quatro

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A Ochaco Uraraka do dia anterior jamais imaginaria que agora esperava sentada em uma cama de solteiro de um quarto minúsculo a saída de um garoto do banho.

Suas bochechas queimavam de tão nervosa. Ela tentava não pensar em Midoriya, mas era impossível. A garota ouvia o chuveiro, apesar da tempestade cair do lado de fora.

Todo o mistério que rondava sobre o jeito que ele a olhava ou como sempre hesitava em suas respostas atiçavam ainda mais sua curiosidade. Ele parecia muito mais maduro e atraente. A curva que seus olhos faziam quando ele dava um meio sorriso cheio de autoridade, era como se Midoriya lutasse consigo para não mostrar suas verdadeiras intenções. Apesar que, ainda era muito sedutor. Uraraka mordeu o lábio só de imaginar. Midoriya não tinha noção do efeito que apenas um pequeno sorriso causou.

— E aí. 

Ela levantou a cabeça, lá estava ele secando os cabelos molhados em sua frente. Agora era mais perceptível como suas mechas estavam maiores. Sua camisa com mangas longas para o frio tinha alguns pingos por causa do cabelo encharcado. A calça moletom mais solta. Descalço. Uraraka observou tudo isso antes de olhá-lo nos olhos.

— Você está com o cabelo molhado.

Midoriya inclinou a cabeça para o lado, confuso.

— Está frio. Você pode pegar um resfriado. Não faz bem dormir de cabelo molhado.

— Desculpe. Eu realmente não pensei nisso. A água está tão quente. Você vai agora?

— Ah... — seu coração começou a bater mais forte. Tomar banho em um banheiro que não era o dela.

— Pegue. — ele tinha nas mãos outra toalha e uma muda de roupas. — Todas estão limpas. É só para você dormir hoje.

— Obrigada, Midoriya-kun. — Uraraka engoliu seco ao se levantar para pegá-las. Lutando para não transparecer seus sentimentos.

— Pensei que você me chamaria pelo primeiro nome agora. — ele deslizou as roupas em suas mãos, ainda com a cabeça inclinada para olhá-la nos olhos. Próximo o suficiente, mas afastado o suficiente também. Como se a provocasse de forma implícita e até meio ingênua. — Eu já estava me preparando para chamar você de Ochaco.

Ela tremeu com aquela aproximação e a maneira que seu primeiro nome foi pronunciado com aquela voz rouca e baixa. Lá estava aquele olhar curvado com o maldito pequeno sorriso nos lábios. Midoriya não podia brincar daquele jeito com ela, certo? Ele era ingênuo, tímido e desligado demais para notar os sentimentos dela. Quem era aquele em sua frente? Confiante e definitivamente afiado e seguro com as palavras. A vivência solitária dele interferiu tanto nas suas reações?

— Acho melhor você entrar logo. Não sei quanto tempo a água estará quente. — ele mudou de assunto. Virou-se de costas e se agachou, arrumando sua mochila.

Ainda meio desnorteada, Uraraka entrou no banheiro. Trancou a porta e deixou suas emoções extraírem pelas suas feições em frente ao espelho.

Será que ele está tentando brincar comigo até que eu desista e vá embora? Não. Ele não é maldoso.

Uraraka soltou um longo suspiro. Durante seu asseio, ela se perguntava até que ponto Midoriya dizia a verdade. Quando ele contou sobre suas frustrações, parecia real. Como se estivesse desesperado para se apoiar em alguém de confiança. Mas, quando ele mencionava a escola ou a forma que reagia a algumas perguntas, é como se omitisse alguma coisa.

As roupas limpas de Midoriya tinham cheiro de amaciante, mas também tinham o cheiro doce que ele exalava. As bochechas ruborizadas de Uraraka não a deixaram pensar mais um pouco. Pensou sobre usar as roupas íntimas, seu sutiã parecia ter molhado um pouco com a chuva. Ela decidiu não usá-las para dormir, mesmo que estivesse envergonhada demais. Não como se estivesse à espera de algo, afinal seus pensamentos sequer imaginavam essas possibilidades. Midoriya e Uraraka tinham, definitivamente, cargas emocionais pesadas demais para aquele momento. Ao vestir a camiseta e a calça moletom, olhou-se no espelho. Ficaram grandes nela, mas confortáveis. Nenhuma parte do seu corpo ficara visível e ela ficou aliviada.

Perdidos | IzuochaOnde histórias criam vida. Descubra agora