A noite sem fim

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Era uma vez, há muito tempo atrás, um reino chamado Savalah, era uma terra próspera e cheia de beleza. Haviam duas princesas, Freesia, a filha mais velha do rei, sua pele tinha o brilho do cobre, e seus olhos eram verdes como a relva pela manhã. Já a filha mais nova se chamava Viola, seus olhos eram pretos como o carvão das minas do Norte, e sua pele branca como o leite.

Todos amavam o Rei e sua filha mais velha, que um dia seria a rainha de Savalah, mas nem todos gostavam de Viola, ela era considerada ranzinza e mandona. Viola não gostava de ver sua irmã ganhando todo o amor do povo do reino, ela queria que a idolatrassem igualmente, que sentissem inveja da sua beleza e a respeitassem. Ela queria receber a atenção de todos.

Um dia, após o festival de primavera, quando Freesia foi coroada a menina mais bonita do reino, Viola correu para o Lago dos Lamentos, e chorou durante horas, enquanto o reino dormia. Não suportava mais ficar sempre em segundo lugar, não importava se tinha o vestido mais bonito e a coroa com mais joias, Freesia sempre era mais admirada.

Viola encarou o reflexo da lua no lago, e desejou ser como a Lua, sua eterna companheira que sempre a assistia enquanto se debulhava em lágrimas por ser a segunda em tudo. A Lua era bonita, brilhava no céu todas as noites, chamando a atenção de todos, nem mesmo as estrelas se comparavam a sua beleza. Se ela fosse como a Lua, ninguém jamais ousaria olhar para sua irmã. Mas como a Lua ela não podia ser, pois para causar inveja precisava ser reconhecida por todos.

Então, ignorando a própria razão, Viola espetou o dedo com o alfinete de seu broche de “a segunda mais bonita”, e jogou uma gota de sangue no Lago dos Lamentos, pedindo para que as Fadas da Água, lhe dessem a Lua de presente. Assim, todos os cidadãos de Savalah olhariam para ela com admiração, e nunca mais ousariam olhar na direção de sua irmã.

As Fadas da Água escutaram o pedido de Viola, mas não poderiam trazer a Lua para o reino, pois ela era grande demais e mortalmente gélida, acabaria ceifando a vida de todas as pessoas caso descesse do céu. Com pena da princesa mais nova, as fadas decidiram mudar o pedido, e transforaram a Lua em um belo rapaz, o mais lindo de todos. Sua pele era escura e brilhante como a pedra de Ônix, seus olhos eram lilases como as Hortênsias que cresciam nos montes, e seus cabelos prateados como um dia a Lua fora.

Viola esperou que seu presente emergisse da água, então ele surgiu do reflexo que um dia foi a lua. O rapaz mais lindo do mundo com água ainda escorrendo pelas vestes brancas, Viola sabia que agora ela tinha a coisa mais linda do mundo em mãos, e ninguém ousaria olhar para sua irmã. Lua, o presente vindo direto do céu, apaixonou-se imediatamente por Viola e jurou nunca mais sair do lado dela, pois seu amor era maior do que a vontade de brilhar no céu.

A manhã chegou, mas o sol não nasceu, como a lua havia sumido do céu, os raios solares não sabiam que horas deveriam brilhar. E a escuridão predominou sobre Savalah em uma noite sem fim, na qual ninguém conseguia mais enxergar as belezas do lindo reino.

Viola estava ansiosa para mostrar seu perfeito namorado ao reino, mas ninguém podia vê-lo por causa da escuridão. A beleza dele de nada adiantava se eles não pudessem contemplá-lo.

As fadas contaram ao povo o que Viola pedira e todos passaram a odiá-la e a amar a Freesia ainda mais, pois a irmã mais velha e futura rainha, jamais lançaria a escuridão eterna sobre Savalah.

Depois de muito chorar e ser consolada pelo garoto lua. Viola pediu ao lindo namorado que brilhasse no céu e iluminasse Savalah uma outra vez, mas ele estava apaixonado demais para deixá-la, e disse a ela que não se importava com a escuridão eterna, desde que estivesse sempre por perto da sua amada. Viola decidiu então que não ligava para o ódio das pessoas que nunca a amaram como ela era, agora tinha alguém que a idolatrava mesmo contra a razão e o bom senso. Então, Viola percebeu que poderia enfrentar a noite sem fim para sempre, pois para o seu garoto lua, ela estava em primeiro lugar.

Por: Fany Facchini

Contos para se enfeitiçar: porque a magia vive em nósOnde histórias criam vida. Descubra agora