Maya

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  Acordei de manhã e o Deckér já tinha saído, fiquei meio triste pelo fato de ele nem ter avisado, mas acredito que não queria me acordar ou estava atrasado.
Levantei e na mesa tinha tipo um kit, com escova de dentes, pasta, sabonete...Coisas de higiene.Umas roupas e uma refeição.Bom, se tava ali acreditei que fosse pra mim.Entrei no banheiro fiz minha higiene, coloquei uma das roupas, que eram masculinas e muito maiores que eu.Sentei no sofá de novo e comecei a comer.Tava um silêncio total, era tão péssimo comer assim, em silêncio e sozinha.
Terminei de comer e logo em seguida me levantei e dobrei a minha coberta e a do Deckér, e arrumei o saco de dormir dele.Isso que durou 3 minutos era o que me o ocupar a manhã toda.Porque quando eu terminei de arrumar eu parei em pé no meio do quarto com as mãos na cintura sem saber o que fazer.
Fiquei andando pelo quarto, mexendo no cabelo, falando sozinha, mas na maior parte da manhã eu ficava sentada no chão olhando para as paredes.Tinha um relógio no meu quarto e era agoniante, eu não sei o que seria pior, não saber as horas, ficar totalmente cega em relação a isso, porque eu sabia que estava dia ou noite só por causa do relógio porque naquela sala não tinha janelas, então não dava pra ver quando estava escuro ou claro.Ou se era pior ter esse relógio, ficar olhando pra ele e ver que as horas não passam nunca.
Enfim a manhã demorou um mês pra acabar.E meio dia mais ou menos escuto a porta sendo destrancada.Finalmente o Deckér estaria aqui pra me fazer companhia, pelo menos durante o almoço.
–Oi.
Diz a pessoa que não era o Deckér.Que ótimo.
–Oi.
–Eu sou a Tess muito prazer.
–Maya.Prazer.
A gente trocou algumas palavras no dia que cheguei aqui, mas foi um diálogo de 10 segundos no máximo.
Ela era super descolada, tinha um piercing septo, um na sobrancelha, e varios na orelha.Ela tava com um que, como se fosse um macacão preto, que acho que era as roupas que todos eles estavam quando chegaram aqui.
Era um macacão preto porém ela só vestiu ele até a cintura, e com a parte de cima do macacão, onde estaria as mangas, ela fez um nó na cintura.E na parte de cima estava com uma blusa de alcinha preta.Tinha cabelo ruivo que estava preso num rabo de cavalo alto.
Ela tinha varias tatuagens coloridas, o braço dela era quase todo fechado de tatuagem.E ela também tinha varios anéis nos dedos, igual a mim.Ela era muito bonita.
–Hm, onde está o Deckér?
–Nossa mas já cansou da minha companhia, não sou tão legal quando o Deckér?
Ela diz rindo.
–Não imagina, foi mal.
Falei rindo também.
–Ele não pode vir hoje, mas aqui ta seu almoço.
Diz ela me dando a comida.
–Obrigado.
E ela se vira em direção à porta para ir embora.Eu não queria comer sozinha de novo.
–Tess.
Ela se vira.
–Não quer comer comigo?
–Claro.
sentamos uma em cada ponta do sofá.
–Mas e aí, como você veio parar aqui hein?
–A não, a história é chata.
–Sou toda ouvidos.
Eu não vou contar pra ela a mesma coisa que eu contar pro Deckér né?Inventei outra coisa.
–Entrei pra perguntar pra alguém o nome de uma rua que eu estava tentando chegar.
–Entendi.
–Olha Tess, nenhuma chance de eu descer pra ficar com todo mundo lá em baixo?
–Olha Maya, bem provável que não, eu posso tentar perguntar, mas o Ray é quem manda, e ele te quer isolada, acha que você pode atrapalhar, posso tentar pedir pra ele mas o Ray é cabeça dura.Quando ele bota algo na cabeça, nem santo tira.
–A sim.
–É muito ruim ficar aqui?
–É horrível.As horas não passam, não tem nada pra fazer, é um silêncio total.
–Lá em baixo também é péssimo Maya, tem pessoas que choram toda hora, o Ray grita com todo mundo o tempo
todo, e qua-
–Mas eles estão todos juntos Tess, um está confortando o outro, estão conversando, se conhecendo...
Eu a interrompo.
  Ela levanta do sofá e vai até a enorme estante de livros.
–Nossa olha quantos livros, porque você não lê algum?
  Como que eu não tinha pensando naquilo antes?Pelo menos matava tempo.
–Nossa é verdade.
  Levanto e vou até ela.
–Ja leu algum daí pra me indicar?
–Nossa olha isso aqui, que lindo, nunca tinha visto, Anne Frank de capa dura.Maya esse foi uns dos primeiros livros que eu li, quando era mais nova, e é meu favorito até hoje.
  Ela me entrega um livro xadrez vermelho com o título " O Diário de Anne Frank" o título não é os dos mais empolgantes, mas é o que falam né?"Nunca julgue um livro pela capa"
–É sobre o que?
—É uma história real, conta a história da Anne, que durante a segunda guerra mundial ela estava escondida num anexo secreto.E no diário ela conta como era os dias dela lá.
–Mas porque ela estava escondida?
–Porque ela era judia.Era se esconder ou ir para o holocausto.
–Nossa mas essa menina realmente existiu?Tipo ela realmente escreveu esse livro?
–Sim ela realmente existiu, por isso o livro é tão famoso, porque mostra o ponto de vista de uma judia, em relação a guerra.Mostra como ela tinha esperança e era inocente em relação o que estava acontecendo no mundo, principalmente na alemanha.E também porque qualquer relato achado hoje de pessoas naquela época, é super raro.Porque poucas pessoas sobreviveram aos campos de concentração pra contar os seus relatos de como era lá.Ela não escreveu exatamente o livro, ela escreveu um diário, e fizeram um livro do diário dela, com coisas adicionais.
–Nossa eu adorei.
–Esse livro é uma obra de arte você vai amar.
–É, acho que sim.
Eu paro uns segundos para olhar o livro em silêncio e a Tess fica olhando fixamente pra mim.
–Gosta do Deckér né Maya?
–Ele é legal.
–É ele é sim.
–Porque gosta tanto dele?
–Eu não gosto "tanto" dele...
–Quando quando eu entrei aqui agora pouco e não o Deckér o sorriso que tava no seu rosto sumiu.Você mal me deu "oi" e já perguntou dele.
–Eu acho que é porque ele se importa comigo.
Ela ficou me olhando em silêncio.
–Bom...eu já vou indo então.
–Você ou o Deckér podem voltar mais tarde?
–Eu volto pra entregar o seu jantar.
–Que horas?
–20:00.
–A Tess sério?Só as 20:00?Tess é meio dia ainda.
–Eu te trago algo pra comer a tarde então se esse é problema.
–Não o problema não é a comida, é o tédio.
–Vou ver se o Deckér vem aqui trazer o jantar tá?
–Uhum.
–A gente se vê.
–Sim.
–Tchau.
–Tchau Tess.
Ela sai trancando a porta.A Tess era muito legal, gostei muito dela, espero ver ela mais vezes, mas preferia a companhia do Deckér, apesar dela ser muito mais legal que o Deckér eu ainda preferia a companhia dele.Sério, não entendo isso, de verdade.
Comecei a ler o livro que a Tess me falou, e era realmente muito bom.Mas li tanto que fiquei com dor de cabeça.E então voltei a ficar sem fazer nada.Ja tinham se passado uma eternidade, só que no relógio ainda era 15:30.
Então deitei no sofá e fiquei olhando para o teto imaginando que daqui um tempo o Deckér e a Tess seriam milionários, pois acredito que eles não roubariam menos que um milhão desse banco.Fiquei imaginando o que eles iriam fazer com o dinheiro.Tess iria se mudar em alguma lugar tipo Vegas.Iria viver uma vida de luxo em segredo, teria dinheiro pra comprar tudo que ela quisesse mas só frequentaria não frequentaria baladas e festas de gente rica, porque ela gosta e acha mais divertido as festas e as pessoas que frequentam as festas "normais".Estaria de ressaca toda semana, e viajaria o mundo na moto que ela compraria modelo dos anos 90, turbinada, de alguma edição limitada que é super rara e objeto de colecionador.Já o Deckér, iria pra um lugar tipo...A Noruega, sei lá, um país que só pessoas velhas escolheriam pra ir nas férias.Ele compraria um Chalé nas montanhas perto de um vinhedo e de mais um lugar tedioso que ele acha um máximo.Eu vejo ela acordando de manhã no inverno parando na frente da enorme janela do chalé dele, com um roupão azul marinho, olhando pra fora vendo a neve cair e tomando uma xícara de café.A casa dele seria enorme, porém ele se sentiria muito solitário, ele se daria bem com os vizinhos mas prefere ficar sozinho, mas mesmo preferindo ficar isolado ele se sentiria muito só e triste.
Fiquei pensando nisso e acabei dormindo.
Acordei e a primeira coisa que fiz foi olhar o relógio e cara, era 19:48 finalmente, a Tess logo estaria aqui. Mas o pior tava acontecendo.Estava chovendo muito, começou a dar trovoada.E parece idiota eu sei, mas eu tenho tipo...Pânico, pavor, de tempestade com raios...Enfim.Medo bobo eu sei.Mas eu tenho muito medo.É inevitável.Tanto medo a ponto de eu deixar o meu ódio pela minha mãe de lado e ir dormir com ela pra não ficar sozinha.Ai você fala "É normal criancinhas sentirem medo e ir dormir com a mamãe" Mas eu faço isso até hoje, a última vez que eu fiz foi mês passado.A questão era que eu sempre estava com alguém quando tinha tempestades e isso fazia meu pânico acalmar um pouco.Só que agora eu tava sozinha e com muito medo.Eu comecei a tremer, a ficar sem ar e me desesperar de chorar.E eu não parava mais, eu só queria alguém comigo ali.E graças ao universo eu ouvi alguém destrancar a porta.Levantei do sofá depressa.A porta abriu e era a Tess.Ela estava lendo uns papéis, parecia não estar entendo o que estava escrito.Estava muito concentrada lendo.
–Oi Tess.
–O-oi Maya, aqui tá seu jantar tá?Boa Noite...é...Tchau.
Ela fala me entregando o jantar sem tirar os olhos dos papéis e fechando e trancando a porta.
Mas que ótimo a minha companhia nem olhou na minha cara.
E a tempestade só piorava e estava ficando muito frio, sentei no sofá, coloquei a coberta sob meus ombros e comecei a comer.Mas eu chorava muito, mal conseguia mastigar.Eu tava com tanto medo que não sei explicar.
  Tempo demorava pra passar e tempestade também e eu não conseguia parar de chorar porque eu tava apavorada.Porque eu realmente tenho pavor de tempestades.De repente eu escuto a porta destrancar de novo depois de umas duas horas.Limpo as lágrimas rapidamente e levanto do sofá depressa.
–Oi...
  Era a Tess.
–Oi.
  Disse.
–Desculpa por antes não ter te dado muita atenção e ter te deixado jantar sozinha, mas na verdade to vendo que você nem comeu...
  Ela diz inclinando a cabeça olhando o jantar que estava na mesa que estava atrás de mim.
–É eu tava sem fome...
  Eu nunca to sem fome, eu só não consegui comer porque eu tava chorando litros.
–Olha, antes eu tava muito concentrada olhando a lista de remédios que alguns reféns precisam.Precisava garantir que tudo estava em ordem então eu n-
–Não tem problema, Tess.
–Começou a ler o livro?
–Aham, e cara, ele é muito bom.
–Sabia que você ia gostar...
  A droga da chuva não parava, na verdade só ficava pior e eu não sou muito boa em esconder minhas expressões faciais.
–O que você tem?
–Eu?Não tem nada comigo.To bem.
–Não, você não para de olhar pros lados, roer as unhas, e mexer nos seus anéis.E seus olhos estão bem vermelhos, que significa que ou você fumou maconha ou você chorou.Bom...eu chuto o choro.
  Claro que eu não queria falar que eu tava com medo da chuva pra Tess que é toda descolada e...Enfim, não.
–Tess, e o Deckér?
–Não muda de assunto.
–Porque que ele não quer me ver?
–Não é que ele não quer te ver...É...
  Ela não sabia o que falar porque sabia que era verdade.
–Ta Tess eu ja entendi que ele não quer me ver só quero saber o porquê.
Ela respirou fundo.
–Até amanhã Maya.
–Ah, Ta bom então.
Falei rindo.
  Ela saiu trancando.E que ótimo, a única pessoa que eu gostava e confiava não queria mais me ver...Beleza!Mas eu só queria entender o porquê, o que eu fiz?Ele não gosta do meu jeito?Da minha personalidade?E não me julgue, mas, eu comecei a chorar.De novo.Eu juro que eu não sou assim.Na real eu nunca choro, eu nunca falo da minha droga de vida pra ninguém...Eu não sei o que tá acontecendo comigo nesse "cativeiro."
  Mas cara eu só queria que essa tempestade passasse logo pra eu parar de chorar ou se o meu pânico de tempestade passasse já seria um bom caminho andando.
  Mas de novo eu escuto a porta sendo destrancada.Imaginei que a Tess tivesse esquecido alguma coisa, e como ela já sabia que eu estava chorando que nem uma idiota, nem me dei o trabalho de levantar, limpar as minhas lágrimas pra fingir que eu tava super bem.Mas quando a porta abriu era o Deckér.
  Eu olhei pra ele sem falar nada.Estávamos nos olhando em silêncio, meio surpresa, até que eu levantei e fui até ele e dei um abraço.
  Entende o que eu quero dizer que esse "cativeiro" tá me mudando, eu não dou abraços por livre e espontânea vontade.Mas enfim abracei ele muito forte pois fiquei feliz que ele ainda tava ali pra mim.
–Que isso?
  Ele falou rindo.
–Ainda quer me ver?Ainda gosta de mim?
  Falei ainda abraçada a ele.
–O que?Claro.Porque duvidou disso?
   Saí do abraço e olhei bem sério pra ele.
–Então porque sumiu o dia todo?
  Falei dando socos na barriga dele.
–Ai!Você bate com força.
–Porque não veio aqui nem pra dar um "oi" é impossível que seu dia tenha sido tão conturbado que não dava nem pra dar um sinal de vida pra mim.
Falo isso ainda dando socos nele.
–Você pode parar de me socar?
  Parei e dei um passo pra trás.
–Você não sabe o quão entediante é ficar aqui nessa sala sozinha, o dia todo, sem nada pra fazer.Deckér eu to falando sério, eu vou ficar louca, e se eu ficar louca a culpa é sua.
  Ele riu balançando a cabeça e trancando a porta.
–Qual que é a graça?
–A graça é ver você brava, você franze  sobrancelha de um jeito engraçado.A sua cara de brava em si é engraçada.
  Nossa serio?Eu xingando ele e ele reparando na minha sobrancelha.
–E pare de revirar os olhos.
–Não revirei.
–Revirou.E revira toda hora.Essa sua mania é péssima, Maya.
–Ai Meu Deus.
–Viu?revirou de novo.
  Ele fala sentando em uma ponta do sofá.
–Não vai sentar?
–Não, vou ficar de pé, porque já fiquei o dia todo sentada nesse sofá.
–Ta bom Maya, já entendi você ficou aqui sozinha, no tédio e tá brava comigo porque eu não apareci.Desculpa.Ta bom?Pronto.Agora eu to aqui.
  Ainda bem, e tomara que ele fiquei porque de novo, essa droga dessa tempestade só tava piorando os raios estavam muito mais barulhentos e meu pânico tava aumentando.
–O que você tem?
–Nada.
–Porque você tava chorando?
–Eu?
–É Maya, você.Só tem eu e você nessa sala com quem acha que eu to falando?
–Sério to bem, não tava chorando.
–Hmmm já entendi, tava com saudade mim, mas você é muito durona pra admitir.
–Nossa...o tamanho do seu ego Deckér.
  Bem nessa hora deu um raio tão alto que eu quase fiz xixi na calça.
  Tomei um susto e bem provável que ele percebeu.
–Ta chorando porque tá com medo da tempestade?Maya você tem medo de chuva?
Ele fala rindo.
Sério?Mereço.
–Nã-não claro que não ac-
–Nossa como tu mente mal.
  Ele me interrompe rindo.
–Eu não tenho medo de chuva.É pinguinhos de água caindo do céu...Quem tem medo de chuva?
  Então né...Eu.
–Ai Maya, eu não acredito que você tá chorando por causa que você tem medo de chuva.
–"Medo" eu não tenho "medo", eu tenho pânico, Deckér, pânico.
  Eu não conseguiria esconder muito tempo isso dele então falei de uma vez.
–Porque?
–Também queria saber.
  Falei sentando na outra ponta do sofá.
–Sempre tive medo, mas sempre tive alguém
comigo.Por exemplo em casa, eu odeio a minha mãe, mas quando tinha tempestades eu ia lá deitar na cama dela com ela, e apesar de odiar minha mãe, tinha alguém ali comigo e eu me sentia mais segura.Entrei em pânico aqui porque além de eu ter pavor de tempestades, eu tava sozinha.Por isso me desesperei tanto.
–Mas agora tá tudo bem né?
–Ta sim.
–O que você fez hoje?
–Nada Deckér, literalmente nada.
–É eu já tinha que ter entendido essa parte.
–E você?
–O meu dia foi muito puxado, fiz muita coisa.
–Tipo?
–Tipo...tipo varias coisas....Que isso aqui?
  Ele fala se esticando pra pegar o livro que eu to lendo que estava em cima da mesinha a nossa frente.
–A você não sabe?Se chama livro, funciona assim, você abre ele, e dentro tem tipo, palavras...E daí você lê as palavras, e com a junção das palavras se torna uma história.É bem legal.
–Caramba Maya, como você é engraçada!
–Vou ser comediante.
–Vai morrer de fome.
  Eu e ele rimos.
–Sabe Deckér...
  Falo me deitando e colocando os pés na perna do Deckér, e me cobrindo com a coberta.
–Eu sei que é indelicadeza pe-
–Colocar o pé em cima das pessoas?É eu também acho.
  Ele interrompe.
–Sei que é indelicadeza perguntar quanto uma pessoa ganha, ou que vai ganhar, ou quanto tem...Enfim, mas...digamos que você vai roubar muito daqui né?
–É...digamos que sim.
–Mais de um milhão?
–É.
–Nossa...hoje eu tava imaginando o que você faria com dinheiro.
–E o que você imaginou?
–Você morando sozinho e triste num chalé do lado de um vinhedo na Noruega.
–É...Eu com certeza faria isso.
–Mas o que você vai fazer?
–Ir morar em algum lugar frio e tranquilo...Provavelmente em um chalé, e do lado do meu vinhedo porque eu compraria um.
–Nossa cara você é um tédio mesmo.
–Por que?O que você faria se ganhasse muito dinheiro.
–Eu pesquisaria "Praias mais bonitas do mundo" no google e iria pra cada uma delas.
–Gosta muito de praias?
–Não sei nunca fui.
–Nunca foi a praia?
–Não.
–Sério?
–Eu também teria um cachorro, sempre quis ter um.E também eu compraria uma guitarra autografada pelo Axl Rose.
–Sabe tocar guitarra?
–Não.Como como vou aprender a tocar guitarra sem uma guitarra?Eu quero uma pra aprender.
–Maya, acha que a sua mãe está muito preocupada com você?
–Acho que ela nem percebeu que eu não to em casa.
  Ele riu.
–Não Maya...To falando sério.
–Eu também.
Rimos.
–Então ela não vai notar quando a gente for visitar as praias do Havaí...
–Você vai me levar?
–Claro.Você não falou que eu seria "sozinho e triste" na Noruega?Então vou ser triste com companhia no Havaí.
–Por que você vai ser triste?
–Você que falou que eu seria triste.
–Eu acho que você precisa de mim.
–Eu preciso de você?E por que?
  Ele riu.
–Porque sozinho, você é triste.Eu sou uma boa companhia.
–Tem razão.Eu vou viajar o mundo, conhecer cada canto.Vai comigo?
–Vamos la...
  Eu sabia que ele não tava falando sério mas seria legal se fosse verdade.Por um momento um imaginei exatamente aquilo que eu tinha falado antes do Deckér...O negócio do chalé perto do vinhedo na Noruega.Parece muito idiota mas eu imaginei eu junto nesse mesmo cenário...Seria legal, eu estaria com o Deckér, ele cuidaria de mim, seria feliz.
–Mas é sério Maya, você tem que sair daquela casa.Vou te tirar de lá.
  Fiquei feliz ao ouvir isso porque parecia que ele tava realmente falando sério.
–Acho que a gente deveria ir pra México.
–Mexico não rola.
–É eu sei.
–Como assim você sabe?
–Você é procurado lá não é?
–Sou.Como sabia?
–Sou boa em palpites.
–Outro lugar para irmos?
–Eu não sei, Portugal?
–Hmm...
–Cê é procurado lá também?
  Ele coçou o canto do olho.
–Ta então...vamos pra lugares quentes.
–Odeio lugares quentes.
–Você odeia tudo.
–Alemanha?
–É até pode ser mas nada mais que 3 semanas na alemanha.
–Eu queria ir pra lá pra morar.
–O que?Não.La tenho certeza que e lindo e tudo mais, porém não tem nada de muito interessante pra fazer.
–A gente pode ir pr-
–JÁ SEI!França!Sempre quis conhecer lá.
–É...até poder ser, mas eu ainda voto na alemanha.
–Você é um chato.
–Ei, olha aquilo ali.
  Ele aponta para o globo que estava na estante junto com os livros.
–Pronto.Ja sei como vamos escolher pra que lugar vamos primeiro.
  Ele levanta e pega o globo e senta no sofá.
–Vai senta.
  Eu me levanto confusa tentando entender o que ele quer fazer.
–Agora fecha o olho.
–Porque?
–Fecha Maya.
–Ta bom...
  Falo fechando os olhos.
–Agora me da a sua mão.
  Eu estendo a minha mão e ele segura meu dedo indicador.
–Coloca esse dedo no globo que tá na sua frente.
Assim que eu coloco meu dedo sinto o globo girando porém parando lentamente.Até que parou totalmente.
–Nossa, é o destino.
  Ele diz impressionado.
  Abro meus olhos e meu dedo estava em cima da "França" no globo.
–Ha!Vamos para França!
–Isso aí.Vamos para França.
  Ele pegou o globo e colocou em cima da mesa e eu deitei de novo e novamente coloquei os pés na perna do Deckér.
–Você tem medo de que?
  Perguntei.
–Nada.
–Nossa, Rambo.
–É sério não tenha nada que eu tenha pavor.
–Morte?
–Não...quando chega a hora não tem o que fazer, e eu já vivi e fiz muita coisa na minha vida, se eu morresse agora, estaria satisfeito.
–Nossa imagina eu, por exemplo.Morrer daqui um mês, que merda.Não fiz nada na minha vida, não sei andar de bicicleta, não fui à escola, não me apaixonei, nunca fui à praia...Sério eu nunca fiz nem o básico que qualquer pessoas comum já fez, imagina algo extraordinário.
–Você nunca foi pra escola?
–Não...
–Não sabe andar de bicicleta?!
–Não, Deckér.
–Caramba, a gente tem muita coisa pra fazer quando sairmos daqui.
–Você não tem medo de sei lá, ser pego?E ir pra prisão?
–Não...porque eu ganharia pena de morte se eu fosse pego, e como eu já falei não tenho medo de morrer.
–Você ganharia pena de morte?
–Bem provavelmente.
–Porque?
–Cometi muito crimes...matei muita gente.
–Muita gente?
–Muita.
–Tipo quantas?
–Não sei...Mais de 35.
–Você já matou mais de 35 pessoas?35 pessoas?!
–É.
–Mas porque você quis matar ou...
–Porque eu precisava matar ou porque me pagavam pra matar.
–Teve alguém que você não quis matar mas precisou?
–Não.
–Seu coração é tipo concreto né Deckér?
–É que pra mim quase todas as pessoas que eu matei são iguais, porque eu não mato crianças nem mulheres.
–E porque não?
–Não sei...princípios?
–Você acha que é uma pessoa ruim?
–Acho.
–Olha, eu não acho.
–Que bom que não.Acho que você deveria ir dormir ta muito tarde.
–Mas eu to muito elétrica.
–É mas eu não, vai dormir.
–Que coisa Deckér.
–Boa noite Maya, e para de revirar os olhos.
Ele diz levantando do sofá.
Eu me sentia muito segura com ele, nesse tempo que a gente tava conversando a tempestade ainda estava muito forte só que eu nem percebi...E cara, eu vou conhecer a França!

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