

- Deveria desistir, sabe que ele nunca responde. - Apertou melhor a alça da mochila esverdeada.

- Ele é apenas um pouco tímido. - O mais velho sorriu amigavelmente, iniciando seu caminho.

- Ou um pouco mal educado. - Ele apenas empurrou seu ombro em resposta. Uma ação que expressava algo como: "Não diga isso, é rude!"

- Talvez ele precise de um guarda-chuva. - Natori apertou melhor o ferro entre seus dedos.

"Ele já está todo molhado, não vai ser de grande diferença." Pensou.

- Suna! - Nem sequer se virou. - Suna! - Tentou novamente, mas foi ignorado.

- Tsc! - Em passos fundos, a garota caminhou em sua direção. - Ele está falando com você. - Tocou os ombros cansados com uma certa grosseria, alargando os olhos quando o garoto simplesmente desabou sobre o chão.

As nuvens continuavam a chorar.

Ela poderia facilmente fraquejar em choro ali também.

Estava morto.

Estava morto.

- Ele está dormindo. - A voz de Natori tirou-a de seus devaneios covardes. - Deve estar exausto para dormir na calçada em meio a essa chuvarada. - Estendeu o guarda-chuva para a garota enquanto procurava por uma forma de levá-lo em seus braços.

- Professor, você não tem idade para isso.

- E você não tem energia. - Jogou o corpo jovem sobre os ombros. - Não o deixe exposto a chuva.

Era difícil dizer exatamente o que acabara de acontecer. Talvez ele estivesse apenas cansado.

- Professor, você vai abrir uma crosta no chão se continuar andando de um lado para o outro. - A menina murmurou enquanto se certificava que a toalha quente estava confortavelmente relaxada na testa do garoto. - Pode resolver seus problemas, eu cuido dele.

- E novamente você está salvando minha vida! - Agarrou a bolsa e o guarda-chuva. - Eu volto antes do meio dia, trarei remédios e ingredientes para uma sopa. Certifique-se de dar essas roupas secas a ele quando acordar. - A menina fez uma continência desajeitada, logo sorrindo e acenando para o mais velho.

- Bom trabalho! - Abraçou o próprio corpo, observando o homem se distanciar.

Bom, ela teria uma longa manhã pela frente, mas no momento seu foco era o garoto adormecido em seu sofá. Foi inevitável não notar o pequeno sangramento em sua testa.

Talvez sua fraqueza tenha se tornado um obstáculo, já que ele nem sequer usou suas mãos para amortecer a queda.

E que dia frio, não é mesmo?

Ela enfiou suas mãos frias no bolso da saia xadrez, ali encontrando o curativo de mais cedo.

Talvez...

Caminhou lentamente até o garoto, retirando a toalha quentinha, usando-a para limpar o curto fio de sangue em sua testa.

Ele parecia mais amigável, não que um curativo fizesse tanta diferença, mas seu semblante estava diferente do usual.

Ele estava vulnerável.

- Não consigo dormir com seus olhos me perfurando.


𝐒𝐈𝐒𝐒𝐘 𝐒𝐊𝐘 - Suna RintarouOnde histórias criam vida. Descubra agora