seis

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— Tem certeza que está tudo bem?

Desde a volta de Uraraka à escola, todos perceberam que alguma coisa parecia diferente. Sua postura rígida, aquele rubor das bochechas apagado e com a cabeça em outro lugar.

Ela não contou para as amigas que encontrou Midoriya e o pouco que contou a Bakugou, Todoroki e Kirishima não parecia o suficiente para que eles a deixassem quieta. Era compreensível a energia dos amigos, mas ela realmente queria respirar um pouco.

— Foi só isso? — Kirishima estava sentado do seu lado.

— Sim.

— Ele não fica nesse lugar todas as noites? — Bakugou perguntou à sua frente.

— Não.

— Ele não te contou para onde vai durante as patrulhas? — foi a vez de Todoroki.

— Não.

— Pelo menos os professores não desconfiaram por muito tempo. Mas, duvido que a gente consiga fazer um plano desses de novo.

— É, eles colocaram a Uraraka na lista.

Os três começaram a discutir teorias entre si, Uraraka mal prestou atenção. A imagem cansada e derrotada de Midoriya não saía da sua mente. Assim como os poucos sorrisos que ele a ofereceu na noite passada. O toque, o carinho. Ainda tinha todas as coisas que viu e presenciou durante o seu trajeto, eram informações dolorosas que martelavam sua consciência. O quanto a cidade estava sombria, como as pessoas caminhavam assustadas. Tantas coisas aconteceram depois da sua longa conversa com Midoriya. Ela não teve tempo de digerir todas as palavras e visões que teve ao lado dele. As vozes dos seus amigos pareciam tão irritantes que ela começou a se sentir culpada por querer mandá-los calarem a boca.

Continue se esforçando. — ela interrompeu o burburinho. — Foi o que ele me disse antes de ir embora. Tenho certeza que essa mensagem é para vocês também. Só podemos encontrá-lo se ele quiser. — Uraraka levantou do banco. — Por isso, melhor nos dedicarmos à academia.

— Se ele não quer ser encontrado, por que vocês conversaram?

Uraraka engoliu seco ao lembrar do desabafo do amigo. Aquilo foi íntimo demais para compartilhar com eles.

— Eu não sei. — ela sussurrou. — Me desculpem. Acho que eu não deveria ter ido. — aquele pequeno desabafo era real.

É como se, aquele encontro só confirmasse o que Uraraka já sabia há algum tempo. Eles só atrapalhariam o caminho um do outro. Em sua visão, Midoriya ficou mais frustrado ao encontrá-la. E agora, tudo o que ela queria era se tornar mais forte. Não para salvá-lo e ele finalmente estar com ela; mas salvá-lo para mantê-lo seguro, em casa. Eles não precisavam ficar juntos. Ela só queria vê-lo bem. O amor dolorido que Uraraka sentia era maior do que pensava.

— Do que você tá falando? — Bakugou a encarou. — Aconteceu alguma coisa que não quer nos contar, não é?

Uraraka desviou o olhar.

— O dia foi cansativo e amanhã tem aula. Boa noite, meninos.

Foi a última conversa de verdade que aqueles quatro tiveram.

Todos os dias, Uraraka saía da sala de aula e treinava combates marciais sozinha. Seus estágios ficaram mais cansativos e ela sempre precisava enrolar analgésicos em gel nos antebraços para aliviar as dores musculares. Acompanhada daqueles sonhos ruins que surgiam à noite, seu único passatempo era apreciar a vista da janela do quarto e assistir filmes com suas amigas. Às vezes, se pegava chorando sem perceber. Abraçada ao próprio corpo, se perguntava se um dia aquela cidade voltaria à época de esperança que All Might proporcionou.

Perdidos | IzuochaOnde histórias criam vida. Descubra agora