doze

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Midoriya e Uraraka tinham suas mãos dadas e continuavam seus passos desengonçados de dança. Até que a música finalizou e outra mais lenta começou a tocar nos fones. Ela só se abraçou a ele, sua altura não favorável fez com que sua cabeça encostasse em seu peito. Uraraka ouvia o soar das batidas do coração do amigo. Midoriya apoiou seu queixo no topo da cabeça da garota e eles só se movimentaram silenciosos. 

A música falava sobre essa garota angustiada que não consegue entender o que sente. Há alguém que ela se despediu no meio da sua jornada para decifrar quem ela é. Esse alguém que sempre se vai em sua realidade, que se esforça tanto em um mundo caótico e imperfeito. No fim de tudo, ela só deseja vê-lo. Ela só tenta compreender as marcas que sua terrível adolescência deixou em seu coração.

Uraraka gostava dessa música porque interpretou como uma analogia de dúvida para sua própria existência. Essa garota se sente perdida no mundo real que vive. As pessoas se recusam a enxergá-la, até que ela também começa a acreditar que não existe. Em fichas médicas, ela tenta fazer com que os outros analisem seus sentimentos porque ela mesma não consegue saber.

— Deku-kun — a garota o chamou, ainda abraçada a ele enquanto o solo de piano suave tocava. — Você já se sentiu assim?

— Como? — ele sussurrou.

— Perdido, como se sua existência não fosse notada. Igual a garota dessa música.

— É... Já me senti, sim. E você?

— Sim.

Uraraka o abraçou mais forte.

— Era na época que você não tinha individualidade? — ela perguntou, curiosa.

— Também... — ele pensou nas vezes que quase surtou de tristeza quando sua idealização de sociedade perfeita era uma farsa.

— Não consigo imaginar como deveria ser.

— Está tudo bem.

— Eu queria salvar seu coração de algum modo.

Midoriya desfez o abraço e inclinou-se para fitar bem seus olhos. Tirou algumas mechas do rosto da garota e colocou suas mãos em seus braços delicadamente, com um leve carinho em seus dedos.

— Você já salvou meu coração.

— Mas...

— Caso contrário, por que eu estaria aqui? — sua voz era suave. — Queria eu retribuir metade do que você já fez por mim.

— Só de você estar aqui já retribui.

Midoriya não resistiu a uma risada. Puxou delicadamente Uraraka pelos braços que já a seguravam e a encheu de beijinhos em suas bochechas e testa.

— Ah! Pare! Você está me deixando envergonhada! — ela gargalhou entre os ataques de carinho que Midoriya a oferecia.

— É uma pequena vingança por me deixar tão tímido com essa sua fofura nesses anos. — ele continuava a beijar e apertar suas bochechas.

— Não mais do que você me deixava!

— Duvido muito disso — ele deu um selinho em sua boca que a deixou vermelha. — Obrigado, Uraraka-san. — ele a abraçou forte. — Obrigado.

— Esse abraço não parece como os outros...

Midoriya apenas a apertou. Não havia nada que se poderia fazer, de fato. Sua vida mudou de ponta a cabeça. Estar com ela era seu maior pedido, sua melhor amiga, o maior amor que poderia sentir. Não disse para ela, mas não queria ir embora. Ele não podia ser irresponsável, queria que o amor que oferecesse a ela fosse maduro e forte. Para isso, deveria fazer o certo, mas da maneira certa dessa vez.

Perdidos | IzuochaOnde histórias criam vida. Descubra agora