Capítulo 15 - Tempo

15 0 0
                                    


O sol já havia nascido há algumas horas. Parte das crianças corriam pelo grande jardim da frente enquanto outras trabalhavam na horta comunitária.

Piedade caminhava, observando as jovens criaturas e apreciando os momentos de paz que havia conquistado com tanto sacrifício. Os pesadelos, junto a dor do braço fantasma ainda lhe atormentavam, mas sempre que isso acontecia, olhava para sua amada, buscando acalmar seu coração.

Com esse pensamento martelando sua mente, a sombria procurou por Sylvaria, encontrando-a apoiada em uma cerca, que delimitava o pasto das alpacas. Aparentava estar distraída, pois mal percebera que um dos animais mastigava a barra de sua camisa.


- Syl! Gritou a paladina, se aproximando. – Vai deixar o Robert comer toda sua roupa?

- Oi? Como? Respondeu a elfa, voltando a si, e só então, notando o que estava acontecendo com suas vestes. – Desgraça! É a terceira vez que você faz isso!


Enquanto a alpaca era afugentada pela sem corte para longe, Piedade posicionou-se ao lado da amada, vendo a aliança feita por Biso refletir a luz do dia. O vento balançava seus cabelos, agora maiores, e sentia a umidade que ele carregava. Provavelmente, seria uma noite chuvosa.


- O que está lhe afligindo? Não é sobre o incêndio no celeiro, né? Já falei para não se preocupar! Kain vai arranjar dinheiro com o Jack. Comentou a sombria, encostando seu ombro no da parceira.

- Não. Não. Eu já superei isso! Não devia ter tentado me exibir para as crianças. Agora, vou ser chamada de bafo de chamas por uma semana. Resmungou Sylvaria, fazendo bico.


A fala fez com que a paladina desse uma alta gargalhada.


- Na verdade, estava pensando no tempo. Comentou a sem corte, com um olhar vazios, voltando a atenção para as pastagens. – Sofremos por longos períodos e no final, mais alguns anéis nos foram tirados a força para conquistarmos o que temos. 

- Não me entenda mal. Longe de mim reclamar de nossa situação atual, mas a injustiça ainda reina um pouco, dentro do meu peito. Desabafou, em um longo suspiro.

- Sylvaria! Brandou Piedade, séria, dando um passo para trás e a encarando. Sua ação fez com que a amada fizesse o mesmo movimento.

- Os anéis que se passaram, onde ficamos longe uma da outra foram difíceis. Tão difíceis quanto os seguintes, que tivemos de lutar e sacrificar muito para aqui, estar hoje. Mas entenda uma coisa bem simples, meu amor: aquilo, aquele tempo, não foi perdido ou roubado. Mas sim, se tornou uma sala de aula, onde aprendemos o que devemos valorizar. Comentou a sombria, se aproximando novamente e colocando a mão no rosto da elfa.

- Estamos mais velhas, mais sábias, mais maduras, e você realmente ficou gata com esse cabelo curto. Porém, não se esqueça que escolhemos isso, da mesma forma que escolhemos estar uma do lado da outra. E isso, tempo nenhum nos tira! Concluiu, dando um beijo na testa da esposa.

- "Aqueles que lembram, perduram. E o amor, é a verdadeira lembrança." Falou Sylvaria, colocando os dedos sobre os de Piedade. – Oriana tinha razão. Não havia um dia em que eu não me lembrava de você, Pi. E hoje, não há um dia que eu não me lembre de como sou a criatura mais feliz por escolher estar com você!


A sem corte puxou a sombria para perto, lhe abraçando, e sentindo o aperto do braço da amada, em retribuição.

E por ali, as duas ficaram por um tempo, apenas sentindo a brisa calma balançar a grama, enquanto as alpacas se alimentavam pelas colinas esverdeadas. O som das crianças correndo, do pequeno riacho de águas gélidas, até mesmo os vizinhos barulhentos. Nada disso parecia quebrar aquele momento, aquele tempo, que ambas sabiam, que era apenas delas.


~ FIM ~

Uma Flor na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora