Epílogo

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Tempos depois...

Embora eu tenha odiado ter sido tratada como uma criança de 5 anos quando na verdade eu já estava quase fazendo 20, o discurso de mamãe pesou em mim, e suas palavras ecoaram em minha mente por dias e dias.

Eu poderia ter pedido desculpas e por vezes demais cogitei fazer isso. Mas a realidade era que eu não queria me desculpar porque eu estava com vergonha. No fim, entendi que eles não mereceram o que eu fiz e que não passei de uma megera ingrata, mas eu precisei fazer aquilo tudo. Destruir seus castelos imaginários, tirar as coisas do lugar. E, por mais que mamãe não concordasse, no fundo eu achava que aquilo tinha sido bom para eles também.

Às vezes precisamos que alguém quebre o mundo ao nosso redor para construir um muito melhor... E um dia eu vou pedir desculpas. Hoje não.

3 meses depois e minha vida continua a mesma. Nenhum parente não me mandou nada e nem entrou em contato comigo desde então e por um lado isso é maravilhoso. Mamãe continua se reunindo com eles e sempre insiste na história de eu pedir desculpas, no entanto, eu não estou pronta.

E, depois de tudo que aconteceu, não posso dizer que eu não estou arrependida. Veja, eu me entreguei pro cara que pensava que amava porque achei que ele tivesse o culhão de me assumir e ficar comigo como eu desejava. Eu fui usada, feita de trouxa. Ele escolheu outra mesmo depois de ter me provado. Que ego não fica mexido com isso?

Eu não me arrependo tanto por ter abalado as estruturas do meu esquema familiar, sendo bem eufemista, mas me arrependo de ter sido tão idiota, e com certeza aprendi uma lição...

Nossa história começou como chocolate.

Doce, tentadora, irresistível.

Mas o gosto amargo da culpa foi tudo o que permaneceu em minha boca no fim.

Culpa minha por ter sido tão inocente. Culpa por não ter dito não. Culpa por ter me deixado envolver mais do que devia. Culpa por ter ouvido suas palavras doces e venenosas e ter acreditado nelas. E parando pra pensar, elas nem eram tão boas assim...

Agora, quero que imaginem o tamanho da minha surpresa quando alguém bateu em minha porta num belo domingo de manhã.

Rafael.

Em carne, osso e buquê de flores nas mãos.

Eu não podia acreditar.

— O que é isso? — Pergunta assim que abro a porta e ele sorri sem graça.

— Oi.

— O que você quer?

— Quero conversar com você... Posso? — Ele indica a sala com a cabeça e eu suspiro. Mamãe tinha saído para caminhar e era melhor que eu acabasse logo com aquilo antes que ela voltasse, então dei espaço para que ele passasse.

— São pra você — Ele diz e me entrega as lindas rosas amarelas.

— Valeu — Eu as deixo na mesinha de centro e me sento no sofá. Ele faz o mesmo.

— Bela, eu... — Coça a cabeça — Eu quero te pedir perdão... Sei que fui um idiota com você... Mas... Eu te amo e...

Suas palavras me chocam, fazendo reverberar um sentimento estranho dentro de mim. Que diabos. Ele continua:

— Quero ficar com você. Vamos ficar juntos... Agora a gente pode.

— Rafael, olha... Pra começar... Como é que você tá vivo, hein? Você não tinha a dívida lá pra pagar? Não se casou e continua vivo... Achei que não tinha jeito.

— Eu consegui resolver isso... Não foi fácil, viu... E por isso também tive que andar sumido... Eu queria ter vindo antes...

— Aham.

— É sério, Bela — Ele se aproxima de mim no sofá e seu calor me incomoda. Eu sabia que precisava ficar afastada, ou não responderia por meus atos — Tudo o que eu te disse é sério...

Levanto a sobrancelha.

— Fica comigo, por favor... — As últimas palavras saem baixas e ele vem em minha direção para me beijar. Fosse há um mês, e talvez eu tivesse pulado nos braços dele. Entregado-me de corpo e alma... Colocado relacionamento sério no facebook e tudo, provando para todos que nosso amor era verdadeiro...

Mas eu não sou mais tão burra. Afasto-o de mim e me levanto possessa. Eu não ia cair naquela de novo.

— Aham. Agora que você não tem mais opção eu virei uma opção, né? Agora que a Susana te deu um pé e foi embora, então você investe em mim? Agora você me escolhe?

— Bela, você sabe que se eu pudesse...

— Você sempre pôde. SEMPRE PÔDE. A gente sempre pode, Rafael. O problema é quando a gente não quer...

— É claro que não, aquela época estava complicada pra mim.

— É, eu posso imaginar. Você só tá aqui porque não tem mais ninguém pra escolher.

— Eu te amo, Bela!

— Não. É óbvio que você não me ama, você me usou! O tempo todo! Como isso pode ser amor? Se fosse amor... — Respiro fundo — Se fosse amor, você nunca teria escolhido ela...

Ele fica me olhando, tentando encontrar mais desculpas.

— Vai embora...

— Bela, por favor... Eu tô sendo sincero...

— Não. Você não tá. A mentira tá no seu sangue, Rafael. Você nunca amou a mim e nem a ela... Você só ama a si mesmo... Isso é, se é que você tem essa capacidade...

Sua boca entreabre e ele parece sem chão digerindo minhas palavras.

— Agora vai embora antes que minha mãe chegue — Ando decidida até a porta e a mantenho aberta pra ele.

Depois de passado o choque para ele processar que aquilo tudo estava mesmo acontecendo, ele se estica para pegar as rosas.

— Não. Pode deixar elas aí. 

Ele morde os lábios e vem até mim.

— Você entendeu tudo errado.

— Não. Quem entendeu errado foi você. Amor é outra coisa, tá? E eu espero sinceramente que um dia você descubra... – Mantenho-me de cabeça erguida e ele, sabendo que a batalha estava perdida, se vira e sai, olhando para mim assim que alcança o corredor. Quando vejo que ele quer dizer mais alguma coisa, bato a porta e o deixo lá.

Não foi fácil negá-lo. Não foi fácil me manter firme. Nem eu mesma estava acreditando no que tinha feito. Mas há algo de mágico em enfrentar algumas coisas... Eu enfrentei a família que tanto me reprimiu e, de certa forma, aquilo pareceu destruir algumas amarras em mim mesma.

Eu sabia que tinha causado o mal, mas precisei disso. Precisei para evoluir. Precisei para poder fazer o que acabara de fazer. Precisei porque queria que minha voz fosse ouvida... E só quando ela foi, mesmo que tenha dito coisas tão horríveis, eu percebi seu poder. O meu poder.

Eu não precisava do Rafael. Eu não precisava das migalhas do seu "amor" agora que ele não tinha mais pra onde ir. Nunca precisei.

E pra falar a verdade, ele até perdeu um pouco a graça, porque no começo era diferente...

Ele era proibido.

O perfeito proibido...

E agora, já não tinha mais sentido nenhum.

FIM

Perfeito ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora