Capítulo 11 - Verdades

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A porta da cozinha se fechou atrás de Sylvaria enquanto encarava a sombria caminhando para perto da ilha central do ambiente. Haviam decidido conversar a sós depois do que aconteceu no saguão principal da guilda.


- Piedade, por favor, olhe para mim. Pediu a troca-pele.


O silêncio veio como uma resposta afiada, cravando dor no peito da elfa. Tentava pensar em alguma forma de iniciar um diálogo, quando ouviu:


A quanto tempo?

- A quanto tempo o que? Questionou.

- A quanto tempo você colocou na sua cabeça que esconder isso tudo de mim seria o melhor?! Respondeu Piedade, virando para encarar a amada, os olhos vertendo lágrimas.

- Eu...

- Não me interrompa! Disparou a sombria. - Como eu pude ser tão ingênua?! Como? E esse maldito nome! Era um anagrama! Como eu não percebi?!

- Calma, Piedade. Você está naquele estado de  fazer muitas perguntas sem ouvir as respostas de novo! Falou Sylvaria, aproximando-se.

- Como se eu não tivesse esse direito! Berrou a aventureira. - Passei anéis e anéis acumulando tudo dentro de mim, me culpando. Sem um momento de despedida. Sem um último adeus. E você estava como? Andando por aí, se escondendo!

- Acha que eu estou bem com isso tudo? Gritou de volta a elfa. - Eu disse que não me arrependo, mas não quer dizer que sou uma pedra sem sentimentos!

- Já pensou como é ter mil facetas? Ser alguém diferente a cada toque? Consegue imaginar a força que tive que fazer para manter minha mente inteira? Para não perder meus objetivos? Para não te esquecer?


Piedade encarava-a com um olhar de mágoa e dor. Mesmo após a fala encerrada da amada, não conseguia juntar palavras para respondê-la. 


- Pi, eu...

- Não me chame assim! Por favor. Não agora. Pediu a sombria, interrompendo Sylvaria.

- Sabe que não fiz por maldade. Foi necessário!

- Necessidades vão e vem. Mas e o que nós temos? Isso é assim tão fácil de se deixar de lado?

- Você nunca deixou de ser meu ideal! Respondeu a elfa. E conforme se aproximava da amada, dizia: - Minha luz mais brilhante que as luas nas noites de Opath! Agora, neste momento, poder te ver, finalmente, nesta forma, a minha verdadeira forma, é algo ao qual eu mais almejava em todos estes anéis!

- Mas o demônio dentro de mim é uma faceta que ainda preciso entender. Muitas vezes me pego pensando quem é que está no controle. E isso me dá medo, Pi. Medo de perder tudo, de te perder! Completou, parando próxima a aventureira.

- É por isso que foi até o Sangue-Macabro? Tentar se encontrar? Questionou a sombria.

- Bom... É mais complicado, na verdade. Podemos debater isso depois. Agora, quero falar de outra coisa: eu e você!


Piedade encarou a companheira, sem entender.


- Olha, durante minhas andanças por aí, descobri alguns pontos a salvo no continente. Livre de influências políticas ou qualquer coisa assim. Além disso, juntei algumas finanças. E bem, eu não quero mais ficar sozinha neste mundo. Cansei de ser alguém triste e melancólica, que abre mão de tudo que ama em prol dos demais! Disparou a elfa.

Uma Flor na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora