Capítulo 10 - Novas visões

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Alvys olhava para suas mãos naquela forma. Quando assumiu um disfarce de elfa da corte do inverno, não imaginou que ficaria tão fiel ao legado. Porém, mais que isso, sequer pensou que aquela imagem afetaria Piedade da forma que aconteceu a pouco.


- Calma. Ela pode ter ficado nervosa por algum outro motivo. Não acho que seja pelo que falou mais cedo. Comentou Nadja, consolando a amiga.

- Ah, sim. Bem, acho que vou me desculpar novamente, só por garantia. Comentou a petalin, distraída. Havia esquecido totalmente que conversava com a amiga sobre a discussão mais cedo com o grupo.


Caminhou para o outro lado da sala, onde a sombria parecia descontar sua raiva sobre Kain que se encolhia cada vez mais contra a parede.


- Piedade? Podemos conversar? Falou Alvys.


O corpo da sombria ficou paralisado por alguns instantes. Em seguida, começou a girar vagarosamente, até ficarem frente a frente. As duas trocavam olhares rápidos, o que chamou a atenção do colega sem corte. Mas antes que conseguisse dizer qualquer coisa, Jack apareceu entre o grupo, e com um rosto estampando um sorriso sádico, falou:


- Bom, agora que estamos todos conversados, vou emprestar este elfo gostoso aqui por alguns minutos. Temos certas contas a acertar, não é, Kain?


O aventureiro engoliu em seco, dizendo:


- É. Vamos.


Puxado pelo dono da casa que agarrou um de seus braços, ambos caminharam para o canto mais extremo à esquerda, deixando as duas companheiras de viagem para trás, paradas. Piedade limpou a garganta, e perguntou, com a voz tremendo:


- S-Sim?

- Queria me desculpar pelo que falei mais cedo. Sei que se sentiu mal com o lance, sabe, de dar um fim em alguns elfos. Não era minha intenção te atingir com isso! Explicou.

- Eu... Eu entendo. Como comentei, não posso impor meus princípios sobre os outros. Saiba que a respeito, independente de suas escolhas. Comentou a aventureira, sem manter o olhar fixo por muito tempo.

- Agradeço à você, por todas estas e as demais palavras que trocamos durante nosso caminho juntas. Quero deixar claro que me ajudou muito ter você comigo esse tempo! Disse a petalin, abrindo um sorriso.


Foi quando notou que Piedade começou a ficar cada vez mais vermelha e nervosa. O pânico de ter dito algo errado novamente começou a tomar conta de Alvys, que em um impulso, agarrou os braços da amiga a frente, dizendo:


- O que foi? Está tudo bem?

- Sim, sim. É só que... Essa sua forma... Eu... Me sinto um pouco...Desconfortável. Não me entenda mal. Não é você. Sou eu! Desculpe... É só...


Alvys pensou: "tem algo com esse disfarce que está a afetando. Algo com elfos!" . No mesmo instante, uma tristeza atingiu seu peito, percebendo que a amiga ficava mais abalada por aquela forma falsa do que por quem era de verdade, e por algum motivo, aquilo a deixou incomodada.


 Reunindo forças, a petalin falou:


- Tudo bem. Não se preocupe! Vou me virar de costas e podemos continuar conversando! O que acha? E soltando a aventureira, girou no lugar.


Porém, antes que ambas pudessem retornar o diálogo, passos pesados na madeira que compunha o assoalho ecoaram pela sala. Quando direcionaram a atenção para a origem do som, Kain passou, bufando, e saiu irritado, batendo a porta ao atravessar para outro cômodo.


- O que foi isso? Questionou Nadja, se aproximando dos demais.

- Acho que ele não gostou do que falei. Comentou Jack.

- E sobre o que seria? Perguntou Alvys. - Se não for intromissão da minha parte, é claro.

- Nada demais. Puxei alguns assuntos e aproveitei o momento a sós para lhe dar uma cantada. Tentei usar a do "sabe o fósforo?", mas ele não quis me beijar no final. Vou ter que tentar medidas mais drásticas depois. Explicou o alfaiate, dando de ombros. - Mas não me use como exemplo, flor gigante. Dizem que essa costuma funcionar bem!

- Se eu puder te dar um conselho, como amiga, não o escute! Comentou Nadja, balançando a cabeça.

- Bom, acho que podemos ir então? Temos muito a fazer! Propôs Piedade, chamando a atenção de todos, tentando mudar o assunto.


E sem nenhuma objeção, o grupo saiu da sala de estar em direção às ruas, buscando executar as tarefas que cada um deveria cumprir.

Uma Flor na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora