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Em frente à porta do meu apartamento, o observo, me perguntando por que ele insiste em me olhar dessa forma. Será que tem ideia do que isso faz comigo? A bagunça que me causa não tem nem ao menos uma descrição à altura.

- Já está ficando tarde. É melhor eu ir.- A voz dele me desperta dos devaneios.- Boa noite, Maya.

- Boa noite.- Repito, enquanto grito internamente para que ele vá antes que eu o puxe para dentro, sem me importar se ele concordaria ou não.- Obrigada pela ajuda.

Solto o ar pela boca depois de fechar a porta. Posso, enfim, ficar menos nervosa com a ideia dele escutando as batidas aceleradas de um coração nada decente. Corro para o banho assim como corro da única vontade que tenho tido ultimamente.

Continuo tentando e treinando saber lidar. Para saber conviver com sua presença. E quando tudo parece estar indo com o fluxo, descubro que ele é o atrito dessa história. Cada minuto perto de Mingyu está se tornando mais imperdível. E eu me vejo viciada, negando a reabilitação a todo contato que tenho com essa droga.

Sorrindo abobalhada, aproveito a sensação de alívio e limpeza percorrendo meu corpo quando deixo o banheiro. Coloco o pijama que minha amiga me deu, a que, no momento, ocupa a minha cama inteira.

Quando chego à sala, percebo como a chuva piorou absurdamente e fecho as janelas correndo. Depois de secar o que foi molhado e já com tudo certo para deitar no sofá, a campainha toca. Vejo o relógio marcando 00:30, enquanto vou em direção ao olho mágico, mas algo inesperado está do outro lado. Ou melhor, alguém.

- Mingyu? O que aconteceu?- Ensopado e sem saber o que dizer, ele me olha demoradamente. Meu estômago se enche de sylphina angel.

- Por conta da tempestade, os táxis não estão fazendo corrida.- Sua expressão adorável me desarma.- Eu poderia esperar ela melhorar aqui?-  As bochechas rosadas aparecem, e noto o jeito único que o faz parecer uma criança.- Não quero invadir sua privacidade, só não soube o que fazer...- Eu o interrompo, abrindo espaço para que entre, e escuto o som da minha voz pedindo para que ele fique.

Meus planos para a noite eram, basicamente, dormir. E dormir de novo. E depois mais um pouco. Mas me encontro com uma realidade contraditória para minha mente. Enquanto estou sentada no sofá, Mingyu se acomoda de um jeito tão confortável no tapete que me deixa até mais à vontade nas nossas conversas sem rumo certo. Posso ficar aqui até o dia raiar, porque qualquer desculpa para continuar acordada com ele vale a pena, assim como valia a de dormir para o encontrar. A cada olhar trocado, a cada sorriso formado, é como se estivesse brincando com a minha mente. Espero que, pelo menos, não saiba o que estou pensando.

- Isso é tão estranho...- Ele murmura. Antes que eu pergunte, já responde.- Cada vez que fico próximo de você, sinto que te conheço há um bom tempo. Por mais que tenhamos nos conhecido agora.- Ele coça a nuca.- É algo surreal que fica presente toda vez que você está.- Faz uma pausa, e meu coração bate mais forte.- Quando nos falamos, vai além. É como se, no fundo, eu soubesse exatamente como você vai agir ou o que vai dizer.- Ele solta uma risada que percorre o lugar, desencadeando arrepios que percorrem também o meu corpo.- Não sei se o que estou dizendo ainda faz sentido.- Afirmo com a cabeça, porque ele não tem ideia do quanto faz. O timbre doce dele, assim como suas palavras, me hipnotiza e me faz enlouquecer com a possibilidade de que, no fundo, ele possa realmente ser o mesmo que conheci e, de alguma forma, ainda se lembrar de mim.- Eu me sinto calmo. Como quando sua voz chega aos meus ouvidos e me dá a sensação de ser abraçado, mesmo sem você me tocar.- Ele fecha os olhos com força, como se tivesse feito uma besteira tremenda ao confessar aquilo. E quando volta a abri-los, seu olhar está tão terno que, se eu mantiver contato, posso derreter.

- Eu entendo o que sente. É o mesmo comigo.- Mingyu me observa como se estivesse sorrindo não só com os lábios. Digo silenciosamente que o amo. Só não sei dizer certas palavras.- Por que você é assim?

- Assim?- Ele ri, confuso.

- Tão único e fofo e... e me deixando tão...- Só me dou conta do que acabei de dizer depois que as palavras já saíram. Ele parece surpreso. A sobrancelha arqueada. Me levanto rapidamente. Estou fora de controle, e as coisas só podem piorar desse jeito. Ele se levanta também.- A chuva não melhorou ainda, é melhor você ficar.- Vou pegar um travesseiro e uma colcha para você.

- Tem certeza?- Digo que sim e disfarço na mais tola tentativa.

Ele se acomoda no sofá, e eu corro para o único lugar que, se Deus quiser, vai conseguir me segurar. Embaixo das cobertas, no pouco espaço que sobra, viro de um lado para o outro. Fecho os olhos, mas parece que um farol está ligado de frente para minha cama.

Sky. (Mingyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora