Contos para se enfeitiçar: porque a magia vive em nós

Wenfy e os dois sóis

Sinopse

Wenfy fartou-se. Ficou careca de saber a respeito das histórias de fantasia que correm, serpenteia o mundo humano. Os protagonistas sempre são femininos; orelhas pontudas, minivestidos feitos de coisas encontradas ao solo por elas.

Não é que suas características não sejam as mesmas que as delas. Contudo, Wenfy quer
que os livros infantis contem o seu ato heroico! Quer que os seus feitos atinjam os
humanos. Pode ser até um velhinho sentado no banco da Praça Treeluff escutando a leitura em voz alta de uma moça indo para a faculdade na primeira página do livro, tomando um belo susto ao se deparar com um desenho de Wenfy. Hipoteticamente.

Entre fadas correm paixões, é claro. Aí está mais um ponto a não diferir-se das demais.
Wenfy quer salvar a paixão por si mesmo. Paixão esta que roubada fora por um dos corvos malignos de Allantis, pertencentes ao bruxo Bennoch, o ainda mais vil conhecido pelas redondezas de Lighmonfairy, morada de Wenfy.

Poderá você um dia olhar para si mesmo com amor e ser corajoso como este ser feérico?

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Conto:
Ana Carlota é caloura da faculdade de Letras na cidade de Balmonville. Queria sentir-se
preparadíssima àquela manhã de começo de semana. Ela já terminara o ensino médio;
incerta até uns meses atrás, quando ainda estava na escola, sentia-se incerta sobre qual caminho seguir depois dali. Súbito, despertou nela a vontade de desbravar e jogar-se em meio à floresta de encanto das letras.

Embrenhara-se nesta desde os treze. Ninguém jamais lhe impulsionara a isto senão o menino que lhe sorria do fundo da sala às segundas-feiras. Entrementes os dois nunca nada tiveram. Não volte seus olhos para essa dupla. Apenas foque sua atenção em Ana Carlota, imaginando ainda neste parágrafo que a mesma anda pela Praça Treeluff com os próprios olhos voltados para um livro que comprara mesmo ontem, não resistindo à tentação de levá-lo consigo para a faculdade e lhe servir de uma espécie de trevo da sorte contendo apenas 215 páginas. Não desvia olhar deste sequer por um instante. Nada sendo capaz de prendê-la tanto quanto um livro de fantasia despretensioso tão a ponto de fazê-la identificar-se de imensurável forma com Wenfy — personagem principal da trama. Tão somente com alta expectativa e imersão, lê o topo do capítulo I, que descreve ainda em poucas e esmaecidas palavras:

“Wenfy Volvin não acorda como sempre. Lá fora chove torrencialmente e o contorno
brilhoso, habitual está posto, espalhado pela cama feita de folhagens e galhos distorcidos
de forma muitíssimo melancólica em torno dele. A aura de Wenfy acorda quando ele ergue a fronte sonolenta e deveras esmagada pela noite mal dormida; meio infeliz, mais sem vontade de lhe acompanhar pelas estradinhas de terra estreita que contornam e desenham a forma de Lighmonfairy, mais um dos outros tantos reinos habitados pelas fadas da espécie única encontrada por ali...” — não é que Ana Carlota esteja recitando um poema ou coisa que pareça. Ao ler em voz alta, lhe parece percorrer internamente um desejo com um segundo parágrafo:

— Pelo traseiro do vagalume! Como, depois de tanto tempo torno a sentir-me assim? Até ontem eu estava ótimo... — a cabeça de Wenfy parece não querer sustentar no pescoço assim que ele a levanta a fim de olhar ao redor de onde dorme; sua fronte parece pesar e ele a volta como se pesasse como chumbo ao travesseiro. — Será hoje um bom dia para levantar? — volta seu olhar para a janela. Estreita seus olhos grandes e repuxados para tentar enxergar através desta. — Hmmm. Parece que choveu ontem e nem cheguei a ver. Está tudo tão baço lá fora...

Um velhinho, sentado no banco da praça observa Ana Carlota com as suas feições
rugosas relaxadas, lhe lança um sorriso que ela não viu, totalmente tomado por encanto de ver alguém de tão pouca idade com um amigo de papel.