Tudo tem que começar em algum lugar, em alguma dor ou em alguma esperança, mas a história desses dois não teve uma linha de início traçada e provavelmente nem eles mesmo sabem como tudo começou. Talvez tenha começado naquele primeiro jogo, mas é impossível de se dizer com certeza.
Não é fácil se lembrar de um passado que machuca, uma vez que as cicatrizes sempre vão estar lá, não importa se faz muito tempo ou se aquilo foi ou não superado. Para Kageyama, lembrar dos tempos sem Hinata em sua vida o deixava levemente entristecido, mas ao mesmo tempo com uma sensação confortante de que, no fim, tudo se acertou.
Para o moreno era impossível lembrar de um momento em que não estava com uma bola de vôlei em mãos; desde bebê, antes mesmo de entender o que era o esporte, já possuía tal objeto ao seu lado. Chegava a ser engraçado tentar remover a bola do pequeno Kageyama, pois este chorava desconsolado e só se acalmava com o objeto em mãos novamente.
Quando cresceu, encontrou-se verdadeiramente apaixonado pelo vôlei. Com toda a inocência e pureza de uma criança, Kageyama já possuía a certeza de que aquilo era o que queria para sua vida, não importava as barreiras que surgissem, sabia que faria de tudo para poder ficar em quadra, daria tudo de si, pois desde cedo sua alma estava no esporte.
Já mais velho entrou no clube de vôlei da escola e cada partícula de seu ser ansiava por poder jogar uma partida, onde se entregava por completo, assim como em cada treinamento.
No fundamental fora taxado de gênio, mas ninguém enxergava seu esforço ou percebia o que Kageyama sofria em decorrência de sua dedicação. Por conta de sua personalidade fora nomeado o Rei da Quadra, mas este não era um apelido bom, muito pelo contrário, o apelido era decorrente de sua forma autoritária para com os colegas e pelo egoísmo em quadra.
Seria realmente egoísmo?
Kageyama fazia as melhores jogadas, se empenhava para fazer os melhores passes, dava seu sangue em todos os treinos, era pedir demais para que seus companheiros se doassem igualmente?
Era egoísmo querer que os outros se esforçassem tanto quanto ele? Para Kageyama não era, na realidade não conseguia entender. Mas, se alguém olhasse por fora veria que era impossível para quem estava no time, acompanhar Kageyama.
Ele era a mistura de uma paixão ardente pelo esporte combinado com as habilidades do talento nato de um gênio e a capacidade física de uma máquina, não sabia jogar em equipe.
Como levantador ele era o maestro daquela quadra e os outros jogadores deveriam tocar conforme ele regesse, em seu ritmo. Mas, não possuía amigos, muito menos colegas de equipe, era completamente sozinho e se movia simplesmente em função do vôlei.
A realidade é que não se lembrava quanto tempo tinha que havia se tornado apenas um espectador, era como se estivesse observando as pessoas ao seu redor seguirem com suas vidas enquanto ele se movia apenas por inercia.
Estava em um limbo em um estado entorpecido, onde apenas deixava as coisas acontecerem, sendo o esporte a única coisa capaz de lhe tirar desse estado de torpor, pois quando estava em quadra era quando se sentia realmente vivo.
Sua vida era uma grande tela cinza, não podia nem mesmo ser definida como uma tela preto e branca, pois o branco estava sujo e não havia força no preto. A sensação de vazio passava a impressão de que este era grande demais para ser preenchido, tudo parecia vago, não tinha rumo e estava perdido em si mesmo.
Só quem passou por um período semelhante conhece a agonizante dor da calmaria antes da tempestade, onde nunca se sabe o que vai acontecer, mas tem a certeza de algo ruim está por vir. Kageyama tinha a certeza de que algo o esperava no final da esquina, vindo em sua direção com a velocidade máxima e que quando chegasse faria um estrago massivo em si, restava apenas esperar preso naquele silencio mortal de antecipação.
Em um jogo de eliminatórias Kageyama enfrentou Hinata pela primeira vez, não gravou seu rosto e muito menos veio a se lembrar dele imediatamente, mas a determinação e os instintos do pequeno jogador foram o suficiente para fazer o pequeno ruivo ter uma presença marcante. Mesmo pequeno ele era um adversário digno, que não desistiu até o ultimo ponto ser marcado.
Onde caralhos esse garoto havia passado os últimos três anos de sua vida?
Por que aquele talento que parecia tão grande aparentava estar sendo tão fortemente desperdiçado? Foi ali que Kageyama reconheceu o talento de outra máquina, alguém que talvez tivesse o potencial de lhe acompanhar. Embora aquele tenha sido o primeiro encontro dos dois e uma marca tenha sido deixada, o moreno continuava à deriva.
Foi em um jogo fatídico que a tempestade finalmente chegou e aumentou ainda mais as rachaduras provenientes dos trincados que já existiam.
No jogo em questão, seu time não conseguia mais acompanhar seus movimentos, suas exigências eram demais para serem acatadas, o rei governava apenas para si mesmo, esquecendo-se do que um time deveria ser.
Foi assim que todos os seus companheiros de time viraram as costas para si, recusavam a se deixarem serem regidos daquela forma e embora Kageyama fosse o melhor levantador, se viu sentado no banco, substituído e incapaz de voltar a jogar.
Havia perdido seu time e não poderia mais voltar para quadra quando tudo o que mais queria era estar lá. Já não o aceitavam mais como levantador, já não o aceitavam mais como companheiro.
A dor se atenuou depois de outro episódio, não fora aceito no colegial onde tanto queria entrar, naquele em que seu falecido avô havia jogado há tantos anos. Queria ter sido capaz de honrar o mesmo, seguir os passos daquele que tanto o inspirava a jogar.
Seu sonho lhe fora negado por seu jeito de jogar e a prestigiada escola não queria um rei egoísta entre seus jogadores. Nesse ponto da história sentia que uma volta era difícil, mesmo assim não desistiu e buscou abrigo na Karasuno, correndo para os corvos, pois o treinador que lá trabalhava era alguém com quem valia a pena treinar.
Sua chegada foi caótica, aquele tampinha das eliminatórias estava lá também e como se houvesse uma força magnética os puxando, eles colidiram. Foi necessário se provarem para poderem entrar no time após tudo que aconteceu, mas foi ali no primeiro levantamento, que Kageyama tentou a jogada arriscada que já havia o custado tanto, mas desta vez lhe rendeu alguém que finalmente conseguiu lhe acompanhar, Hinata estava ali.
Finalmente Kageyama encontrou um time que iria lhe ensinar com o tempo qual era o real significado de trabalho em equipe.
Com aquele sentimento de pertencimento dentro de si, Kageyama não estava mais à deriva, havia achado o seu lugar, o cinza lentamente começou a se desfazer, tornando a tela antes cinza, em uma preto e branco pronta para ser colorida.
O universo não faz nada ao acaso e os dois não sabiam ainda, mas para o desenho em preto e branco que era Kageyama, existia a paleta de cores que era Hinata.
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The Rainbow In Us
FanfictionChegava a ser engraçado como mesmo após décadas Hinata mexia com as batidas do coração do moreno. Imerso na beleza das luzes coloridas do presente que ganhara do ruivo, Kageyama redescobre o arco íris.