Capítulo 12 - Caminhos à frente

25 2 0
                                    

O barco balançava sem parar nas ondas. Ao longe, era possível ver a cidade de Foice aparecendo na paisagem, indicando que a viagem do grupo estava próxima do final.

Piedade quase não piscava, observando o Vulcão Tief crescendo em sua visão. Parecia que algo em seu peito estava consumindo sua vontade. Afinal, aquele lugar foi onde ela havia nascido como o ser que era e isso a perseguia até hoje, apesar de não parecer.


- Está tudo bem, Pi? Soou a voz de Sylvaria.


A aventureira se virou, dando de cara com a amada, que lhe oferecia um olhar de preocupação.


- Não é nada. Apenas pensamentos. Aqueles que me atormentam dia e noite. Explicou a sombria. - Mas estou bem, se é isso que te aflige.

Sabe que você é algo que não sai da minha cabeça. Nem tente me dizer que está tudo bem, quando claramente não está!


A aventureira deu uma profunda inspirada enquanto fechava os olhos, tentando se concentrar. Foi quando sentiu, em sua bochecha esquerda, dedos encostarem em sua pele, e uma onda de alívio pareceu percorrer seu corpo.


- Minha amada Piedade, não fique assim. O passado é passado. Não tem por que se prender a isso. Falou a elfa.

- Eu sei, Sylvaria. Eu sei. Mas é tudo tão recente: você, os Planos, voltar para cá. Existem limites para todos, e talvez, o meu esteja se aproximando.

- Pare com isso! Brandou a troca-pele. - Você já passou por tanto, viveu tantas coisas. É uma guerreira, uma heroína, uma mulher incrivelmente forte, bela e decidida em tudo o que faz! Não diga mais tais palavras! Jamais!


Piedade abriu os olhos. Estava paralisada com a fala e com a expressão da amada à sua frente. A elfa fechou os olhos, abrindo um largo sorriso e aproximou sua testa com a da companheira, dizendo:


- Se tem alguém aqui  que deveria estar nesse estado, sou eu! Te contei boa parte do que passei, o que tive que fazer para sobreviver. Sobre minha maldição!

- Por favor, não se perca assim, porque se isso acontecer, serei em quem irá perecer! Não posso viver sem você, Piedade. Não posso sobreviver sem você. Busco minha redenção, não para o mundo, mas para estar ao seu lado! Então por favor, por favor, não caia! Exclamou Sylvaria.


A sombria chorava enquanto observava aquela que era dona de seu coração fazer o pedido mais egoísta e sincero que já viu. Levantou a mão até aos dedos que a tocavam, puxando-os para baixo e entrelaçando com os seus.

Repetindo os gestos que a elfa fez a pouco, avançou calmamente com a cabeça, até estarem encostadas uma na outra.

Piedade abriu os olhos e encarou a marca que partia do lábio inferior da amante até próxima de seu olho esquerdo, cravada em sua pele para sempre. Aquela, uma de suas muitas cicatrizes, eram registros do que a companheira passou e isso estaria preso a ela para sempre, da mesma forma que a história de ambas estava em seu coração.


- Olha, Syl... Eu...

- Não fale! Cortou a troca-peles. E levantando as pálpebras, fitou a sombria à sua frente, aproximando-se calmamente, falando: - Apenas me be...

- Vocês duas estão prontas? Vamos aportar em pouco tempo! Falou uma voz, assustando ambas.


As duas se separaram rapidamente, virando para o lado, a tempo de observar o anuro que as acompanhava encarando-as com seus grandes olhos.


- Ééé... Bufô. Você, poderia, sabe... Dar uma volta? Perguntou a elfa, fazendo um movimento com a cabeça.

- Mas é que estamos quase lá! Explicou o conjurador.

- Está tudo bem, Sylvaria. Ele está certo. Respondeu a aventureira. - Vamos nos preparar!


A sombria então começou a se afastar, indo na direção do centro do barco. O jovem sapo se virou para a outra companheira de viagem, dizendo:


- Bem, eu gostaria de pedir desculpas por te interromper. Sei que as duas estavam, você sabe!

- Não tem problema. Acontece. Acho que ambas ainda estamos nos acertando. Desabafou a elfa. - Mas vem! Vamos lá, Bufô. Temos uma aventura pela frente!

Uma Flor na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora